Candidato à Câmara Municipal de Loulé pelo PS
Telmo Pinto é o candidato do PS à Câmara Municipal de Loulé, nas próximas autárquicas de 2025. Tem 54 anos, é casado e pai de três filhos. O candidato socialista é também empresário e tem um passado ligado ao desporto, tendo sido jogador profissional de futebol até aos 36 anos.
Engenheiro Civil, é Presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, lugar que ocupa desde 2013, ou seja, há quase 12 anos.
A Voz do Algarve– Telmo Pinto, que balanço faz, destes 11 anos e meio à frente dos destinos da maior Freguesia do Concelho?
Telmo Pinto – Faço um balanço muito positivo. É importante que as pessoas compreendam o que é, de facto, uma Junta de Freguesia. Costumo dizer que a Junta de Freguesia de Quarteira atingiu um patamar que lhe permite ser considerada uma pequena Câmara Municipal.
Isto está diretamente relacionado com a legislação e com as competências que nos foram atribuídas. A nossa Junta de Freguesia é uma das cinco ou seis maiores do Algarve, entre as cerca de 65 Juntas de Freguesia da região. Hoje, entre as mais de 3.200 Juntas de Freguesia existentes em todo o país, a Junta de Quarteira está entre as dez primeiras em termos de capacidade de execução ao serviço das pessoas.
Para simplificar aquilo que foi o nosso objetivo: quando iniciámos funções, a Junta fazia cerca de 5 a 6 mil atendimentos por ano. Neste momento, fazemos cerca de 60 mil. Isto demonstra claramente que conseguimos prestar mais e melhores serviços de proximidade à comunidade, dando resposta eficaz às necessidades da população.
Portanto, é com grande orgulho que olho para o trabalho desenvolvido na Junta de Freguesia de Quarteira.
V.A. – Que balanço faz dos três mandatos de Vítor Aleixo à frente dos destinos do Concelho?
T.P. – Há algo que me marcou recentemente, subi as escadas do edifício da Câmara e olhei para aqueles nomes todos que lá estão gravados. E eu, enquanto candidato à presidência da Câmara Municipal de Loulé, tenho um enorme respeito por todos eles. Respeito por todos os que estiveram à frente dos destinos de Loulé.
Quando falamos com orgulho do Concelho de Loulé, do que ele é hoje, da referência que se tornou a nível nacional e internacional, é porque alguém trabalhou para que isso acontecesse. E eu acredito sempre que há duas formas de olhar para as coisas: o copo meio cheio e o copo meio vazio. E onde é que eu quero focar-me? No copo meio cheio.
Quero olhar para estes três mandatos – tanto o trabalho que fiz na Junta de Freguesia, que me deu esta experiência, como o trabalho do Vítor Aleixo – e perceber as necessidades. O que era necessário em 2013, em 2017 ou em 2021? E o que é necessário hoje? É isso que me move: identificar onde devo redirecionar o foco, onde é preciso agir.
Quero aproveitar tudo o que foi bem feito nestes três mandatos e a partir daí, construir o futuro que eu imagino e que acredito que o Concelho precisa. Portanto, olho para este percurso de forma positiva. Quero valorizar o que foi bem feito, dar-lhe continuidade, reforçar com uma nova energia — e é isso que trago comigo: uma nova energia — para também concretizar o que hoje é essencial para o Concelho.
V.A. – No embalo da sua resposta, diga-nos, a nível pessoal e profissional, o que o motiva a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Loulé?
T.P. – O que me motiva é o “fazer acontecer”. Há duas palavras que me definem: compromisso e concretização. Quando assumo um compromisso com as pessoas, não consigo voltar atrás. Dou-vos um exemplo simples: fui eleito em 2013 e assumi a responsabilidade de liderar a Junta de Freguesia de Quarteira. Em 2017, o Vítor Aleixo convidou-me para integrar a equipa da Câmara Municipal de Loulé. Mesmo sabendo que, na Câmara, poderia ter mais capacidade de ação, decidi não aceitar o convite. O motivo? Eu tinha um compromisso com os fregueses de Quarteira. Podiam dizer-me: “O compromisso era só para quatro anos.” Mas para mim, compromisso é algo que vai além disso. Quando as pessoas confiam em nós, esperam lealdade e dedicação até ao fim.
Essa é uma das razões que me motiva. A outra tem a ver com a minha natureza de “fazedor”, como se diz em inglês. Sou alguém que precisa de agir, de concretizar. Isso dá-me energia. Gosto de ver as coisas a acontecer e de transformar ideias em realidade. O que me move no meu dia-a-dia é justamente isso: ver resultados concretos, ver o impacto real do nosso trabalho.
Foi esse espírito que me fez perceber que queria dar o próximo passo e chegar à Câmara Municipal de Loulé. Nunca escondi essa intenção. Disse-o a todos: ao Vítor Aleixo, aos responsáveis do partido, a todos. A minha candidatura não é uma crítica ao trabalho feito até agora, mas sim uma afirmação da nova dinâmica que quero imprimir. Em termos de equipa, apenas um vereador da equipa atual continuará. Porquê? Porque acredito que é necessária uma nova energia, associada ao conhecimento já adquirido. E, mais do que isso, é essencial que haja confiança no líder e na equipa.
Quando falo em líderes, refiro-me à equipa da Câmara, incluindo o Presidente. O meu objetivo é construir uma equipa coesa, que reflita a verdadeira estrutura da Câmara. Porque, ao contrário do que muitos pensam, nada se faz sem a base que já existe. O meu desafio será tirar o melhor partido dessa estrutura e garantir que todos tenham as melhores condições para trabalhar em conjunto.
Quero que as pessoas vejam, desde a base até ao topo, uma equipa alinhada, que fala a mesma linguagem e que entende o que está a acontecer. Uma equipa que integra o pensamento de toda a estrutura municipal. E, claro, tenho referências. Apreciei muito o trabalho de Joaquim Vairinhos, Seruca Emídio e Vítor Aleixo. Todos foram Presidentes da Câmara enquanto eu jogava futebol no Louletano, e tenho uma boa relação com todos eles.
Hoje, aos 54 anos, sinto que este é o meu momento. Vairinhos foi Presidente aos 45 anos, Seruca Emídio aos 46 e Vítor Aleixo teve dois momentos: aos 43 e aos 55. Acredito que agora é a minha vez de avançar. Quero dar continuidade aos bons projetos que foram iniciados e, ao mesmo tempo, trazer uma nova energia para concretizar o que ainda está por fazer.
V.A. – Porquê a escolha do slogan Nova Energia? A energia anterior já estava desgastada?

T.P. – Não, não se trata disso. Repare numa coisa: se o João Romão, que é o candidato à Junta de Freguesia de Quarteira, disser “vou trazer uma nova energia”, isso é importante, e eu acho que deve mesmo acontecer.
Esta questão dos 12 anos... podemos discutir se deviam ser seis, mais seis... Mas o essencial é isto: é saudável haver renovação. Às vezes, precisamos sair do lugar onde estamos para conseguir ver as coisas com outra perspetiva, com mais clareza.
Gosto muito de viajar. Há pouco tempo estive em Berlim e tive ideias fabulosas. Não temos de inventar tudo do zero. Essa é, aliás, a parte mais interessante: muitas coisas já estão inventadas — o que precisamos é de conhecê-las, adaptá-las e melhorá-las.
A Nova Energia está relacionada com isso. É sobre trazer uma visão nova, ideias renovadas, com base no conhecimento e na experiência. E quem me conhece — até mesmo desde pequeno — sabe da irreverência que coloco em tudo o que faço, da energia que dedico aos compromissos que assumo.
Por isso, fez todo o sentido dizer: “Agora é uma Nova Energia.” Independentemente da energia que veio antes — tenha sido positiva ou não —, a que vem a seguir tem, inevitavelmente, de ser nova. E essa é a energia que quero trazer.
V.A. – Para si, quais são os maiores problemas que o Concelho enfrenta e como pensa resolvê-los?
T.P. – O concelho, como já referi, tem muitas situações positivas e interessantes que foram concretizadas. A prova disso é que somos hoje um destino de excelência. O Concelho de Loulé é um motivo de orgulho para todos nós.
Basta ver a forma como olham para o nosso território. Mas há algo que é importante perceber. Os números — e são números reais — mostram que Loulé, nos últimos 12 anos, cresceu em contraciclo com o resto do país em termos de população. E se olharmos com atenção, vemos que no Algarve é essencial atrair mais população. Precisamos de gente.
Por isso, temos de ter uma perspetiva clara, não só sobre o que precisamos, mas também sobre o que queremos para o concelho. E há necessidades que foram surgindo.
Dou o exemplo da educação. Temos de acabar com os contentores — peço desculpa, falo assim porque sou engenheiro civil. Precisamos de mais escolas, com resposta de proximidade. As pessoas têm de sentir que, perto da sua zona de residência, conseguem colocar os filhos numa creche ou numa pré-escola.
E é preciso acabar com as chamadas “zonas cinzentas”, que muitos desconhecem. Entre 15 de setembro e 15 de dezembro, há uma margem em que muitas crianças ficam de fora. Isso não pode continuar a acontecer.
Temos de garantir uma resposta de qualidade e de proximidade. Esse é um passo essencial. Estar próximo da comunidade escolar — e quando falo em comunidade escolar, refiro-me aos pais, aos assistentes operacionais, aos professores — é onde devemos concentrar muita da nossa energia, para que as escolas funcionem bem.
Já foram feitas grandes apostas. Por exemplo, quando cheguei à Junta de Freguesia, a alimentação nas escolas era assegurada por uma empresa externa. As refeições eram transportadas em carrinhas. Hoje em dia, são preparadas em cozinhas próprias, com outras condições.
Também há mais transportes, que aproximam o interior do litoral. São medidas importantes. Mas agora temos de dar o próximo passo: criar novos equipamentos e entender as novas realidades.
Não sei se todos têm noção, mas atualmente, quando entramos numa sala de aula, não encontramos um ou dois, mas três alunos, por vezes mais, com necessidades educativas especiais. É uma realidade nova à qual temos de nos adaptar.
E já que estou a falar de educação, aproveito para dizer que o concelho tem três grandes centros turísticos e uma comunidade residente que procura uma educação diferenciada — não necessariamente melhor em qualidade, porque a nossa rede pública tem qualidade, e temos de continuar a exigir ainda mais dessa qualidade —, mas uma educação com diferenciação.
Temos de reconhecer que em Loulé existem agrupamentos escolares com quase 60 nacionalidades diferentes. Isso gera uma procura por modelos de ensino que, muitas vezes, incluem o inglês como língua principal, como acontece no Colégio Internacional de Vilamoura ou em zonas como Vale do Lobo.
Temos de olhar para isso não como uma ameaça, mas como uma oportunidade. É também um investimento no concelho. Atrai pessoas para viver aqui, para investir aqui, e isso é fundamental para o nosso futuro.
V.A. – Mas está a dizer que vai construir mais escolas e pré-escolares?
T.P. – Temos de construir mais escolas e mais pré-escolares, sim. Há uma necessidade real nesse sentido. Para além disso, devemos continuar a melhorar a proximidade com a comunidade escolar, como já referi anteriormente.
Outra área que considero fundamental são os equipamentos sociais. A Câmara Municipal tem feito um bom trabalho junto das famílias, através de apoios sociais, mas precisamos de investir muito mais em infraestruturas.
Temos, por exemplo, um projeto muito interessante em Quarteira, do qual me orgulho bastante, que já é uma referência a nível nacional. É, aliás, considerado o melhor projeto que se chamava “Envelhecimento Ativo”, mas nós mudámos o nome para “Longevidade com Qualidade”. A ideia é precisamente essa: retirar o foco do envelhecimento e valorizar a qualidade de vida. Só numa junta de freguesia, conseguimos movimentar entre 700 a 1.000 pessoas por mês, que são estimuladas tanto mental como fisicamente.
Há casos de pessoas que chegaram com depressões profundas e que hoje dão aulas. Temos 50 módulos onde os próprios participantes partilham os seus conhecimentos: workshops, teatro sénior, danças séniores... Isto mostra que temos de olhar para esta fase da vida com outra atenção, antes de pensarmos em lares ou em apoios no fim da vida. É aqui, neste princípio, que conseguimos minimizar os impactos negativos do futuro.
Neste caminho, precisamos de apoios domiciliários, de centros de dia e de centros de noite — que para mim são uma bandeira fundamental e que já existem noutros locais. Dou um exemplo pessoal: tenho um amigo Presidente, não digo o nome por respeito à privacidade, cujo pai está num lar. E ele dizia-me: “O pânico da noite é terrível.” Os filhos têm as suas famílias, as suas casas, os filhos adolescentes, com 22, 20 e 14 anos... Sabemos o tempo que isso consome. Muitas vezes, não têm tempo para os pais.
Seria essencial que pudessem fazer a sua vida durante o dia e, à noite, levar os pais para um centro de noite. Essa solução dá-lhes tranquilidade e aos pais o apoio que necessitam.
Outro ponto importante. Recentemente, falei com o Dário, da Associação Existir, e ele disse-me algo muito relevante: “Já reparaste que os miúdos com deficiência crescem e se tornam adultos, mas os seus cuidadores continuam a ser os pais, cada vez mais velhos?”
Onde é que estes jovens vão parar? Ele dizia-me que devíamos começar a pensar em ERPI (Estrutura Residencial Para Idosos) adaptadas a adultos com deficiência, para que tenham uma resposta adequada. E isto é real. Temos de olhar também para jovens com deficiência mental, cujos pais vivem um drama diário.
Dou o exemplo da Susana, uma mãe que conheço. A vida dela gira totalmente à volta do filho. Não tem vida própria. Devíamos ter equipamentos especializados, com técnicos capacitados para dar apoio a estes jovens — algo que um cuidador familiar, por mais amor que tenha, nunca conseguirá fazer sozinho com a mesma preparação.
Portanto, temos aqui várias áreas que precisam de atenção. E, claro, uma questão que surge sempre: os lares. Toda a gente diz “queremos um lar”. Mas o que é hoje um lar?
Com a experiência que adquiri na Junta, percebi que um lar se tornou na maioria das vezes um depósito de pessoas com deficiência, de pessoas em cuidados paliativos. Isto está errado. O conceito de lar precisa de ser reformulado. Precisamos de voltar ao verdadeiro significado da palavra “lar” — um local com dignidade, segurança e carinho. E, claro, temos também de criar respostas específicas para a demência, que é um dos grandes desafios do futuro.
Ainda no âmbito social, outro problema grave é o dos sem-abrigo. Este não é um fenómeno que acaba com uma solução simples. Já estive em Madrid, Milão, Berlim, e vi que esta realidade está em todo o lado. Foi uma grande aprendizagem para mim nos últimos anos.
Conheci o Alfredo e o Nascimento, na Rodoviária de Quarteira. Conheci-os mesmo, de falar com eles quando estavam bem e quando estavam menos bem. Só assim se percebe a realidade destas pessoas.
É inevitável: temos de ter um abrigo onde os sem-abrigo possam pernoitar, mas com acompanhamento especializado. Uma equipa preparada para os apoiar. No entanto, não podemos deixar de lhes exigir também responsabilidade. Muitas destas pessoas já têm muito apoio por parte das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), e por isso temos de criar regras, sem deixar de lado a dignidade.
Dar-lhes dignidade é dar-lhes também a possibilidade de se reintegrarem, de voltarem a andar na rua com um propósito e com esperança.
V.A. – No desporto, que medidas considera fundamentais implementar no concelho?
T.P. – Temos de começar a pensar o desporto como um todo. E digo isto com conhecimento de causa, porque sou um homem do desporto. Mas porquê pensar o desporto como um todo?
Eu quero que as pessoas voltem a ter aquilo que eu tive na infância. Havia menos carros, podíamos praticar tudo na rua. Em vez de termos uma street workout, tínhamos as alfarrobeiras e as figueiras para subir. Jogávamos à bola com duas pedras no meio da rua. Existiam campos improvisados nos terrenos baldios.
O que quero dizer com isto é que o primeiro pensamento para o desporto deve ser a atividade física informal. É preciso equipar o espaço público com estruturas desportivas simples que permitam atividade livre. Só assim podemos garantir que todas as crianças e jovens têm acesso ao movimento, ao ar livre e à experimentação.
E depois, naturalmente, há uma seleção natural. A partir dessa prática informal, os miúdos percebem para onde querem ir, em que modalidades se enquadram melhor, e aí surgem as associações e os clubes.
Mas essa realidade desapareceu quase por completo. No outro dia ligaram-me por causa de miúdos que saltaram a rede da escola para irem jogar futebol e basquetebol. Achei graça, porque é nestas situações que se percebe o que está mal. Doze anos numa junta de freguesia ensinam-nos muito. E digo com franqueza: muitos dos nossos governantes deviam passar por essa experiência, por essa proximidade. Porque se os miúdos saltam a rede para jogar, o erro não é deles. O erro é nosso.
Por isso, o desporto começa na rua, com equipamentos acessíveis. Vejam o que conseguimos fazer em Quarteira: equipamentos nas praias, campos de basquetebol, agora vamos ter um novo campo de futebol, além dos que já existem, como no Jardim Filipe Jonas. É essa a base do meu pensamento: desporto para todos, desde cedo e em liberdade.
Depois, sim, avançamos para os equipamentos desportivos de competição. Mas temos de perceber que nem todas as crianças querem competir. A minha filha do meio ensinou-me isso. Levámo-la à ginástica, ao atletismo... até que, numa fase, dissemos: “Agora tens idade para competir.” E ela respondeu: “Mas eu não quero ir aos jogos. Eu não quero ir às provas.” Isso fez-me refletir: nem tudo é competição.
Portanto, o desporto começa com a base, depois apoia a competição, valoriza os clubes e associações — que são quem realmente faz o trabalho diário no terreno. E é preciso dar-lhes condições dignas: mais campos de futebol, mais pavilhões, mais salas para dança, karaté, judo, e todas as modalidades que crescem nos nossos bairros, freguesias e escolas.
Também precisamos de identificar quais os atletas que devemos apoiar em modalidades olímpicas ou de grande visibilidade internacional. Porque é importante termos representação e reconhecimento nessas áreas.
E, claro, o desporto para todos. Há pouco tempo, por exemplo, foi inaugurado o projeto de vela adaptada. Isso é essencial. Os clubes precisam de apoio para poderem acolher pessoas com mobilidade reduzida, dar-lhes condições reais para praticarem desporto com dignidade.
Mas não se trata apenas de deficiência. Também temos de pensar nas famílias carenciadas. Temos de ir ao encontro desses miúdos, que muitas vezes não têm meios para praticar desporto. Não podemos deixá-los de fora. Temos de criar condições para que também eles integrem clubes, participem, cresçam.
Quero sublinhar uma coisa: o desporto e a cultura são a base da formação dos nossos jovens. É nestas áreas que se desenvolvem a criatividade, o espírito de equipa, o compromisso. São estas experiências que os ajudam a crescer como cidadãos.
Por isso, temos de fazer estas apostas com coragem e apoiar tanto as pessoas como as instituições que fazem o desporto acontecer todos os dias.
V.A. – Quando fala em cultura, a que áreas concretas se está a referir? O que é, para si, o papel da cultura no desenvolvimento de Loulé?
T.P. – A cultura é muita coisa. E é, aliás, uma das áreas que eu mais quero apoiar. Loulé tem uma base cultural muito rica, com um trabalho já feito que merece continuidade e reforço.
A questão agora é: onde é que já chegámos e para onde queremos ir? Porque se já conseguimos tornar Loulé numa referência cultural, o nosso desafio agora é elevar ainda mais essa fasquia. E para isso, precisamos de entender que a cultura abrange imensas dimensões.
Veja-se os banhos islâmicos, o conceito “com as mãos no mar e os pés na terra” — é um excelente exemplo de um projeto cultural com identidade local e projeção nacional. É um trabalho notável.
Depois, repare como os privados já estão a olhar para Loulé como um local de investimento cultural. Quantas galerias de arte privadas temos agora? Isso demonstra o potencial de Loulé enquanto pólo cultural atrativo.
A cultura pode — e deve — ser a base da centralidade do concelho. Pode ser um fator decisivo para atrair pessoas, investimento e vida para o nosso território. Loulé não tem uma ribeira, nem um lago, nem mar — mas tem tido exposições, eventos e programação cultural de excelência.
Temos de continuar com essa aposta. Por exemplo, se olharmos para a ligação entre cultura e turismo, vemos o que foi feito com o turismo religioso em Loulé: mais de 10 equipamentos foram reabilitados, entre capelas e igrejas. E temos o reconhecimento da Festa da Mãe Soberana como Património Cultural, o que é extraordinário.
Tudo isto representa um trabalho muito importante para mim. Claro que há outros objetivos, mas a cultura tem de ser uma prioridade estratégica para valorizar e promover Loulé. Muitos outros municípios estão a apostar fortemente nesta área — e nós temos de acompanhar essa dinâmica, ou melhor ainda, liderá-la.
Mas a cultura não se resume a monumentos ou tradições. Falamos também de jornais locais, espetáculos, exposições, teatro, cinema, música… Há uma variedade de iniciativas que já acontecem em Loulé e que precisamos de continuar a apoiar e a fazer crescer.
Quero cavalgar essa onda, como todos os que pensam estrategicamente devem fazer. Se formos inteligentes, percebemos que é pela cultura que conseguimos consolidar Loulé como uma terra vibrante, com alma e com futuro.
V.A. – A habitação é hoje uma questão central a nível nacional. Como pensa resolver este problema no concelho de Loulé?
T.P. – Sim. Isto não é um problema exclusivo de Loulé, nem de Portugal – é um problema mundial.
Existem países, como a Áustria, que estão muito mais avançados do que nós, com números elevadíssimos de habitação pública.
Nós, em Portugal, nas últimas décadas — e não foi agora, foi mesmo nas últimas décadas — adormecemos e não avançámos como devíamos.
Dou um exemplo simples, ligado à minha área: Loulé precisa urgentemente de entre 4 a 5 mil fogos. Ontem! Estamos a falar de muitos fogos. Só para concretizar 100 fogos, qualquer município poderá demorar 4 a 5 anos.

Temos, então, de criar formatos de colaboração com os privados e os proprietários para avançar. Esta é a dificuldade real. Por isso falo tantas vezes do PDM. Por exemplo, nas periferias dos centros urbanos, o PDM pode crescer, mas estará sempre limitado ao crescimento a partir desses centros. Isso significa que vamos ter de encontrar terrenos de grandes dimensões para garantir uma resposta em escala.
O que quero dizer com isto? Se uma lei permite construir 100 fogos e levou todos estes anos a ser concretizada, imaginemos se cada município conseguisse fazer 100 fogos por ano — em 10 anos teríamos 1.000. E nós precisamos de 4.000 a 5.000. Por isso, é fundamental aproveitar o PDM, bem como a nova lei sobre o uso de solos rústicos. Atenção, isto tem de ser feito em articulação com os municípios, o que é muito importante. Temos de identificar terrenos com grandes áreas e dinamizar a construção em escala.
É igualmente importante recorrer a terrenos de área de cedência, pois nesses casos o município já detém a posse do solo. Também as unidades de execução são ferramentas fundamentais. Houve recentemente uma legislação nesse sentido que vai permitir avançar.
Porquê? Se estivermos perante um terreno sem infraestruturas — sem estradas, passeios, iluminação pública, água ou esgotos — esse terreno não tem o valor que muitas vezes se pensa. E é muito difícil para os privados avançarem com esse tipo de investimento. Mas se for feito em colaboração com as câmaras municipais, através das unidades de execução, a câmara pode intervir diretamente, valorizar o terreno e impulsionar o seu aproveitamento.
Acreditem no que vos digo: isto valoriza mesmo os terrenos. E a partir daí, tanto os privados como a própria câmara podem construir. Estamos a falar de terrenos que passam a estar em condições de construção quase imediata.
É exatamente isso que está a acontecer agora em Loulé, com uma unidade de execução que poderá libertar cerca de 400 fogos de um momento para o outro. Esta dinâmica entre o setor público e o setor privado é absolutamente essencial, porque o público, sozinho, não tem capacidade para responder a 100% das necessidades habitacionais do país.
Por isso, precisamos de pessoas resilientes, com energia, dinâmicas, com conhecimento e experiência, para conseguir concretizar todas estas ferramentas que temos à nossa disposição. Caso contrário, será muito difícil dar resposta a este problema.
V.A. – Mas se percebi bem, está a dizer que é uma possibilidade construir mais habitação social em Loulé?
T.P. – Tem de ser habitação social e acessível. Nós enfrentamos um problema grave — uma das batalhas que temos mesmo de travar — que é o facto de a habitação social ser elegível para apoios financeiros, enquanto a habitação acessível não tem esse tipo de apoio.
E é aqui que precisamos de lutar, junto do Governo, da Europa, de quem for necessário, porque essa mudança não está nas nossas mãos. A habitação acessível é essencial, mas atualmente só é financiada a 100% pelos municípios e pelo Estado. E como não há capacidade para fazer tudo, é necessário encontrar um equilíbrio.
Temos, ao mesmo tempo, de assumir estas lutas e abrir espaço para estas discussões, porque se queremos que amanhã médicos, professores, elementos da GNR e polícias escolham o Algarve para viver, temos de lhes garantir condições de habitação. Precisamos desses serviços todos, e isso só será possível com uma aposta clara também na habitação acessível.
V.A. – Já que fala de habitação, como vê a situação das casas de madeira no concelho de Loulé, que são uma realidade dos últimos anos? E como pensa minimizar esse problema?
T.P. – Minimizar passa por dar respostas ao nível da habitação. Este problema não se resolve sem criarmos alternativas reais. A falta de resposta habitacional ao longo dos anos levou ao surgimento destas situações, porque as pessoas, por necessidade, viram-se obrigadas a recorrer a essa solução.
Agora, o problema destas pessoas tem mesmo de ser resolvido. Se me perguntarem qual é a fórmula exata, não sei. Os municípios não têm todo o poder de decisão, mas temos de trabalhar em conjunto com o Governo e outras entidades, porque as respostas têm de surgir.
Temos este problema nas mãos, não o podemos deixar crescer mais, mas é fundamental perceber como o resolver e como dar uma alternativa digna a estas pessoas.
V.A. – O comércio local e as pequenas e médias empresas enfrentam desafios crescentes. Que medidas defende para impulsionar a economia de Loulé e apoiar os empresários locais?
T.P. – Em termos de comércio local, vivemos realmente essa dificuldade. As grandes superfícies comerciais e os centros comerciais parecem absorver tudo. Temos de criar e manter dinâmicas locais importantes, como aquelas desenvolvidas pela Câmara Municipal de Loulé durante o Natal, que foram muito positivas.
Ao mesmo tempo, o comércio local ganhará mais vida se trabalharmos o destino turístico de Loulé. Temos de atrair mais pessoas ao concelho, porque só assim o comércio pode crescer.
Outro ponto fundamental é a atualização e modernização das empresas, nomeadamente através da digitalização. Esta é uma realidade das novas gerações e está ao alcance dos empresários – cabe-nos criar as condições para que isso aconteça.
Depois há medidas concretas, como os incentivos diretos ao consumo no comércio local. Por exemplo, falei recentemente com o Vice-Presidente da Câmara sobre o Cartão do Munícipe, que oferece benefícios nas compras no comércio local, como já acontece na época natalícia. É um incentivo importante e eficaz.
Um dos problemas maiores nos centros urbanos é o estacionamento. Eu sinto isso, especialmente em Quarteira, onde não há silos de estacionamento – que teriam um grande impacto urbanístico e financeiro. Em vez disso, conseguimos criar cerca de 800 lugares através de pequenas bolsas de estacionamento. Exemplos disso são o terreno junto ao Centro Autárquico, com 70 lugares, e muitos outros espaços reaproveitados.
Para comparação, o Parque da Pontinha em Faro tem cerca de 580 lugares, o Parque de Estacionamento de Loulé, tem cerca de 300 lugares. Ou seja, estes 800 lugares em Quarteira representam uma grande resposta a um problema real.
Já foi aprovada a construção de mais 150 lugares de estacionamento: no Beco do Farol e na Quinta do Romão – duas zonas pouco aproveitadas até agora.
Tudo isto tem um objetivo: facilitar o acesso ao comércio local. Se as pessoas tiverem onde estacionar, mais facilmente visitam o centro e compram no pequeno comércio.
Por fim, algo transversal tanto ao interior do concelho como ao comércio local, é a melhoria dos transportes públicos – tanto na frequência como na área de cobertura. Se melhorarmos este serviço, mais pessoas poderão vir à cidade, tal como se fazia antigamente, quando “vinha-se à Vila”. Essa memória tem de ser trazida para o presente, mas com soluções modernas.
Tudo isto só se faz com trabalho conjunto entre o setor público e o privado, com criatividade, dinamismo e empenho real.
V.A. – Relativamente à saúde, no Concelho de Loulé, o que tem para dizer?
T.P. – Eu sinto que a saúde é mais um dos aspectos fundamentais e que merece a nossa atenção. Há uma parte da saúde que não é responsabilidade direta dos municípios, mas outra parte sim. No caso de Quarteira, por exemplo, o que conseguimos alcançar foi muito importante: passámos de 11 mil pessoas sem médico de família para zero pessoas sem médico de família graças à Unidade de Saúde Familiar Estrela do Mano. Ou seja, o trabalho realizado pelas unidades de saúde, pelos profissionais e pelas pessoas que representam a saúde, tanto em Quarteira como no Concelho de Loulé, tem sido essencial para responder a esta necessidade.
Além disso, é preciso entender que temos de chegar a todos os lugares. Existem aspectos que considero importantes destacar. Em Loulé, vamos avançar com uma unidade de saúde familiar e, ao longo do tempo, houve melhorias nas respostas e nos equipamentos, mas também acredito que Quarteira precisa de um novo centro de saúde. Neste momento, o serviço de saúde em Quarteira é prestado em contentores que funcionam de forma temporária, uma solução provisória, mas é hora de termos um equipamento de saúde digno, como está a ser feito em Loulé.
Aqui quero também destacar uma conquista importante: Loulé vai ter o primeiro centro de saúde universitário do país. Embora falemos muito sobre universidades, o que estamos a realizar em Loulé vai ser um marco na saúde do país, e este centro está a ser finalizado e será inaugurado em breve.
V.A. – E o que é isso exatamente?
T.P. – Significa que este será um centro de saúde onde também iremos ter formação de médicos, realizada aqui em Loulé. E isto leva-nos a outras áreas que, neste momento, ainda não são tão visíveis, mas em que precisamos de apostar. É uma aposta que devemos fazer.
A saúde é extremamente importante, assim como a ciência e a tecnologia. Por exemplo, as células estaminais do cordão umbilical já são tratadas em Loulé. Também estamos a adquirir uma ressonância magnética, que antes exigia viagens a Lisboa ou a Sevilha, mas que agora será possível utilizar localmente. Ou seja, há uma série de avanços que precisamos de aproveitar. Vamos também ter médicos em Loulé a realizar simulações de operações; atualmente, já conseguimos fazer uma operação quase em tempo real, com um médico na Austrália e o paciente aqui, em Loulé, ou vice-versa.
Tudo isso, essa ciência e tecnologia, precisa de ser aproveitado. Faz parte daquele copo meio cheio, e é importante que aproveitemos essa onda. É muito difícil atrair investimentos para os concelhos, mas conseguimos trazer muitos para Loulé. Portanto, a nossa missão é dar respostas à população local.
Não falei, por exemplo, da Unidade Móvel de Saúde do Concelho de Loulé, que vai ao interior e chega até às zonas mais remotas. Muitas vezes, estas são comunidades mais envelhecidas, com pessoas que não têm transporte ou dificuldades em deslocar-se, e aqui a Câmara Municipal de Loulé conseguiu fazer a diferença. Devemos concentrar as nossas energias nestes projetos, oferecendo respostas diretas aos nossos utentes, mas também nos investimentos, porque isso será o que atrairá mais pessoas para o nosso concelho, movimentará a nossa economia, e dinamizará a cidade, criando ainda mais hotéis e unidades de alojamento, pois precisamos que isso aconteça. E, na minha opinião, não se trata de uma reivindicação de um grupo específico, mas sim de algo transversal a todos. Precisamos de incentivar investimentos no nosso concelho.
V.A. – E já que estamos a falar de saúde, quer comentar o recente caso do Centro Oncológico do Algarve?
T.P. – O que é que eu acho? Só posso dizer uma coisa. O Centro Oncológico do Algarve, mais uma vez, teve a atenção de dois Presidentes que se interessaram em trazer para cá uma resposta, que é inevitável, pois todos nós queremos.
Agora, quer dizer, houve quem não quisesse. Porque eu acho que há interesses dentro do próprio hospital que não viam com bons olhos a criação deste equipamento. Além disso, houve falhas em algumas respostas, e tambem falhas da parte técnica, pois, sendo uma área que conheço, não se entrega um projeto dessa forma. Há muito a ser resolvido nesse sentido.
No fundo, acho que podia ter havido mais bom senso da parte de alguns, mas, infelizmente, houve quem não se interessasse em ter mais um equipamento na região do Algarve.
Isso é o que posso dizer, e nem estou a atribuir responsabilidades a partidos específicos. Acho que isto se trata de uma questão geral.
V.A. – Que balanço faz, neste momento, da sua candidatura? Como estão os desenvolvimentos?
T.P. – Eu acho que está a correr bem. Eu acho não, tenho a certeza de que está a correr bem. Estou muito consciente daquilo que sou capaz de fazer e do que já fiz. Nada me atormenta. Como dizia quando praticava desporto, avancei para ganhar, tenho um trabalho passado que fala por si. E as pessoas, se não acreditarem no candidato, não será muitas vezes pelas promessas, mas sim pela credibilidade que ele tem. Acho que, no final, a credibilidade dos candidatos será o fator mais importante, para as pessoas perceberem que elas podem confiar em alguém que realmente faz acontecer.
Portanto, vou continuar com este ritmo. Há algo que eu não vou fazer, e tenho muita pena que aconteça: o mal-dizer. Há pessoas que só sabem viver assim. Tenho pena que existam outras que, apesar de não falarem mal, gostam de estar próximas de quem fala mal. Para mim, são iguais. Acho que essa vai ser a grande questão para os nossos eleitores: se teremos ou não a capacidade de ouvir o mal-dizer e, ao mesmo tempo, interrogarmo-nos sobre o que é verdade e o que é mentira.
Eu também sou pai, tenho uma família – mulher, três filhos – como todas as outras pessoas. Gosto de manter a minha vida em equilíbrio. Por acaso, ouvi esta frase para esta posição: a minha mulher diz que gosta de passar pelas gotas da chuva. Eu, sinceramente, não consigo tanto. O que eu peço é respeito, mas sei que não haverá, já se percebeu que não vai haver. O que me entristece é que as pessoas aproveitem essas situações. No final, eu sei que vou sair a ganhar sempre na minha vida. Uma amiga minha da universidade disse-me uma vez: “Tu sais sempre a ganhar se construíres uma equipa à tua imagem e fizeres tudo o que acreditas”. E, portanto, eu já sei que vou ganhar, porque sei que vou fazer tudo o que acredito, com uma equipa à minha imagem. A partir daí, tudo o que tiver de acontecer, acontecerá.
V.A. – Já que refere o mal-dizer e as pessoas que falam, que opinião tem deste assunto dos óculos amarelos?
T.P. – Aos 43 anos, um amigo meu disse-me: “A partir de agora vais começar a ter problemas de vista.” E realmente, aos 45 anos, precisei de colocar próteses nas ancas, mas graças à medicina e à ciência, estou como novo. A ciência tem um papel fundamental nas nossas vidas. Comecei a ter dificuldades de visão aos 43, e a minha mulher, que é uma grande fã de óculos e relógios, sempre me disse: “Já que tens de usar óculos, escolhe uns que gostes.” Achei piada e decidi seguir o conselho. Os óculos amarelos inicialmente foram uma necessidade, mas com o tempo tornaram-se uma espécie de marca minha. Levo tudo isto com leveza, porque faz parte da minha irreverência e da forma como vejo as coisas. Para mim, é uma questão de estilo, nada mais.
V.A. – Já que mencionou a família, o que é que a sua família pensa sobre a sua candidatura à Câmara Municipal?
T.P. – A minha mulher tem acompanhado a minha trajetória e, ao longo do tempo, eu cometi alguns erros. Mas uma das coisas de que me sinto mais feliz é que, ao longo do percurso, tive um amigo que me disse algo muito importante: “Telmo, quando não precisas estar constantemente em cima das equipas da junta, é quando a junta está a funcionar bem.” E foi assim que aconteceu. No início, eu realmente tirei muito tempo da minha família, e foram momentos difíceis, porque passava muito tempo fora. Ao contrário do que as pessoas possam pensar, é como em qualquer área: um bom mecânico trabalha muito, mas também há maus mecânicos que não fazem nada; um bom político trabalha muito, e há maus políticos que também não fazem nada. Portanto, quem quer fazer, trabalha arduamente, seja qual for a área.
Naquela altura, a minha mulher não estava feliz com o tempo que eu passava fora de casa. Somos pais de três filhos, e, como podem imaginar, essa fase não foi fácil. Mas hoje em dia, ela diz-me outra coisa: “Olha, aquilo que vi que tu te dedicaste, a diferença que conseguiste fazer, eu gostava que tu fosses à frente, para teres oportunidade de mostrar aquilo que sabes fazer.” E isso tocou-me profundamente. Até porque, quando terminei o curso de Engenharia, já tinha dois filhos. A minha mulher ficava em casa com eles, e ela conta histórias engraçadas sobre essa época. Por exemplo, os nossos filhos choravam, um para cada lado, e ela chorava pelo outro, pois além do trabalho como professora, eu só chegava à meia-noite.
Em relação à minha carreira, sinto que o meu curso de Engenharia, e tudo o que consegui construir com a minha empresa, deve-se também muito à minha sócia que está lá, pois eu não tenho conseguido dar tempo suficiente à empresa. Então, costumo dizer que o curso que tenho é metade dela. Outra coisa da minha família que me faz sentir pena é o facto de meu pai ter falecido antes de eu entrar para a política. Ele era um homem muito inteligente, e hoje, tudo o que ele me dizia, vejo que estava certo. Tenho a minha própria visão das coisas, mas sempre senti que ele, quando soubesse da minha entrada na política, iria gostar de partilhar comigo o seu conhecimento. Era uma pessoa que estava sempre a ler, sempre a aprender. E isso é uma das coisas que me faz falta.
No fundo, todos têm um certo receio com a política, porque realmente é algo que desgasta, mas gostam de ver aquilo que estou a fazer e isso é o que importa.
V.A. – Já pensou no que fará se for eleito Presidente da Câmara Municipal? E como irá gerir a sua empresa?
T.P. – A minha empresa é gerida pela minha sócia...
V.A. – Mas não há incompatibilidade?
T.P. – Não há incompatibilidade, já me informei sobre isso, e o que peço sempre é que me fiscalizem. Não podemos entrar pelo caminho de dizer que os privados que têm empresas não podem estar no público, porque, se for assim, qualquer dia só teremos profissionais da política e pessoas que nunca fizeram nada. A maior mais-valia que eu tive na política foi o meu conhecimento privado. Digo-vos, a contratação pública, gerir leis, olhar para as leis, lê-las, interpretá-las, tudo isso me deu um grande estofo. Os cadernos de encargos de engenharia civil, quando passei para os espaços verdes, para a limpeza urbana, para as obras, tudo isso me deu uma capacidade enorme.
A gestão de pessoas, como fazemos nas obras, também me deu uma grande capacidade. Nós não perdemos isso. Temos que fiscalizar os políticos, como temos que fiscalizar todas as áreas, mas perceber que é muito importante que a sociedade civil faça parte das decisões públicas, das decisões políticas. Não podemos afastar-nos disso, senão, qualquer dia, só teremos pessoas sem capacidade e sem competência nestas áreas.
V.A. – Sendo engenheiro civil, há alguma esperança de que a área do urbanismo melhore?
T.P. – Sim, acredito que há esperança de melhoria na área do urbanismo, embora haja vários fatores a considerar. Não se pode atribuir toda a responsabilidade aos técnicos, pois existem muitos aspetos que influenciam o processo. No entanto, é fundamental trabalhar em conjunto com todos os envolvidos. Um ponto que sempre destaco é a importância de envolver os funcionários da Câmara, pois o sucesso do futuro executivo depende muito deles. A comunicação eficaz, de baixo para cima, é crucial, mas o trabalho em equipa é o elemento-chave.
A Câmara tem profissionais muito competentes, como os nossos arquitetos, e é essencial que possamos criar dinâmicas de colaboração para identificar e implementar as melhores soluções para a população. No meu caso, que também trabalho na área do urbanismo, sei que há sempre espaço para melhorar, não apenas nos aspetos técnicos, mas também na gestão de processos. É vital que todos, incluindo os técnicos e as pessoas da sociedade civil, trabalhem unidos para que possamos alcançar um progresso sustentável e de qualidade.
Nos últimos anos, Loulé tem mostrado avanços significativos na entrega de projetos, e estou convicto de que, com o esforço coletivo, podemos continuar nesse caminho. Contudo, é importante lembrar que o volume de trabalho em Loulé é muito maior do que em outras câmaras, pois cada projeto aqui representa um desafio maior. São necessários recursos e estratégias adequadas para dar resposta à elevada procura de investimento e projetos, e isso exige uma enorme dedicação de todos os envolvidos.
V.A. – Já divulgou alguns nomes para as Juntas de Freguesia. Pode comentar como está a decorrer o processo de escolha de candidatos?
T.P. – Em relação às Juntas de Freguesia, o processo está praticamente fechado. No entanto, tenho conversado com as pessoas e, embora o processo não seja totalmente fechado a sete chaves, vou esperar para anunciar quando for o momento apropriado.
Tenho recebido várias manifestações de interesse, com pessoas a ligarem-me ou a dizerem que estão disponíveis para ajudar, para onde for necessário. Em relação à equipa para a Câmara, essa, sim, já está mais definida, e acredito que temos um grupo forte e comprometido para seguir em frente.
Só houve um vereador com quem acabei por não falar diretamente. Falei com os vereadores sobre a não continuidade e não deixei isso para o final. Podia ter feito como era comum antigamente, explicando tudo no final, em junho ou julho, mas não fiz isso. Fui transparente durante todo o processo, mesmo dentro do partido.
É lógico que algumas pessoas ficaram mais satisfeitas, outras menos, mas fui sincero e frontal ao explicar as escolhas que fiz para a nova equipa. Acredito que estamos a iniciar um novo ciclo, e é importante que este ciclo seja renovado. Apenas uma pessoa se mantém, alguém que está lá há apenas quatro anos.
V.A. – Circularam por aí alguns comentários a sugerir que, caso seja eleito, tenciona fazer uma “limpeza” na Câmara... Quer esclarecer de onde acha que vem essa perceção e o que tem, realmente, em mente?
T.P. – Eu nunca falei em “limpeza”. Não, eu nunca disse “limpeza”. As pessoas olham para mim com uma certa energia e começaram a dizer que eu ia fazer uma limpeza, mas isso não é verdade. “Limpeza”? Quem é que mandaria embora e com quem é que eu trabalharia?
V.A. – Como já são conhecidos os seus principais adversários, nomeadamente Hélder Martins pelo PSD-CDS e Fernando Santos pelo Chega, caso vença as eleições e não consiga uma maioria absoluta, com qual destes candidatos acredita que será mais fácil estabelecer uma negociação para garantir o apoio da maioria dos vereadores?
T.P. – Vou ser muito sincero: como fui desportista, sempre joguei para ganhar. Não gosto de falar sobre cenários hipotéticos. Quando chegar o momento, aí sim, falarei.
Tenho muito respeito por todos os outros candidatos, mas prefiro focar-me no meu trabalho e na minha equipa. Espero que todos eles também façam um trabalho construtivo e positivo para o nosso concelho. O meu objetivo é claro: vou trabalhar para vencer e, uma vez na Câmara, sei que encontrarei a melhor forma de construir soluções para todos.
V.A. – Considerando os desafios do interior do Concelho, quais são as principais estratégias que pretende implementar para promover o desenvolvimento dessa região, nomeadamente no que diz respeito à fixação de pessoas, à criação de empregos e à melhoria dos serviços disponíveis?
T.P. – O interior deste concelho é extremamente rico, mas infelizmente ainda não aproveitamos todo o seu potencial. Um dos maiores desafios é a falta de serviços adequados, o que impede a fixação de pessoas e o seu desenvolvimento. Não se trata apenas do interior de Loulé, mas do interior do país como um todo, onde a centralização é um problema evidente.
A primeira prioridade é desenvolver projetos que atraiam pessoas para viver e trabalhar no interior, mas para isso precisamos de garantir uma rede de transportes eficiente, que conecte as zonas mais isoladas, como Ameixial, ao resto do concelho, com uma frequência que permita a mobilidade diária das pessoas. Porém, a presença de serviços adequados é fundamental. Não basta apenas organizar eventos, é preciso garantir que o interior tenha o suporte necessário para as pessoas se enraizarem lá.
Há uma enorme riqueza de produtos endógenos que podemos promover. Loulé é, por exemplo, o maior produtor de alfarroba do país e também produz mel, medronho, amêndoas, entre outros. Estes produtos podem ser a base de dinâmicas económicas importantes. O projeto dos armazéns industriais no Ameixial já está a atrair empresários para o interior, o que é uma excelente notícia. A ideia é criar um ciclo onde as pessoas possam viver e trabalhar no interior, sem ter que se deslocar constantemente para as zonas urbanas.
Outro ponto importante é a educação. A Escola Profissional de Alte, por exemplo, tem feito um bom trabalho para responder à falta de alunos, mas ainda há muito a fazer. O maior desafio é atrair alunos para os cursos profissionais, especialmente porque a maioria dos estabelecimentos de ensino estão no litoral. Precisamos de renovar o conceito da escola e encontrar formas de atrair mais alunos, além de reforçar a formação que já existe. Com isso, poderemos criar uma dinâmica positiva que ajude o interior a crescer.
Portanto, o que precisamos é de olhar para o interior com outros olhos, investindo em projetos que atraiam pessoas, promovam os nossos produtos locais e melhorem a qualidade de vida das pessoas que lá vivem. Este é o caminho para dinamizar o interior de Loulé.
V.A. – Tem algum projeto específico em mente para o interior do Concelho, que possa contribuir para o desenvolvimento da região, especialmente no que diz respeito à promoção de produtos endógenos, ao incentivo à criação de empresas e ao desenvolvimento de atividades que envolvam as comunidades locais?
T.P. – Não tenho um único projeto específico, mas acredito que a chave para o desenvolvimento do interior do concelho está em olhar para os produtos endógenos como uma das principais fontes de riqueza. O Geoparque é um exemplo claro disso, pois é uma marca mundial que atrai atenção para o nosso território, mas a verdadeira mais-valia vem do trabalho que fazemos no terreno, em parceria com a comunidade.
A promoção da alfarroba e de outros produtos locais, como medronho, mel e amêndoa, pode ser um motor de crescimento. É fundamental dar a estas iniciativas uma chancela, como a do Geoparque, que valida o trabalho e a qualidade dos produtos da nossa região. O que eu quero fazer é criar um círculo virtuoso, onde atraímos mais empresas e criamos condições para que as pessoas se sintam motivadas a viver e trabalhar no interior.
Outro projeto que sonho realizar é a criação de uma quinta pedagógica, de grande escala, no interior do Concelho – quem sabe a maior da Península Ibérica. Um espaço onde as crianças possam aprender, interagir com a natureza, conhecer os animais, entender os ciclos de produção de alimentos e, ao mesmo tempo, valorizar os produtos locais. Imagine um lugar onde as crianças possam ver como nasce uma vaca, como nasce uma ovelha, onde possam ter contacto com cabras autóctones e aprender sobre a agricultura sustentável. Este tipo de iniciativa não só atrai turistas e gera receita, como também reforça a ligação das pessoas ao território.
Esses projetos, junto com a criação de mais serviços no interior, são fundamentais para que possamos atrair mais pessoas, mais empresas e, consequentemente, mais vida para o nosso interior. O objetivo é começar a criar atividades sustentáveis, de forma a dar às pessoas boas razões para viverem no interior e a promover a riqueza local de forma estratégica.
V.A. – Se for eleito Presidente da Câmara Municipal de Loulé, com que tipo de Presidente podem contar os seus munícipes?
T.P. – Podem contar com o mesmo tipo de Presidente que têm conhecido até aqui. Aqueles que estiveram atentos perceberam que, mesmo antes de ser candidato à Câmara, já tomava a postura de candidato desde o primeiro mandato. Não foi uma postura de quem quer ser Presidente imediatamente, mas sim de quem se sente responsável pela comunidade. Fui, inclusive, muitas vezes aos eventos, mesmo antes de assumir qualquer cargo.
Isso tem muito a ver com o meu passado no Concelho. Estudei em Loulé desde os 10 anos de idade e sempre tive uma ligação muito forte ao Concelho. Conheço muita gente da minha geração, o que me facilitou a interação com a população, sem distanciamento. Por isso, o Presidente que podem contar é com o Telmo, alguém próximo das pessoas, que fala com elas, e que, por vezes, até fala mais do que devia. Gosto de ouvir as pessoas e estou disponível para isso. A minha ideia é promover o destino do Concelho de Loulé, fazendo com que sejamos competitivos em todas as vertentes, desde a serra até ao mar.
Nunca podemos esquecer que somos do Algarve e que temos de promover essa identidade. O jovem que vive na Austrália escolhe o Algarve para as suas férias, e isso é algo que devemos capitalizar. A minha relação com a Associação de Turismo do Algarve será próxima, pois acredito que todos temos a ganhar com isso.
No que diz respeito à Câmara de Loulé, a minha opinião é clara: não faz sentido manter divisões separadas para o turismo. Precisamos de um Conselho Municipal com todos os atores da economia e do turismo a trabalhar juntos, a tomar decisões em conjunto. E a taxa turística, por exemplo, deve ser uma decisão pensada de forma colaborativa. Gosto de usar a expressão brainstorming porque acredito que, ao juntarmos as boas e as más ideias, conseguimos chegar a consensos que vão beneficiar o Concelho.
Em relação à segurança, uma área que tenho acompanhado de perto, defendo a continuidade do trabalho realizado no Concelho de Loulé, que investiu muito na proteção civil e nos bombeiros. É um trabalho fundamental para a segurança da população. Também sou a favor da criação de uma polícia municipal e de medidas simples, como a melhoria da iluminação pública, que ajudam a garantir a segurança do dia a dia.
O meu compromisso é com as pessoas. Acredito no trabalho de equipa e no espírito de colaboração. Se forem ver os vídeos feitos na Junta de Freguesia, verão que os verdadeiros protagonistas são os funcionários, que foram os que realmente fizeram a diferença. Quando cheguei à junta, por exemplo, encontrei situações de condições de trabalho muito precárias, como uma funcionária que demorava 20 minutos para ligar um computador. Imediatamente, procurei criar as condições para que todos pudessem trabalhar melhor. Isso é algo que pretendo continuar a fazer, criando condições para todos os funcionários da Câmara, para que juntos possamos fazer a diferença. Portanto, conto com todos para construir o futuro de Loulé.
Por Nathalie Dias