IVONE DIAS FERREIRA | ivoneferreira85@gmail.com

Todas as autoridades, instituições, associações, sociedades médicas ou fundações ligadas à saúde promovem campanhas, falam, escrevem, publicam, apresentam extensas notícias ou relatórios sobre os malefícios do consumo de bebidas alcoólicas. A conceituada e insuspeita OMS declara que o álcool causa quase 4% das mortes no mundo todo, matando mais do que a sida, a tuberculose e a violência. Hoje o impacto do abuso de álcool é considerado igual ao impacto da dependência em si, o alcoolismo.

O álcool faz mal ao fígado, ao coração, ao sangue, ao cérebro, aos rins, aos músculos, etc, etc,.

Discutiu-se e aprovou-se, o ano passado, na Assembleia da República a redução da taxa de alcoolemia para condutores de automóveis e, apesar de tudo isto, continuamos a assistir, calmamente, ao aumento indiscriminado de eventos e locais onde beber sem controlo é um ato incentivado, elogiado e considerado, até, uma forma de divertimento.

Os festivais de bebidas alcoólicas, promovendo cervejas, vinhos, misturas disto e daquilo, são exemplo concreto do que escrevo. Numa das zonas conhecidas como das mais elegantes e de qualidade turística do Algarve, Vilamoura, anuncia-se uma oportunidade única de se experimentar um longo período de embriaguezes e tudo o que as acompanha. Durante mais de duas semanas, um alegado “festival da sangria” nos jardins do Casino deve, suponho, promover essa bebida, entre as 6 da tarde e a uma da manhã de cada dia seguinte, nos meses de julho e agosto.

Residentes e visitantes de Vilamoura estão, com certeza, muito felizes com a possibilidade de beber, beber, beber e depois vir cá fora, quem sabe, vomitar nos jardins que circundam a tenda em que o “evento” se vai realizar para, logo a seguir, reentrar e continuar a encher o estômago de mistelas que reúnem vinhos de qualquer qualidade, espumantes, mais ou menos baratos e frutas variadas. Quem sabe se, no cume da esfusiante alegria e da desinibição que são características de quem bebe além da conta, esses clientes não possam também criar ou participar num ou outro desacato que acabe menos bem, mas que seja notícia nos media. Não é afinal isso que conta? Ser notícia? Ser famoso, seja lá pelo que for?

Num país em que está provado que os jovens começam, cada vez mais cedo, a consumir bebidas alcoólicas, com todos os efeitos nefastos que daí advêm, numa zona turística que se quer vender cara, que se quer que seja “de famílias”, que afirma promover a qualidade, a segurança e as políticas de sustentabilidade ambiental, de vida saudável, de harmonia com a natureza, etc,.etc, será que se enquadra um festival de bebedeiras de sangria?

Mas, afinal, que poder tem qualquer política de prevenção da saúde, qualquer política de segurança rodoviária, de implementação de conceitos de turismo saudável, familiar ou de qualidade, face ao poder do dinheiro obtido num lucro fácil e rápido, incentivando tudo e todos, jovens e mais velhos, a beber até cair?

Não há OMS, DGS, MS ou ARS que nos valha![1

 



[1]
                [1] OMS – Organização Mundial da Saúde

                DGS – Direção Geral da Saúde

                MS – Ministério da Saúde

                ARS – Administração Regional da Saúde