Portugal iniciou ontem, quarta-feira, a sua campanha no Campeonato do Mundo Amador Masculino de Nações, cuja 29ª edição será organizada pela Associação de Golfe do Japão (JGA), sob a égide da Federação Internacional de Golf (IGF), no Karuizawa 72 Golf East, no Japão, a 130 quilómetros de Tóquio, uma estância a uma altitude de mil metros.
Um total de 67 países competirá durante quatro dias, até sábado, dia 13 de setembro, para tentar suceder aos Estados Unidos, que, há dois anos, na Turquia, tiveram a honra de elevar o Eisenhower Trophy pela 24ª vez, um recorde na competição.
O troféu tem este nome em honra do 34º Presidente dos Estados Unidos, um grande entusiasta de golfe. A taça foi oferecida, em 1958, ao Conselho Mundial de Golfe Amador (precursor da IGF), pela associação Friends of American Golf, através da USGA e o R&A. Note-se que o Presidente Dwight Eisenhower recebeu na Casa Branca os delegados fundadores do Conselho Mundial de Golfe Amador.
Portugal tem uma forte ligação histórica a estes Campeonatos do Mundo através do troféu que premeia a seleção feminina campeã, o Espírito Santo Trophy, mas se no setor feminino nunca foi uma força a considerar, já no torneio masculino obteve um honroso 13º lugar em 2010, na Argentina, entre 69 países, numa edição em que Pedro Figueiredo foi 9º classificado individualmente.
A seleção nacional masculina participa pela 21ª vez, levando três jogadores, num misto de experiência e juventude, e é uma equipa que poderá ainda oferecer garantias daqui a dois anos, no Mundial de 2016, no México.
Nuno Campino, o selecionador nacional da FPG, convocou João Carlota, de 24 anos, o vice-campeão nacional amador, que ainda há duas semanas foi o segundo melhor jogador da seleção da Europa Continental, competição em que esteve invicto nos seus dois singulares; Tomás Silva, de 21 anos, o bicampeão nacional amador, recente 9º classificado no Campeonato da Europa Individual Amador; e Gonçalo Costa, de 19 anos, que no ano passado foi vice-campeão no Campeonato Internacional Amador da Alemanha para o escalão de sub-18 (vulgo German Boys).
João Carlota disputa o seu segundo Mundial e é o mais experiente dos três, enquanto Tomás Silva e Gonçalo Costa competem pela primeira vez no Eisenhower Trophy. A delegação lusa ao Japão integra os treinadores profissionais Nuno Campino e David Moura e é liderada pelo presidente da Federação Portuguesa de golfe, Manuel Agrellos, a desempenhar em simultâneo o cargo de capitão de equipa.
FORMATO
O World Amateur Team Championship/Eisenhower Trophy, que decorre em cada dois anos, joga-se ao longo de quatro dias. Cada jornada é composta por uma volta de 18 buracos em stroke play (por pancadas) e dos três jogadores em competição aproveitam-se apenas os dois melhores resultados de cada dia. A Federação da equipa campeã fica com o direito de guardar no seu país, durante dois anos, o troféu e os jogadores das equipas classificadas nas três primeiras posições recebem medalhas de ouro, prata e bronze.
CAMPOS
O torneio realiza-se em dois dos quatro campos do Kariuzawa 72 Golf East, inaugurado em 1993: o Oshitate e o Iriyama, desenhados pelo conceituado arquiteto Robert Trent Jones II. O Oshitate Course é um par-71 (33 nos primeiros 9 buracos e 38 nos segundos 9), de 6.406 metros, que tem a particularidade de terminar com um buraco de Par-6 de 719 metros! O Iriyama Course é um Par-72 (36 no front nine e 36 no back nine), de 6.405 metros.
RESULTADOS DE HOJE
O primeiro dia foi favorável a bons resultados e estabeleceu-se um novo recorde na competição, o de 65 jogadores e 67 equipas terem conseguido bater o Par dos campos, batendo o recorde do Mundial de 2004.
O torneio é liderado por três países empatados com 134 pancadas, 10 abaixo do Par: Canadá, Suécia e Suíça, tendo estes países jogado no mais acessível Iriyama Course.
Individualmente, o melhor resultado foi do sueco Marcus Kinhult, nº4 do ranking mundial amador, com 65 pancadas, 7 abaixo do Par. Este jogador, de apenas 18 anos, foi, há duas semanas, liderado pelo capitão português Miguel Franco de Sousa na seleção da Europa Continental de sub-18 do Jacques Leglise Trophy.
Portugal jogou hoje no Iriyama Course e partilha o 34º lugar (entre 67 países) com a Malásia e Hong Kong, com 143 pancadas, 1 abaixo do Par. Foi, portanto, um dos países que contribuiu para a quebra do número de equipas a baterem o Par numa mesma volta.
Para o resultado nacional contou o bom desempenho de João Carlota, que surge em 27º empatado na classificação individual, com 69 pancadas, 3 abaixo do Par, sendo de assinalar que não sofreu nenhum bogey e converteu 3 birdies! O segundo resultado nacional a ser contabilizado foi o de Gonçalo Costa, de 74 pancadas, 2 acima do Par. Também ele fez 2 birdies, mas perdeu pancadas em 4 buracos. De fora ficaram as 80 pancadas de Tomás Silva, 8 acima do Par, resultantes de 1 triplo-bogey, 6 bogeys e 1 birdie.
HISTÓRICO DOS JOGADORES PORTUGUESES
João Carlota foi o único dos três portugueses presentes no Japão a ter jogado anteriormente num Mundial. Foi há dois anos na Turquia, em Antalya, onde foi 119º classificado individualmente, com 227 pancadas (voltas de 82, 70 e 75), 13 acima do Par. Devido ao mau tempo, houve apenas três voltas e não quatro. Veja-se como a superior experiência em dois anos o levou a entrar hoje mais solto, menos nervoso.
HISTÓRICO DE PORTUGAL
A melhor classificação de sempre de Portugal no Eisenhower Trophy foi o 13º lugar em 2010, na Argentina, entre 69 países, numa edição igualmente encurtada para 54 buracos.
Portugal jogou com Pedro Figueiredo, José Maria Joia e Manuel Violas e “Figgy” alcançou a nossa melhor classificação individual, um 9º lugar, superando o já bem positivo 16º de Nuno Henriques em 2006, na África do Sul.
São de Pedro Figueiredo e de Ricardo Melo Gouveia as melhores voltas de um português (dos registos da IGF, pois há lacunas nestes arquivos, designadamente nos anos de 1988, 1992 e 2006). Ambos somaram 68 pancadas na segunda volta do Mundial de 2012, na Turquia.
Dos registos disponibilizados pela IGF, o histórico da participação portuguesa em Mundiais é o seguinte:
1958, Escócia, 27º (em 29 países), 1.048 pancadas.
1969, Estados Unidos, 29º (32), 1.035.
1964, Itália, 31º (33º), 1.025.
1970, Espanha, 28º (36), 939.
1972, Argentina, 18º (32), 927.
1976, Penina (Portugal), 31º (38), 977.
1980, Estados Unidos, 33º (39), 984.
1986, Venezuela, 29º (39), 926.
1988, Suécia, 31º (39), 972.
1992, Canadá, 27º (49), 891.
1994, França, 28º (45), 915.
1996, Filipinas, 32º (47), 912.
1998, Chile, 32º (52), 905.
2000, Alemanha, 29º (59), 897.
2002, Malásia, 34º (63), 454 (3 voltas).
2004, Porto Rico, 26º (66), 436 (3 voltas).
2006, África do Sul, 21º (70), 573.
2008, Austrália, 31º (65), 587.
2010, Argentina, 13º (69), 445 (3 voltas).
2012, Turquia, 32º (72), 431 (3 voltas).
DECLARAÇÕES DO SELECIONADOR NACIONAL
Nuno Campino, selecionador nacional (ou treinador nacional, como oficialmente o cargo é designado) da FPG, foi campeão nacional, quer como amador, quer como profissional e fez a seguinte análise antes do início da prova:
«São jogadores, todos eles, com muita experiência, com resultados que têm vindo a melhorar ao longo da época. Acredito que temos uma boa equipa para representar o nosso país. São os melhores jogadores neste momento.
«Tomas Silva: Mostrou toda a sua classe no Europeu Individual. O trabalho dele tem sido melhor e os resultados têm melhorado. É um jogador com um potencial incrível, tecnicamente dos melhores jogadores portugueses.
«João Carlota: Tem sido um grande jogador internacional e, antes de um Mundial, nada melhor que a sua convocação para o St. Andrews Trophy. É um jogador que tem evoluído muito tecnicamente e estrategicamente, e isso tem influenciado os seus resultados. Se continuar a trabalhar, vai ter um grande futuro.
«Gonçalo Costa: Sabe bem das suas capacidades e sabe jogar bem este desporto. Apenas tem de acreditar no que anda a treinar para os resultados aparecerem».
DECLARAÇÕES DO TREINADOR NACIONAL ADJUNTO
David Moura foi campeão nacional de clubes por Vilamoura e tornou-se profissional de golfe, sendo também licenciado em Educação Física. É o treinador adjunto nacional da FPG e o coordenador do Projeto Drive, que fomenta o golfe junto das faixas etárias mais baixas. David Moura acompanhou esta equipa masculina desde o início, até o selecionador nacional se poder juntar ao grupo.
«Tivemos uma viagem de quase 17 horas de voo com escala no Dubai, só chegámos um dia depois e correu tudo bem, exceto os sacos de golfe não terem chegado ao mesmo tempo do que nós, ficaram no Dubai, de qualquer forma não nos causou qualquer transtorno, pois no dia 6 de setembro não se podia treinar nem jogar, ainda decorria o último dia do Campeonato do Mundo das senhoras.
«No dia seguinte já com os tacos de golfe, mas ainda trocados do fuso horário, já tínhamos autorização da organização para treinar no campo de treino, passámos o dia a treinar em vários aspetos do jogo. Assim como nos dois dias seguintes, realizámos as duas voltas de treino, uma em cada campo, já com a presença do Treinador Nacional Nuno Campino, tendo este já um conhecimento mais profundo dos dois campos de golfe em questão, devido a ter estado presente na semana passada no Espirito Santo Trophy com a seleção feminina. As suas instruções técnicas e táticas foram muito importantes para a elaboração do plano de jogo que cada jogador nacional irá adotar neste torneio, um aspeto fundamental na preparação mental.
«A nível físico, todas as rotinas planeadas e ideais (pré-competitivas) foram realizadas, desde do primeiro dia até ao inicio do torneio, partindo de exercícios de maior para menor carga física, exercícios esses de potência, resistência, força, estabilidade e mobilidade. Os jogadores também cumpriram com outras rotinas de aquecimento e alongamentos já adquiridas ao longo do ano pelo preparador físico da Seleção Nacional José Pedro Almeida. Para além disto, houve tempo para umas massagens e uns jogos lúdicos ao fim da tarde de “footvolley” para promover o convívio e espírito de equipa.
«Manuel Agrellos, presidente da Federação Portuguesa de Golfe e Capitão da nossa Seleção Nacional esta semana, tem dado um excelente apoio e promovendo um bom espírito e coesão de grupo».
OS JOGADORES E SUAS DECLARAÇÕES
João Carlota
24 anos
Clube de Golfe de Vilamoura
2 vezes vice-campeão nacional amador
2 vezes top-ten do Campeonato Internacional Amador de Portugal
11º no Campeonato da Europa Amador Individual de 2013 e 41º em 2014
1/16 final no British Amateur 2014
2º melhor (invicto) da Europa Continental no St. Andrews Trophy
Tricampeão nacional de clubes
2ª Participação num Mundial: 119º na Turquia 2012
«É uma honra representar Portugal ao mais alto nível. Tenho boas memórias da Turquia. Foi uma experiência nova, mas boa. Estava ainda um bocadinho imaturo a nível de jogo e da gestão das emoções, que foram muitas. Foi difícil gerir isso tudo, mas houve um saldo positivo. O resultado não foi o que esperávamos mas saí de lá com muita aprendizagem feita e este ano parece-me promissor.
«Este ano é diferente, sou eu a transmitir as boas emoções aos outros dois jogadores que se estreiam. Os meus dois colegas de equipa são bons jogadores e ansiamos por um grande desempenho.
«Sinto que vai ser uma semana muito importante para mim, porque estão aqui os melhores do Mundo. Este ano joguei o British Amateur e fiquei entre os 32 primeiros. É quase um campeonato mundial mas este é que é mesmo o Campeonato do Mundo, com os três melhores de cada país. É aqui que vou tirar as minhas conclusões sobre se estou ou não ao nível dos melhores.
«Sinto-me bem, o meu jogo está bom e jogar pela seleção da Europa Continental deu-me estofo para chegar ao Mundial bem preparado».
Tomás Santos Silva
21 anos
Club de Golf do Estoril
Campeão nacional amador 2010 e 2014
Vencedor da Taça FPG 2009 e 2012
Participação no Europeu de sub-18 de 2009
9º no Europeu Individual masculino 2014
«Fiquei muito contente com esta convocação. É um enorme orgulho representar Portugal seja em que competição for quanto mais num Mundial. Vou dar o meu melhor.
«Será a minha primeira participação na prova e sempre que se representa Portugal sente-se o peso de jogar pelo país, mas, por outro lado, sinto que se estou cá é porque pertenço aos melhores. Há um certo nervoso miudinho mas também uma motivação de darmos o nosso melhor.
«A experiência de ter ido este ano pela primeira vez ao Europeu por equipas e também ao individual é claro que conta para este Mundial. Quanto mais competição internacional tivermos melhor nos adaptamos às condições de jogo, melhor reagimos aos erros. E eu joguei bem em ambos os Europeus.
«Desde o início do ano que tenho vindo a jogar bem e os resultados provam-no. O treino é que me tem permitido melhorar. Estou a treinar mais e melhor».
Gonçalo Costa
19 anos
Lisbon Sports Club
Campeão do torneio do Circuito Liberty Seguros / FPG em Montebelo 2014
Campeão no Open Pro-Am da Ilha Terceira / PGA de Portugal em 2012
2º lugar no German Boys International 2013
138º no Europeu Individual 2014
«Fiquei muito contente com a convocação, apesar de já estar mais ou menos à espera, mesmo se este ano não me correu lá muito bem. Foi uma convocação justa, que refletiu o trabalho que tenho feito este ano.
«Vai ser o meu primeiro Campeonato do Mundo e há alguma ansiedade, mas é tudo uma questão de manter o tipo de trabalho que venho fazendo e esperar que os resultados apareçam neste Mundial.
«Neste momento sinto-me bem. Tenho treinado bem, muito, com persistência, levando as coisas mais a sério. Parecendo que não, com a alteração que fiz nos treinos, as coisas estão a começar a ir ao sítio.
«É a data perfeita para o Mundial. Não poderia pedir mais. O Mundial vem quando ainda não regressei às aulas e pude treinar mais. Nós chegamos do Japão no dia 16 e as aulas começam nesse mesmo dia.
«Como é o meu primeiro Mundial, falei com o João Carlota e ele disse-me que é um torneio incrível, uma experiência única que tenho de aproveitar para mais tarde recordar.
«É, sem dúvida, o torneio mais importante que alguma vez joguei».
Por FPG