IVONE DIAS FERREIRA | ivoneferreira85@gmail.com

Sempre que alguém quer lamentar-se de um ato qualquer do governo, porque se sente injustiçado, ou, simplesmente, não concorda com o mesmo, reclama do mesmo afirmando, invariavelmente: “Eles... são,  eles…fazem, eles…roubam”, etc, etc.

Afinal quem são “eles”?

“Eles” são os políticos que nos governam, “eles” são os funcionários dos impostos que nos atendem, por vezes, com alguma arrogância e mau humor, “eles” são os fiscais de qualquer instituição, “eles” são os funcionários dos centros de saúde, da segurança social, do tribunal, os polícias de trânsito…

Parece sempre que “eles” vivem lá longe, “eles” estão num patamar a que ninguém chega e que, arbitrariamente, apenas porque querem podem e mandam, decidem sempre contra “nós”.

E está assim criado um fosso entre “eles” e nós”. Abrem-se, cada vez mais, brechas enormes entre os cidadãos (nós) e a Democracia (Eles? Nós?)

E assumindo o papel de vítimas nos vamos recusando, cada vez mais, a participar, a incluir, a assumir as nossas responsabilidades nos atos da governação, seja ela a nível nacional, regional ou local, porque preferimos acusá-los a “eles”, ficando “nós” a construir o “muro das lamentações”.

Mas, se pensarmos bem, “eles” somos afinal “nós” (pronome pessoal e não a marca de um canal de televisão por cabo).

Nós que votámos. Nós que quisemos. Nós que afirmamos aceitarmos as regras da Democracia. Nós que sabemos (?) que, para viver em sociedade, precisamos de cumprir deveres e saber exigir direitos.

Quando será que, racionalmente, deixamos de nos lamentar sobre o “excesso de poder” d’eles… e começamos a perceber, ou a aceitar, que se “eles” lá estão é porque “nós” (a maioria democrática) os escolhemos?

Continuamos a ser eternos insatisfeitos?