André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Coloca-se atualmente à União Europeia (UE) e à Europa em geral, uma questão crucial face às mudanças profundas que se estão a operar a nível geopolítico, económico e tecnológico: estará a UE em condições de se posicionar competitivamente face à crescente polarização mundial em torno da rivalidade sino-americana, centrada na crise do coronavírus e, mais tarde, pela guerra na Ucrânia? Vejamos os fatores de contexto que se estão a alterar.

Primeiro, os pressupostos básicos em que se tem baseado o poder económico e comercial da UE estão a ser postos em causa. Desde logo, porque os seus principais parceiros comerciais, os EUA e a China, estão cada vez mais focados na proteção das suas cadeias de abastecimento, o que pode conduzir a fricções e a uma possível separação, em razão da instabilidade geopolítica. Segundo, o multilateralismo e os princípios do comércio internacional estão mais frágeis devido ao enfraquecimento das instituições internacionais e às práticas de mercado assimétricas, nomeadamente políticas comerciais mais protecionistas, em que a liderança tecnológica será determinante na luta pela liderança global.

De facto, face à crescente polarização mundial em torno da rivalidade sino-americana, centrada na crise do coronavírus e, mais tarde, pela invasão russa da Ucrânia, os países que são dominantes no mundo atual, estão empenhados em tornar as suas cadeias de abastecimento mais resilientes a potenciais perturbações. E, estão também a impulsionar a sua produção para manter a dinâmica competitiva na concorrência global que se iniciou em setores e tecnologias que moldarão o futuro. Baseada principalmente na abertura económica, e não sendo um sujeito geopolítico de primeira ordem, como o são os EUA e a China, a UE está relativamente mal apetrechada para responder a estes desenvolvimentos.

Consciente disso, procura implementar o conceito de autonomia estratégica, que combina estímulos à produção nacional, por via da construção de capacidades estratégicas de produção para se posicionar nas próximas tecnologias inovadoras e disruptivas da corrida à liderança, com a acumulação de bens essenciais e a diversificação de cadeias de abastecimento e mercados de exportação. Além disso, procura proteger-se de investimentos mal-intencionados no mercado interno, protegendo também as suas empresas no estrangeiro.

Também fomenta parcerias com países de confiança em matéria de segurança económica. Devido a uma pluralidade de atores com várias competências, muitas vezes atuando sob a forma silos, a UE parece estruturalmente mais fraca do que os seus principais parceiros comerciais, a China e os EUA. Deste modo, as próximas tarefas afiguram-se ainda mais desafiantes. Um dos desafios mais marcantes confronta as várias empresas da UE e diz respeito à China.

Esta pretende declaradamente alcançar a liderança tecnológica e industrial até 2049, estando disposta a recorrer a práticas que atendam a uma aplicação seletiva de regras internacionais no que diz respeito ao comércio e investimento internacionais, bem como regras de acesso a mercados. Para enfrentar este e outros desafios globais, a UE e, acima de tudo, a Alemanha e a França, como principais locomotivas, precisam de alterar mentalidades, e fomentar a cooperação económica, política e estratégica entre todos os Estados-membros da UE.