Homem “singular no olhar, são-brasense de coração, que à sua partida deixa saudade imensa pela sua dimensão de artista e sobretudo pela grandeza dos Homens Simples, que sempre trouxe no seu sorriso” e eterno defensor dos ideais do “25 de Abril de 1974”. Quis o destino que partisse exatamente a 26 de abril de 2020.
João de Azevedo nasceu em 1950 na Figueira da Foz e nessa cidade começou a expor as suas obras, como artista plástico, entre 1964 e 1967.
A participação em exposições individuais e coletivas continuou em Itália, nomeadamente em Roma, a cidade eleita pelo artista para residir até 1976. É nesse país que viria a conhecer José Afonso, quando esteve estava com Francisco Fanhais em Itália para gravar o disco República, para o qual João Azevedo foi convidado a escrever um texto de apresentação. Posteriormente, será o artista plástico o autor das ilustrações do disco "Com as minhas tamanquinhas", de José Afonso, editado em 1976.
Entre 1977 e 2001, João continuou a sua viagem pelo Mundo, uma inspiração constante para os seus trabalhos artísticos. Viveu também em Moçambique, Níger e Timor, onde trabalhou como consultor nacional e internacional, para a Comissão Europeia e para a Organização das Nações Unidas, como perito de cooperativas e de avaliação. Essa passagem por Timor-Leste, em 2005 e 2006, valeu-lhe a série de pintura intitulada "Crocodilos" e uma outra "Refugiados".
A partir de 2007, viveu sobretudo entre os Países Baixos e Portugal, onde desde há mais de três décadas mantinha morada, no sítio de Alportel. Em 2012, São Brás de Alportel teve o privilégio de receber uma mostra dos seus trabalhos artísticos, numa exposição na Galeria do espaço “Zem Arte”, entretanto transformado em restaurante “4 à Mesa”.
Passados dois anos, em 2014, quase cinquenta anos depois da sua primeira exposição, regressa à sua terra natal com «A voz do crocodilo». Realizou várias exposições na Associação José Afonso, no Núcleo de Lisboa, uma em 2015, “Com as minhas tamanquinhas”, outra em 2018, pelo 6º aniversário do Núcleo sob o tema “Refugiados/atravessamentos”, na qual é recordado como “detentor de uma técnica de desenho e pintura poderosos, tendo por base cores fortes e magnéticas que definiam ambientes de variadas culturas e marcavam fortemente o seu estilo”.
Em 2019, ilustrou o livro "Táxi", do professor de Literatura Portuguesa da Universidade Nova de Lisboa, Fernando Cabral Martins. Foi também datada deste ano, sob o título “Ó Zeca canta para o povo!”, a última exposição de João de Azevedo, na Casa da Cultura em Setúbal, na última edição da Festa da Ilustração.
João de Azevedo é ainda autor de todas as capas das agendas da Associação SOS Racismo, e em 2020 dedicou uma aos "genocídios modernos e atuais".
Inesperadamente, o artista adoeceu no Senegal e faleceu em Lisboa, no dia 26 de Abril de 2020.
Considerando “tratar-se de um ser humano da mais distinta referência, um artista plástico com trabalhos de exceção, que tanto deu ao seu país e ao mundo, revelando-o no nosso concelho”, e recordando o seu valioso percurso e legado para as artes plásticas e o seu nobre exemplo de altruísmo e luta pela defesa de várias causas como cidadão do mundo, envolvendo-se e solidarizando-se com a sua arte, o executivo municipal são-brasense aprovou, por unanimidade, a 12 de maio, um voto de pesar pelo falecimento de João de Azevedo e endereça sentidas condolências aos seus familiares.
Por: Câmara Municipal de São Brás de Alportel