“Foi um dos grandes poetas do início do século XX e, estranhamente, desaparecido da literatura”, disse Fernando Cabrita na sua abordagem inicial à vida e obra de João Lúcio, para quem o poeta “é cativante”. Nascido em Olhão em 1880 e falecido em 1918, foi relegado injustamente à categoria de poeta local, quando esteve ao nível dos grandes poetas da Renascença.
Filho de um abastado proprietário rural do concelho, diz Fernando Cabrita que o jovem neto do primeiro juiz de Olhão, também advogado com curso tirado em Coimbra, primava pela “elegância, porte e saber estar perante os outros. Andava sempre de luvas e nunca lhe faltava um ramo de flores na lapela do casaco”.
“Uma criança a revelar-se genialmente”, disse sobre ele Teixeira de Pascoaes, quando o jovem João Lúcio, acabado de chegar a Coimbra, lhe mostrou os seus poemas. Para além dele, o jovem olhanenses ficaria também amigo de figuras ilustres como Augusto de Castro, Alfredo Pimenta, Afonso Lopes Vieira ou Augusto Gil.
Em 1901 publicou o seu primeiro livro, Descendo, aclamado com louvor pela crítica da época e onde João Lúcio faz “uma peregrinação ao fundo das coisas”.
Fernando Cabrita destaca também a convicção monárquica do poeta olhanense dando-se, com a instauração da República, um afastamento de João Lúcio. Em 1902 regressou a Olhão, depois da sua incursão por Coimbra.
Dois anos depois de Descendo, João Lúcio publicou O Meu Algarve e ainda Na Asa do Sonho (1913). Espalhando Fantasmas foi publicado postumamente, em 1921. O poeta e advogado morreu a 4 de outubro de 1918, com apenas 38 anos, vítima da pneumónica que assolou a região. Viveu pouco tempo, com a família, no chalé que havia construído nos Pinheiros de Marim e que ainda hoje é uma referência da arquitetura pela sua originalidade.
Quem acabou por divulgar muita da obra de João Lúcio, já após a sua morte, foi Francisco Fernandes Lopes, outro ilustre olhanense, que três anos depois do seu desaparecimento, promoveu uma palestra sobre o poeta, tendo sido um grande sucesso.
“A partir de 1980 houve um ressurgimento de João Lúcio e republicam-se todos os seus poemas. Muitos e grandes escritores e poetas passaram a escrever sobre João Lúcio”, recorda Fernando Cabrita. Também em 1981 a Câmara Municipal de Olhão, a propósito das comemorações do I Centenário do Nascimento do Poeta João Lúcio, lançou a Obra Poética de João Lúcio.
Por: CM Olhão