Para além das boas intenções, das leis, da presença habitual nos discursos, da disseminação pelas campanhas eleitorais de mandatários para a deficiência, o que é verdade é que a realidade é bem mais dura, pois é no quotidiano que se notam as deficiências nas obras, as falhas nos apoios e o desrespeito por quem tem de enfrentar uma vida muito mais recheada de dificuldades.

A deficiência, seja ela de que natureza for, obriga o portador a viver verdadeiros infernos com as barreiras físicas e humanas que diariamente tem de enfrentar, seja tentando deslocar-se no interior dos espaços urbanos, seja tentando aceder à maior parte dos serviços públicos e autárquicos, seja ao ter de lutar pelo estacionamento da viatura ou pela prioridade no atendimento.

Em número muito significativo, os familiares mais íntimos têm de se tornar psicólogos, enfermeiros e cuidadores dos seus que, por força de doença, acidente ou da idade vêm diminuídas as faculdades físicas e ou intelectuais.

O cidadão portador de deficiência é também portador do estigma social suscitado, por um lado, pela curiosidade mórbida ou pela comiseração humilhante e, por outro, pela indiferença dos governantes nacionais e locais, que recusam sistematicamente a aplicação de soluções adequadas e gastam mal os dinheiros públicos em exibições de grande “compreensão e estima” pelos deficientes que se limitam a produzir números estatísticos.

Os cidadãos portadores de deficiência não são cidadãos de primeira com descontos fabulosos nos impostos. Ao contrário, são cidadãos que, para além das limitações que transportam, têm ainda de enfrentar um mar de despesas, recorrendo normalmente à família para poderem encarar a vida e os custos com reabilitação, ajuda de terceira pessoa, remédios, fraldas, algálias e muitas mais.

Pesem embora as preocupações com os assuntos da deficiência e da reabilitação diariamente manifestadas nos mais diversos fóruns políticos, o panorama não é famoso. As ajudas financeiras são parcas e altamente insuficientes, entre salários para ajuda diária e necessidades especiais que facilmente ultrapassam os mil euros por mês. Quem paga o restante? A família, pois claro!

Também no atendimento especializado contamos com os Centros de Medicina Física e de Reabilitação, altamente especializados e prestadores de serviços notáveis. São, no entanto, poucos e nem sempre dispõem dos recursos financeiros e humanos necessários ao seu bom funcionamento e à intervenção médica e técnica oportuna dos que deles necessitam.

Não sendo famoso o panorama, resolveram juntar-se num MOVIMENTO DETERMINANTE alguns cidadãos portadores de deficiência, seus familiares e cuidadores, visando a promoção e defesa dos direitos, liberdades e garantias desses cidadãos e das suas famílias.

Não pretendemos substituir-nos ao Serviço Nacional de Saúde mas, com o apoio de todos, vamos concretizar o sonho de muitos instalando infra-estruturas que apoiem o dia a dia dos cidadãos com limitações, libertando os Pais/ Cuidadores para que estes possam usufruir de algumas horas do dia em seu provento, libertando-se momentaneamente das preocupações constantes, permitindo-lhes usufruir de mais qualidade de vida.

Pretendemos ajudar o Estado e a sociedade portuguesa a entender melhor as particularidades da vida destes cidadãos especiais e das suas famílias e a adequar os apoios às suas necessidades.

Pretendemos ajudar os autarcas a adequar os espaços públicos e as edificações e a promover a sua acessibilidade para que qualquer pessoa, com ou sem deficiência, os possa franquear, evitando-se as exclusões que se abatem sobre quem tem limitações.

Em súmula, pretendemos ajudar o Estado a adequar as suas despesas, pretendemos ajudar a melhorar a vida dos cidadãos portadores de deficiência e dos seus familiares e cuidadores e pugnar pelos direitos e ajudas que para tal se imponham.

Pretendemos ainda lembrar que é nos Centros de Medicina Física e Reabilitação que o cidadão, que foi vítima de acidente ou de doença, recupera alguma da sua qualidade de vida e que, nos tempos correntes, a saúde desses centros vitais encontra-se necessitada de um apoio sério e decidido, a prestar de imediato, através da recomposição do seu pessoal e da dotação dos materiais necessários à sua atividade.

No entanto, vimos também apelar à colaboração, à sã solidariedade porque este como todos os problemas mais sérios da sociedade só se resolvem com a participação de todos. Só com uma atitude mais interessada da sociedade podemos almejar que o cidadão portador de deficiência encontre respeito, que os cuidadores possam, também, ter direito à sua vida e que os amigos possam ajudar na medida das suas possibilidades e competências.

 

Por: Movimento Determinante