Com os dados do Turismo de Portugal (relativos ao 1.º semestre de 2023) a anteciparem um excelente ano para o golfe turístico, os agentes ouvidos pelo Publituris confirmam esta realidade, embora admitam que esta podia ser melhor.

Bastaria mexer no “campo” do IVA e colocar no “green” uma estratégia consistente a nível internacional.

Para alguns conotado como atividade ou desporto para os mais abastados, para outros como um elemento essencial na diferenciação da oferta turística nacional, fundamentalmente, para o exterior, o golfe turístico em Portugal equivale, segundo dados da International Association of Golf Tour Operators, a cerca de 2 mil milhões anuais em receitas anuais, cálculos pré-pandemia, ou seja, a cerca de 10% das receitas a atividade turística nacional na altura.

Em novembro de 2023, a análise do Turismo de Portugal referente ao 1.º semestre do mesmo ano, dá conta que os primeiros seis meses registaram uma utilização média por campo ao nível mais elevado desde que há registo.

Ora, tal como em toda a atividade turística que sofreu impactos nunca antes sofridos nos anos 2020 e 2021 devido à COVID-19, estar, em meados de 2023, a mostrar este tipo resultados só poderá significar uma coisa: também o golfe turístico está no caminho da total recuperação.

Isso mesmo foi confirmado por alguns agentes do golfe turístico que atuam no nosso país, como é o caso do Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort, afirmando António Ferreira da Silva, Golf Sales Diretor da unidade, que este campo, bem como o West Cliffs, “destacaram-se com resultados superiores à média nacional”. O responsável referiu ao Publituris que, em comparação com 2022, 2023 (dados até final de novembro) foi o ano com “a maior procura”, indicando “aumentos de 9% na utilização, superando o crescimento nacional que se situou nos 2%”.

A sul, mais precisamente, no campo de golfe de Espiche, em Lagos, Ana Sequeira, gestora de Marketing e Vendas do Espiche Campo de Golfe, refere que no ano que agora terminou se atingiu o patamar das 39.000 voltas, ou seja, “o melhor ano a nível de voltas de golfe”.

A passagem do IVA do golfe de 6% para 23% “fragilizou muito a atividade face aos outros destinos e impossibilitou voltar a esses números”, João Pinto Coelho (Onyria Golf Resorts)

Também a sul, no Domes Lake Algarve [unidade que recebe muitos turistas para o golfe e tem diversas parcerias com campos e operadores neste segmento, mas não tem campo de golfe inserido no hotel], João Jesus, diretor-geral do Domes Lake Algarve – Autograph Collection, refere que, com a reabertura a acontecer em abril de 2023, não se sentiu esse impacto positivo, embora saliente que, com o hotel em operação durante alguns dos meses com maior procura por parte de cliente deste segmento, “beneficiou-nos bastante comparativamente com anos anteriores”.

Aberto também em abril, o campo de golfe do Ombria não possui dados históricos, mas Salvador Costa Macedo, diretor de Golfe do Ombria, salienta “um crescimento exponencial da procura para os meses de setembro, outubro e novembro”.

Na capital, João Pinto Coelho, diretor de Vendas do Onyria Golf Resorts, é menos exuberante na análise e apelida 2023 como um “ano positivo”, mas ainda longe de ser ano recorde”. Esse é [o tal recorde] 2010, precisamente um ano antes do IVA do golfe passar de 6% para 23%, o que na opinião do gestor, “fragilizou muito a atividade face aos outros destinos e impossibilitou voltar a esses números”.

De resto, João Pinto Coelho aponta a competitividade do destino golfe como “fortemente impactada”, admitindo que os grandes beneficiados foram os concorrentes Espanha e Turquia”.

Competitividade posta em causa
A competitividade também é chamada à razão por parte do responsável do Praia D’El Rey que a diz “comprometida por um fator fiscal desfavorável”, frisando que, “comparativamente, os países concorrentes beneficiam de taxas de IVA inferiores, diminuindo, assim, a margem para que os nossos campos reinvistam e se posicionem de forma equitativa no mercado”.

“O crescimento e desenvolvimento da modalidade a nível nacional recai, acima de tudo, nos clubes”, Salvador Costa Machado (Ombria)

No campo da competitividade, o executivo do Ombria aponta o dedo à “falta de apoio político à modalidade e setor”, referindo que as entidades (e Turismo também) “parecem ainda não entender a fulcral importância que o setor golfe tem no turismo, no combate à sazonalidade, na criação de emprego, na contribuição do PIB”. Essa falta de apoio político assenta, segundo Salvador Costa Macedo, basicamente em quatro vetores: “Impostos (IVA 23%); Falta de iniciativa para resolução da mais importante commodity, a água, em que soluções existem (utilização águas residuais) mas sem vontade para as resolver; Apoio do turismo na promoção do setor a nível nacional e mercado internacional, com realização de eventos desportivos com impacto global e mundial e coordenação entre as várias regiões para promovermos Portugal, como destino de golfe, na sua totalidade; e Maior capacidade de conseguir novas ligações aéreas e reforçar voos nos mercados já consolidados, onde ainda podemos crescer”.

A falta de conectividade aérea é, também, aponta por João Jesus, assinalando que, “apesar de todos os esforços efetuados pelas entidades publicas responsáveis pelo turismo na região do Algarve, continuamos a ter algumas lacunas na disponibilidade de voos para o destino dos principais mercados emissores, nomeadamente Alemanha e Escandinávia”

Com a procura do golfe a concentrar-se no período entre fevereiro e maio e depois entre setembro e novembro, o diretor-geral do Domes Lake frisa que a “grande concentração de voos acontece entre abril e outubro, ou seja, não cobre toda a temporada alta de golfe”.

Com a questão da água [ver texto seguinte] a ser um dos pontos indicados como “urgentes” por Ana Sequeira, e que “necessita de ser tratado com a maior seriedade para que possamos manter este desporto vivo”, também “algum estigma associado por ser considerado um desporto de luxo” leva a que sejam necessárias “iniciativas para atrair mais praticantes nacionais assim como, uma melhoria na sustentabilidade dos campos”.

“Não acredito que exista massa critica em Portugal para equilibrar o mercado, principalmente nos campos designados como ‘Comerciais’”, João Jesus (Domes Lake Algarve)

Aposta contínua
Com o mercado de golfe turístico a ser, maioritariamente, internacional, “como atrair mais praticantes nacionais, de forma a equilibrar o mercado, é a pergunta que todos nós fazemos há vários anos e, a meu ver, não tem existe uma solução rápida ou mágica”, admite o diretor do Praia D’El Rey.

Contando, hoje, com cerca de 18 mil federados, tendo estado muitos anos estagnado nos 15 mil, este aumento foi fruto de vários fatores, como, por exemplo, “o processo de democratização da modalidade que a federação tem vindo a fazer junto da comunidade; o aumento de torneios transmitidos na televisão, a integração de celebridades na iniciação do golfe, e os programas de iniciação amplamente difundidos pelos campos de golfe e pela federação”, considera António Ferreira da Silva, pelo que João Pinto Coelho destaca que “é preciso continuar o programa desenvolvido pela Federação Portuguesa de Golfe e apostar em formatos e modalidades mais fáceis de jogar e com menor duração”.

Também Salvador Costa Machado é da opinião que “o crescimento e desenvolvimento da modalidade a nível nacional recai, acima de tudo, nos clubes”, considerando que “são eles os responsáveis pela criação, através de programas de iniciação, protocolos com escolas locais, academias, profissionais de ensino”.

“As empresas proprietárias dos campos de golfe têm toda a disponibilidade para, com os seus Clubes de Golfe, encontrar soluções para fazer chegar a modalidade a cada vez mais pessoas, mas não pode acontecer sem o apoio da Federação Portuguesa de Golfe, com programas de formação de treinadores, apoio de material de ensino e campanhas marketing para que o golfe seja cada vez visto como uma modalidade que pode ser jogada por todas as pessoas”, assinala o responsável do Ombria.

A competitividade do golfe turístico em Portugal está “comprometida por um fator fiscal desfavorável”, António Ferreira da Silva (Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort)

Da parte do Domes, João Jesus afiança que, “quer nós [hotéis] quer os campos de golfe, gostaríamos muito de receber mais clientes golfistas nacionais, mas não acredito que exista massa critica em Portugal para equilibrar o mercado, principalmente nos campos designados como ‘Comerciais’ (que são a maioria e em oposição aos campos maioritariamente para ‘Sócios’)”.

Já as dúvidas quanto aos principais mercados parecem ser bem menores, apontando os cinco responsáveis ouvidos pelo Publituris os mesmos: Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Holanda, Escandinávia, Países Baixos, França, não havendo entre os ouvidos quem tenham referenciado os EUA.

E com a concorrência internacional, como referiu o presidente do Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG), Nuno Sepúlveda, a renovar as infraestruturas, também em Portugal há que procurar saber se os campos existentes correspondem às exigências dos praticantes que nos visitam ou se está na altura de realizar renovações e atualizações nos mesmos.

João Pinto Coelho é perentório ao afirmar que “os campos em Portugal têm muita qualidade e todos os anos tem havido atualizações e novas aberturas”, sendo no Ombria a opinião é de que a atualização dos campos de golfe decorre de uma “natural atualização e investimento gradual necessário em qualquer setor de atividade, admitindo mesmo que, no caso dos campos de golfe, em Portugal, “até podemos referir que estamos na vanguarda, já que estamos constantemente à procura de maior eficiência na utilização de recursos, menor impacto ambiental, maior sustentabilidade a todos os níveis”.

“Bons olhares” para 2024
Com um novo ano a iniciar, o diretor de Vendas do Onyria Golf Resorts coloca a tónica na incerteza, devido às “guerras, volatilidade de taxas de juros e realidade política a nível nacional e internacional”.

Otimismo é o que reina a sul, com a responsável do Espiche Campo de Golfe a revelar que “temos perspetivas para crescer e atingir o patamar das 40.000 anuais”. Isto apesar de admitirem “dificuldades económicas por toda a Europa que acabam por se refletir no número de viagens de golfe agendadas pelos principais mercados emissores para Portugal”.

Também no Algarve, Salvador Costa Macedo vê um 2024 com “bons olhos”. Até porque, segundo diz o diretor de Golfe do Ombria, “o perfil de reservas está a regressar a valores pré-Covid (6 a 9 meses de antecedência), mercado dos EUA a crescer, embora ainda residual comparando com o Reino Unido, Países Baixos, Suécia ou Alemanha, mas sem dúvida com potencial”.

De resto, frisa o responsável, “com a abertura de dois novos campos de golfe em Portugal, durante o ano de 2023 – Ombria Algarve e Terras da Comporta – e com a previsão de abertura de mais dois novos campos em 2024, Portugal está novamente a consolidar-se como um dos principais destinos de golfe mundial”.

Na região de Óbidos, António Ferreira da Silva assinala que “as reservas de golfe turístico são, geralmente, realizadas com bastante antecedência, o que nos permite perspetivar que 2024 se apresenta como um ano promissor, com a expectativa de superar os resultados de 2023”.

“A nível nacional, fatores como a inauguração de dois novos campos de elevada qualidade, em 2023, investimentos significativos na melhoria de vários ativos na região Sul e Centro do país, e a inauguração da nova rota aérea direta entre os EUA e Faro a partir de maio de 2024 reforçam as perspetivas de um aumento na procura”, conclui o Golf Sales Director do Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort.

 

Publituris