André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com

A atrativide crescente de Portugal em relação ao turismo, e muito especialmente de algumas regiões como o Algarve, Lisboa e Porto, tem vindo a suscitar algumas críticas e reflexões, que podem ser analisadas em resposta à seguinte interrogação: um crescimento elevado e continuado do turismo é sustentável? Refira-se, de acordo com o INE, que, em 2023, o número de chegadas de turistas não residentes a Portugal terá atingido 26,5 milhões, correspondendo a um acréscimo de 19,2% face a 2022 (+7,7% face a 2019). E, também é verdade que há cerca de uma década que o turismo cresce continuadamente a taxas elevadas (com exceção de 2 anos durante a pandemia). É neste contexto que têm surgido recentemente algumas críticas ao excesso de turismo (ou turismo de massas), que já se têm vindo a colocar há já alguns anos noutros países, nomeadamente nalgumas regiões de Espanha e Itália.

Vejamos as criticas ao “excessivo do turismo” que normalmente são mais invocadas: (i) Impacto na qualidade de vida dos residentes, designadamente por via de uma pressão significativa sobre os serviços públicos, como saúde, gestão de resíduos e abastecimento de água, e muito particularmente as dificuldades com a habitação devido ao aumento dos preços das rendas e à conversão de habitações em alugueres de curta duração para turistas; (ii) Danos no meio ambiente e património histórico, devido ao fluxo constante de turistas podem ter uma ação negativa em locais históricos e na biodiversidade, assim como o excesso de construção de hotéis e outras infraestruturas turísticas; (iii); Descontentamento dos residentes com a densidade de turistas, dando lugar a protestos e outras formas de manifestação.

Todas estas críticas terão o seu fundo de verdade, mas isso não traduz necessariamente um excesso de turismo. Porventura, refletem a necessidade de encontrar um melhor equilíbrio entre o turismo e a qualidade de vida dos residentes locais, bem como a preservação do meio ambiente e do património histórico, cultural e arquitetónico. Exige um planeamento mais exigente e uma relação e coordenação mais eficazes entre as políticas públicas e o setor privado que é o principal motor do turismo. Faz por isso todo o sentido implementar uma estratégia ESG (ambiente, social e governação), que veja o turismo como um cluster, com uma cadeia de valor muito ampla, favorecendo a integração com outras áreas da economia, como a agricultura, saúde, e transportes, para criar uma oferta mais diversificada, inovadora e atrativa, permitindo gerar mais rendimentos e pagar melhores salários, assim como favorecer uma melhor relação com as comunidades dos destinos turísticos. Em síntese, os temas-chave desta estratégia são: sustentabilidade; inovação, qualificação, qualidade e tradição; compromisso com os stakeholders do turismo em torno das políticas públicas de incentivo ao turismo e da intervenção dos agentes económicos; promoção e comunicação e marketing; e, integração com outras áreas de atividade a montante e a jusante do turismo.