Depois da primeira participação em 2024, o Algarve voltou a associar-se este ano à «Caminhada pela Vida» promovida a nível nacional.
Cerca de 160 pessoas participaram este sábado na manifestação realizada em Faro que voltou a associar-se à iniciativa desde que se começou a realizar anualmente em 2012 por decisão da Federação Portuguesa pela Vida que a promove, embora tenha surgido em 1998 por ocasião do primeiro referendo do aborto.
Para além de Faro, este ano a ‘Caminhada pela Vida’ decorreu também em Aveiro, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Funchal, Guarda, Lamego, Lisboa, Porto, Santarém e Viseu.
Em Faro, a defesa pela vida desde a conceção até à morte natural uniu católicos, evangélicos e outros simpatizantes da causa, provenientes de vários pontos do Algarve, na caminhada que se iniciou junto à Escola Secundária João de Deus com os participantes a começarem a descer a Avenida 5 de Outubro quase às 15h30. Empunhando cartazes alusivos à defesa da vida e entoando palavras de ordem como “Palavras de ordem: vida sim, aborto não”, seguiram pela Rua de Santo António em direção ao Jardim Manuel Bívar.
Junto ao coreto decorreram momentos de animação musical e cultural com o duo composto por Graça Ferreira na voz e Nuno Pereira nas teclas, e com o grupo de dança contemporânea ‘Ministério de Dança CCR’, intercalados com várias intervenções orais.
O médico Nelson Brito testemunhou que “num pedido de aborto, um médico, que está chamado a ajudar tanto a mãe como a criança que está por nascer, é confrontado com um dilema: deixar um deles morrer quando na realidade pode ajudar a ambos”.
Aquele profissional do Serviço Nacional de Saúde disse que muitas das mulheres que tencionam abortar estão “em aflição” devido a fatores diversos. Entre eles enumerou a “instabilidade relacional”, a “gravidez não desejada ou planeada”, o “medo do futuro”, o “medo de não ser capaz de cuidar de uma criança com doença potencialmente grave”, a “insuficiência económica”, a falta de “condições de casa”, as “pressões do companheiro, da família ou do patrão”, entre outras.
Aquele médico realçou a importância de apontar “alternativas que podem ajudá-las a decidir prosseguir com a gravidez” como o reencaminhamento para outros profissionais como assistentes sociais, que “conhecem em detalhe os apoios do Estado” ou psicólogos. O médico acrescentou ainda a importância da informação de ajudas económicas ou outras da comunidade.
Aquele interveniente lembrou ainda que a lei da eutanásia “ainda está por regulamentar na Assembleia da República, e teme-se que, mais ano menos ano, possa, efetivamente, torna-se uma realidade” e denunciou as ameaças que disse existirem ao direito à objeção de consciência que deve assistir aos profissionais de saúde. “Caberá perguntar então: se este direito à objeção de consciência deixar de existir, como confiarão os cidadãos nestes profissionais de saúde?”, interrogou, considerando que o que permitiu a Aristides de Sousa Mendes salvar milhares de pessoas durante o holocausto foi ter desobedecido a ordens com as quais não concordava. “O heroísmo de desobedecer às leis quando são injustas é tão necessário em ditadura como em democracia”, referiu.
Durante a tarde, que contou ainda com a leitura de um testemunho de uma mulher que mesmo contra a vontade da sua família e da família do seu companheiro e perante a ameaça do despedimento por parte da entidade patronal decidiu manter a sua gravidez, lamentou-se que o Algarve não tenha centros de acolhimento para grávidas em dificuldade como tem para mulheres vítima de violência.
Miguel Reis Cunha, que encerrou as intervenções, lembrou que “por todo o país existem centros de apoio à vida que procuram ajudar a grávida, dar um ombro amigo”. “Nós acreditamos na vida e estamos aqui para dar voz àqueles que não têm voz, àqueles que são os mais indefensos”, realçou aquele membro da direção da Federação Portuguesa Pela Vida.
Durante a manifestação decorreu a venda de bolos cuja receita reverte para apoio a grávidas em dificuldade.
Folha do Domingo