Naquela cidade algarvia de forte tradição pesqueira, o litão é muito apreciado como substituto do bacalhau, e na praça de Olhão a procura de litão aumenta muito nos dias que antecedem a Consoada.
“Na noite de Natal não pode faltar” na mesa dos olhanenses, assegura à agência Lusa Ana Oliveira, uma vendedora de peixe, acrescentando que o litão se vende o ano todo, “mas muito mais” nesta época.
O peixe era consumido, no início, pela classe mais pobre, sobretudo as famílias de pescadores, mas há já várias dezenas de anos que todas as famílias, em Olhão, comem litão, principalmente no Natal, explica Ana Oliveira.
Atualmente, é mesmo um manjar mais caro do que o bacalhau e é servido guisado (à moda de Olhão) ou acompanhado com feijão branco (feijoada de litão).
Francisco Ribeiro, comerciante de peixe, que seca o litão, não tem dúvidas em afirmar que, em Olhão, as pessoas preferem este peixe ao bacalhau: “As pessoas gostam mais de litão, não gostam de bacalhau, é mais a tradição da terra”, diz.
Depois de pescado, o litão é aberto (escalado), passado por um pouco de sal e posto a secar ao Sol durante quatro ou mais dias (dependente da radiação), após o que é guardado alguns meses até ser consumido.
O litão, como tradição de Natal, é usado, essencialmente, em Olhão, mas há também quem na zona raiana de Faro e de Tavira o confecione na Consoada.
Este peixe é, ainda, muito consumido nalguns locais do sul de Espanha, e há quem o aproveite em fresco, principalmente para fazer caldeirada.
O porto de pesca de Olhão estava, antigamente, repleto de litões pendurados em estruturas montadas pelos pescadores, mas agora é quase impossível encontrar o peixe a secar na rua devido ao receio da intervenção da autoridade que assegura a segurança alimentar e a fiscalização económica, ASAE.
A seca do litão à porta das casas dos bairros mais populares de Olhão também desapareceu, uma prática que era tradicional até há poucos anos.
“Antigamente, era secado em casa, mas agora a nossa ASAE não permite, não deixa as pessoas ter este peixe a secar”, lamenta Renato Mendonça.
Este cozinheiro e proprietário de um restaurante na zona ribeirinha de Olhão também se orgulha de servir o litão como era confecionado pela sua avó, “em branco”, uma base de cozinhado “com muita cebola e alho, em azeite”.
“O litão é o prato dos olhanenses. Na noite de Natal, toda a gente, que eu saiba, come o litão”, diz Renato Mendonça orgulhoso da tradição da sua terra.
Por: Lusa