A Greve dos Enfermeiros na defesa do SNS, da dignificação da profissão e dos cidadãos.

A propósito da greve dos enfermeiros, cuja informação abriu os telejornais, ouvi o Sr.

Ministro da Saúde falar em banalização das greves afirmando que “a saúde é uma coisa

muito séria e quem a paga são os contribuintes”.

Pois bem perante estas afirmações importa perguntar-nos quem banaliza e o que

está a ser banalizado.

Importa referir que ao ouvir aquelas afirmações senti uma revolta pela forma

displicente como é entendido o recurso à greve por quem tem a responsabilidade máxima

de garantir, o que o SNS oferece e pode vir a oferecer aos cidadãos, através dos seus

profissionais, entre estes os enfermeiros.

De facto, quem se pronuncia desta forma é porque não entende o que significa a

tomada de decisão de convocar a greve e de a realizar.

Para os enfermeiros esta decisão é sempre acompanhada de angústia e de grande

responsabilidade para com aqueles que lhes confiam os cuidados e, sendo a greve o último

recurso, é bom termos consciência, colectiva, que a exaustão a que os enfermeiros

portugueses estão hoje sujeitos só acontece porque estão a colmatar, diariamente, as

carências existentes e a lutar contra a desmotivação para garantir os cuidados de

enfermagem aos cidadãos que deles necessitam.

E, posto isto, questiona-se quem banaliza e o que banaliza. Assistimos, tal como

afirmou o Sr. Presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, que entre as

palavras e os actos desde 2012 há uma grande distância.

Ou seja, sistematicamente o Ministro anuncia que vai haver soluções mas elas

teimam em tardar. A sangria de enfermeiros para outros países, onde são reconhecidos e

valorizados deixa mais pobre, o Portugal que investiu na sua formação. A consequência é a

contínua degradação das condições de trabalho, impedindo a garantia da segurança dos

cuidados e afectando os cidadãos e os profissionais.

Banalizando as promessas e não as cumprindo torna-se assim o Sr. Ministro e o

Governo os principais responsáveis pela deterioração das condições de prestação de

cuidados no SNS. São também responsáveis pela progressiva incapacidade do SNS de

responder às necessidades em cuidados de saúde dos cidadãos, ao contrário do que os profissionais, nomeadamente os enfermeiros, demonstram nas razões que suportam esta

greve.

Sabemos que uma greve em saúde implica sempre consequências para os cidadãos

mas a manutenção da situação existente tem consequências diárias e por isso imediatas no

acesso, na qualidade e na segurança dos cuidados.

Mas, mais grave, a manutenção da situação existente e a degradação a que temos

vindo a assistir nos últimos anos, tem consequências a longo prazo que só serão

identificadas, provavelmente, na próxima geração.

É por tudo isto que os enfermeiros, responsavelmente, dizem BASTA, exercendo o

seu direito à Greve!

É, também, por tudo isto que me orgulho de ser enfermeira e estou solidária com a

GREVE dos colegas!

 

 

Por: Augusta Sousa

Enfermeira Especialista

 

(Bastonária da Ordem dos Enfermeiros em anteriores mandatos)