Por F. Inez

O desejo da imortalidade é tão antigo como o próprio homem … daí que a ideia de que um dia iremos envelhecer … seja demasiado longínqua na nossa juventude … nessa altura temos pela frente a “eternidade” … até que … aí pelos trinta e tal …  quarenta anos … naquele momento em que surge a primeira alteração física, a primeira doençazinha um pouco mais prolongada ou complicada, então começamos a descobrir que afinal não somos tão eternos como julgávamos!

Com o tempo, para grande surpresa nossa, apercebemo-nos que o espelho nos começa a mostrar uma ou outra ruga, e aos poucos o cabelo lá vai começando a ficar grisalho. A idade não é uma doença … mas um belo dia, um pouco mais adiante, começamos a sentir que afinal a juventude já lá vai … nessa altura as preocupações com a profissão e a família … na chamada meia-idade … são tão absorventes que quase não damos pelo tempo que passou … e aí estamos nós chegados à terceira idade … parte integrante do ciclo de vida!  Os avanços tecnológicos e civilizacionais, sobretudo na área da saúde, têm-nos empurrado para uma longevidade inimaginável poucos anos atrás.

Pela primeira vez na História da Humanidade a maior parte da população mundial espera viver para lá dos 60 anos de idade. Portugal é neste momento o 5º país mais envelhecido do Mundo, depois do Japão, da Itália, da Grécia e da Finlândia.

No nosso País, a Esperança Média de Vida, em 2021, era de 83,67 anos para as mulheres e de 78,07 para os homens … as hormonas femininas são responsáveis por esta pequena vantagem! Mas viver mais anos, nem sempre significa viver melhor, já que o envelhecimento, uma inevitabilidade e um determinismo biológico, origina a perda progressiva da capacidade de adaptação do organismo e acarreta inevitavelmente o aparecimento de incapacidades e  doenças degenerativas tais como o AVC, a Doença Coronária, a Hipertensão Arterial, a Diabetes, a Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva, a Osteoporose e as Fraturas, as Artrites e Artroses e outras, como as terríveis demências e frequentemente a mais devastadora -  a Doença de Alzheimer … situações frequentemente agravadas pela pobreza e desigualdade no acesso aos cuidados de saúde de uma parte significativa  da nossa população. 

Daí que, se compararmos o indicador - Esperança de Vida Saudável … anos de vida sem doença …  depois dos 65 anos de idade, constatamos que em Portugal aquele indicador se fica pelos 6 anos, enquanto a média europeia anda à volta dos 10 anos, situação esta que ainda se vai agravar consideravelmente depois dos 80 anos de idade. Infelizmente o nosso Serviço Nacional de Saúde está estruturado sobretudo para tratar a doença aguda, descurando as componentes da prevenção da doença e da promoção da saúde e naturalmente também do envelhecimento saudável.

De há muito são conhecidos os fatores da longevidade … para alem da componente genética, alimentação moderada e diversificada … leguminosas, frutas e hortaliças, preferência pelo peixe gordo e pelas gorduras saudáveis … o azeite … evitando as carnes vermelhas potencialmente cancerígenas.

A alimentação saudável deve ser um compromisso entre o prazer e a necessidade. Alem disso, há que adotar os chamados estilos de vida saudáveis … praticando o exercício físico moderado e frequente … e não fumar! Tudo leva a crer que o aumento da esperança de vida não é um fenómeno passageiro, os avanços da Ciência sugerem que é muito provável que se alcance ainda maior longevidade nas próximas décadas … há então que os procurar viver com saúde. Enquanto a imortalidade não passar de um sonho, vamo-nos consolando e aceitando que a vida é, em si mesma, um projeto interminável e que a velhice, não obstante a diminuição mais ou menos generalizada das capacidades, das limitações e das vulnerabilidades, é o ponto mais alto da sabedoria, do bom senso e da serenidade …