Por F. Inez

Perdem-se na imensidão e lonjura dos séculos os primeiros vestígios da nossa Terra … a antiga e nobre Vila, hoje Cidade de Loulé. Percorrem 7 mil anos da sua História as peças em exposição no Museu Nacional de Arqueologia., do mais povoado concelho algarvio, desde a Pré-História até à Época Medieval.

Não obstante ser um dos períodos mais mal conhecidos da nossa História, é hoje consensual o passado histórico entre dois mundos … o árabe e o cristão … árabes que aqui permaneceram 500 anos e de que só nos libertámos em 1249 pela conquista cristã levada a cabo por Dom Paio Peres Correia, Cavaleiro e Mestre da Ordem de Aviz, ao serviço de El-Rei Dom Afonso III … figura maior da nossa História e hoje quase esquecido … com o seu nome numa “ruazinha” bem pequenina … conquanto historicamente bem localizada à entrada do Castelo. Mas deixemos este riquíssimo período histórico também repleto de lendas e de mouras encantadas … deixemo-lo para os historiadores e para os estudiosos e fixemos a nossa atenção na segunda metade do século passado e no primeiro quartel deste século XXI … aquilo a que costumamos chamar os nossos dias … naquilo a que assistiram e vêm assistindo as últimas 3 ou 4 gerações … avós, pais, filhos, netos … e para os mais felizes contemplados   … até mesmo bisnetos, a quinta geração!

É inevitável vir-nos à memória as tão características indústrias do calçado, do cobre e da latoaria … quem não se lembra do barulho ensurdecedor da Rua dos Latoeiros … a ligar o Mercado à Matriz … e das lindíssimas peças de cobre que enchiam de orgulho os louletanos, mas também dos objetos de barro, da olaria e da cerâmica … que nos proporcionavam de entre outras utilidades, a água fresquinha no verão … numa época em que ainda não existiam os frigoríficos … e hoje, na sua maioria, transformados em  objetos de artesanato, mais ou menos decorativos … e a industria da palma e do vime  … com os saudosos cestos e cestinhos e as alcofas e alcofinhas … que tanto jeito nos deram … e hoje também na sua maioria resignadas ao mercado turístico do artesanato.  Quem hoje não sente saudades do espetáculo deslumbrante das amendoeiras em flor … hoje secas e atrofiadas, cada vez mais raras … com uma florinha aqui e outra ali … a atestar um passado de que os algarvios se orgulhavam. …  São dessa época algumas figuras carismáticas … como Manel da Baracinha … que calcorreava as ruas da Vila sempre com um molhe de palma debaixo do braço … que tecia permanentemente … mas também exímio tocador de sinos, que no campanário da Igreja de São Francisco se encarregava de forma magistral e impecável, de anunciar missas, casamentos, batizados e funerais, com toques diferentes para cada uma daquelas cerimónias.

Era também nessa época que calcorreava as ruas da nossa Vila a célebre Maria das Bananas … figura carismática que muitos julgavam possuída por espíritos …  percorria as ruas da Vila, sempre de cigarro na boca, muitas vezes em ritmo marcial, com uma voz … ora aguda … ora grave …  quase masculina … e que se destacava também pela forma garrida como se vestia … predominantemente de vermelho.

Mas eis-nos chegados aos anos 60-70 … a partir daí, vamos começar a assistir ao imparável “boom” turístico que se instalou em todo o Algarve … e que ainda hoje não dá sinais de abrandar … a caótica urbanização sobranceira e próxima do mar e das praias, que transformou de forma desordenada …  agrediu e destruiu grande parte da beleza natural da costa marítima algarvia! Vilamoura, Quinta do Lago e Vale do Lobo são hoje nomes mágicos que no concelho de Loulé cintilam no mundo do turismo internacional. São dessa época a fábrica de cimento da Cimpor, para suportar o enorme crescimento da construção civil e que ainda hoje continua a sua laboração, e a fábrica da cerveja Unicer, encerrada alguns anos atrás.  

A profusão das chamadas grandes superfícies comerciais … Supermercados e Centros Comerciais … modificou radicalmente os hábitos da população residente … as velhas mercearias passaram à história … e, com exceção do ramo da restauração, estão a condenar irremediavelmente o pequeno comércio. Ao contrário das zonas marítimas onde o pequeno comércio prospera a olhos vistos, nas zonas do interior … uma hoje … outra amanhã … vão encerrando as suas portas … e esvaziando dramaticamente as zonas mais antigas da nossa cidade que definham tristemente todos os dias! Loulé bem se esforça com a sua Festa da Mão Soberana … que enche de fé e de esperança o coração dos louletanos e de quem nessa época nos visita … com o Festival Med, com a Noite Branca e outras manifestações culturais … mas falta-lhe a beleza e o encanto das ondas do mar! O tempo tudo leva … fica a saudade …