2000 - 2025 foi num golpe de asa e o passado dia 28, em Querença, quase tão efémero como o soltar de uma rolha de garrafa de celebração.
A Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG) assinalou as bodas de prata cumprindo mais um sumário do programa de “aulas” do projeto Estudos Gerais Livres. A oradora convidada foi Priscila Soares, uma das fundadoras da Associação In Loco. Residente em Querença desde 2003, dedica-se desde sempre à cidadania ativa. Priscila Soares foi desafiada a comentar uma comunicação do patrono da Fundação, intitulada  “A educação de adultos em comunidades rurais – actividades comunitárias”. O artigo foi elaborado por Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997), etnólogo, antropólogo e professor, para um curso sobre Educação de Adultos, organizado pela Universidade do Minho, entre Janeiro e Abril de 1978. O texto original do Professor e o ensaio de Priscila Soares integra “Viagens pela obra de Manuel Viegas Guerreiro”, iniciativa que compreende a releitura crítica de textos e livros de Viegas Guerreiro por diversas personalidades, de várias áreas científicas (pode ler-se aqui: https://www.fundacao-mvg.pt/2025/01/26/a-educacao-de-adultos-em-comunidades-rurais/).
 
Respondendo ao repto, a oradora convidada esclareceu: «Dada a insuficiente divulgação da obra do Professor Viegas Guerreiro e a riqueza e pertinência do que defende, preferi optar pela devolução das ideias e propostas concretas apresentadas, seguindo o seu pensamento a par e passo e recorrendo, frequentemente, às suas próprias palavras.» Seguindo o modelo proposto, falou-nos do saber integral que Manuel Viegas Guerreiro defendia. Salientou a necessidade de colocar as pessoas no centro das políticas de desenvolvimento local e da ousadia perene de sempre aprender. Lição ouvida em silêncio absoluto no auditório da Fundação.
 
João Silva Miguel, presidente da FMVG, evocou os anteriores dirigentes, lembrou alguns dos projetos estruturantes da Fundação e destacou, este ano, a participação da Fundação no programa “Ideias a Atos”. «Este envolvimento constitui um voto de confiança e de reconhecimento do empenho da Fundação na ação “Tecendo estórias da aldeia, na aldeia”, microprojecto participativo apoiado pelo Teatro Nacional D. Maria II e pela Fundação Calouste Gulbenkian.» João Silva Miguel acrescentou: «Congratulamo-nos também por ser um dos “final four” na lista de entidades candidatas à certificação de biblioteca sustentável, pela Federação Internacional de Associações e Instituições de Bibliotecas. A Fundação é a única representante portuguesa, ao lado da Croácia, França e Tailândia, na lista de selecionados para a categoria de Melhor Projecto de Biblioteca Sustentável. Saber-se-á do resultado em Agosto próximo, na cidade de Astana, no Cazaquistão.»
 
Do programa fez ainda parte a exibição de uma seleção de nove filmes da mediateca da Fundação em 20 minutos. A sessão revela o lugar onde esta instituição labora nos últimos anos. Dá a conhecer os diversos públicos, evidencia a rede de parcerias e os eixos de atuação nas áreas da Cultura, com ênfase na Literatura, mas também nas do Ambiente, da Educação, das Artes e do Património.
 
Todo um território de ideias e valores que a Fundação se propõe continuar a aprofundar, consolidando projetos, alicerçando de forma sustentável cada iniciativa. Um processo contínuo que irá florir, proximamente, sob este escopo, no 5.ª Festival Literário Internacional de Querença. Na tarde de sábado, estreou-se o filme promocional do FLIQ - Os grandes navios da Terra, homenagem a Lídia Jorge. Em breve, num écran perto de si.
 
Subindo para a Biblioteca Centro de Estudos Algarvios, onde se inaugurou a exposição dos 25 anos da Fundação, somos convidados a pousar o olhar sobre antigos cartazes, antigas telas de eventos idos. Pela escadaria, um colar de fotografias de vários tempos desperta-nos para momentos de que se tem memória, outros não, incitando à descoberta.
 
A exposição, organizada por Ana Poeta, da FMVG, é composta por cinco vitrines, uma por cada lustro de vida da Fundação, e mostra vários documentos, manuscritos, discursos, periódicos, esquissos, prémios, e até uma talega e uma alfarroba. No seu conjunto, contam a história da Fundação. A informação extravasa a biblioteca e encontra-se a cada canto, em instalações artísticas. Visitável de segunda a sexta, entre as 9h30 e as 17h00 com pausa para almoço.
 
Outras atividades mais recentes da FMVG foram dadas a conhecer através da divulgação e distribuição gratuita da revista trimestral da Fundação “Raiz” (https://www.calameo.com/books/007457858a896f631150b)  e da brochura “Nuno Júdice, evocação”, que inclui o ensaio de Lídia Jorge “Nuno Júdice ou A Constelação Perfeita”, proferido em Julho de 2024, em Querença, agora em suporte físico e digital (https://www.calameo.com/books/007457858126d79c15264).
 
Além das entidades oficiais, a celebração de sábado contou com uma forte presença da comunidade e de dezenas de amigos, preenchendo auditório e corredores a ele adjacentes. Geram-se momentos de convívio e de novas memórias envolvendo os residentes de Querença, nacionais e estrangeiros, parte integrante do exercício da Fundação. O reconhecimento do trabalho até aqui realizado e os afetos partilhados neste caminho constituem fonte de motivação para os anos vidouros.