Ivone Dias Ferreira | ivoneferreira85@gmail.com

Cheguei a casa depois de um fim-de-semana prolongado fora do Algarve e, naturalmente, abri a caixa do correio para saber quem me tinha escrito ou que contas tinham chegado para pagar. (O IRS já não me assusta porque liquidei-o há já algumas semanas…)

A caixa guardava apenas uma folha A4 dobrada ao meio e quando a abri pude ler o seguinte texto impresso a letra Times New Roman, tamanho 48: “Ao proprietário do cão que uiva toda a noite informo que já dei queixa e está sinalizado na Polícia. O cão tem de deixar de ladrar.”

Não era comigo nem para mim. Não tenho nenhum cão. Percebi, por isso, que talvez o vizinho queixoso, sem saber de que andar vinham os uivos do cão, tinha resolvido avisar toda a gente…

Não deixa de ser verdade que, uma ou outra vez na semana, sobretudo à noite (claro que quem trabalha durante o dia só pode ouvir os uivos do cão à noite…), oiço uns uivos tristes de algum cão, ou cadela, sei lá, que deve ter sido deixado sozinho pelos donos.

Também é verdade que já dei por mim a resmungar qualquer coisa como “quem será o idiota que deixa o pobre do cão sozinho? Terá fome? Bom, vamos lá ver se ele se cala…”. Mas depois ligo a televisão, ou ponho um CD e o som abafa, claramente, os uivos do pobre animal.

Até tenho quase a certeza de que ele vive ao meu lado. Ora se alguém teria de se queixar, seria eu. E não o fiz. Para que conste.

Mas nessa noite, na noite em que cheguei e li o referido aviso/ameaça sobre o cão, uma criança chorou, gritou, soluçou horas a fio num dos andares de cima.

Ao outro dia o choro repetiu-se e tem sido assim durante quase toda a semana. Mais, este fim-de-semana acordei, logo de manhã (num dos únicos dois dias em que não ponho o despertador a tocar bem cedo) com os “saudáveis” gritos da criança.

E foi aí que eu me lembrei do aviso/ameaça sobre o cão que uiva. Será que a mesma pessoa que participou à polícia o seu incómodo com os uivos do cão também terá participado os gritos da criança?

Ambos incomodam, mas só o cão é alvo das ameaças do vizinho com um grau de audição muito elevado.