Mas estas não são as mais frequentes, confirma Arsénio Santos, coordenador do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado (NEDF) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que chama a atenção para aquela que “é já, no presente, a doença mais frequente, o fígado gordo”. Um problema que, juntamente com outros, vai estar em destaque nas XI Jornadas do NEDF, que se realiza a 6 e 7 de outubro, no Hotel Axis, em Viana do Castelo, um encontro que fomenta o debate entre os participantes, “a atualização de conhecimentos e a formação dos médicos internos”.
“Ao contrário das hepatites virais, cujo número tenderá a baixar, e da doença hepática alcoólica, que continua a ser um problema entre nós mas que não tem aumentado em número de casos, prevê-se que o fígado gordo, resultante de maus hábitos alimentares e do estilo de vida moderno, seja cada vez mais frequente”, refere Arsénio Santos. Um aumento que não surpreende, uma vez que, acrescenta, “há uma relação direta entre os excessos da alimentação moderna, o estilo de vida sedentário e o aumento da incidência de fígado gordo. Este aumento tem também relação direta com o aumento do número de casos de obesidade, de diabetes e de dislipidemia, todas elas causa de fígado gordo. E a nossa capacidade para diminuir o número de casos destas doenças, e para as combater, passa essencialmente pela educação das pessoas para fazerem uma alimentação mais saudável, com menor consumo de gorduras e hidratos de carbono e maior ingestão de vegetais, e para adotarem estilos de vida menos sedentários, com atividade física regular”.
O presente e o futuro das hepatites será outro dos temas em discussão. Um presente que, garante o especialista, “é já muito gratificante, pois temos tratamentos que, embora dispendiosos, são muito eficazes e muito bem tolerados, tanto para a hepatite B como para a C. Quanto ao futuro, a erradicação destas doenças poderá ainda demorar algumas décadas mas é lícito esperar, nos próximos anos, uma diminuição drástica do número de novos casos de infeção e a médio prazo a redução do número de complicações destas doenças”.
Para os internistas, as doenças do fígado vão continuar a ser um desafio, mais ainda porque, tendo em conta que estes especialistas “abordam a pessoa doente de uma forma global, estão em situação privilegiada para continuar a diagnosticar, tratar e acompanhar os doentes hepáticos, pois as doenças do fígado não existem isoladamente, tendo frequentemente implicações sistémicas”. Arsénio Santos reforça que este é um trabalho que os médicos internistas querem continuar a fazer, mas chama a atenção para outro objetivo importante dos que se têm dedicado às doenças hepáticas: “que a nível da Ordem dos Médicos seja reconhecida essa diferenciação de alguns internistas. Durante anos, lutamos pela criação de uma Competência em Hepatologia a que pudessem aceder especialistas provenientes de áreas diversas. Como parece que, neste momento, tal não é possível, por ter sido, há alguns anos, criada a subespecialidade de Hepatologia no seio da Especialidade de Gastrenterologia, parece que a única alternativa será a criação de algo semelhante a que os internistas possam também aceder. Se assim é, que seja esse o caminho mas que se resolva em breve, pois esta indefinição já se arrasta há muito tempo”.
Por: GuessWhat