Por: Mendes Bota | Deputado à Assembleia da República

Discretamente, como sempre foi na vida, Arménio Aleluia Martins anunciou no seu cantinho direito da página três o fim da linha no voo de “A Avezinha”, assim, meio despercebido num jornal que em mais lado nenhum dá a entender ser aquela a última edição a sair da rotativa. Ironicamente, autarcas poderosos ocupam página inteira a parabenizar o jornal pela passagem do seu 93º aniversário, e vaticinam longa vida a um pássaro à beira do último suspiro neste dia dezassete de julho do ano de dois mil e catorze da graça não se sabe bem de quem. Nesta agonia derradeira, não há uma linha de publicidade institucional, aquele oxigénio que poderia ter permitido um voo mais longo. São coisas da vida. Há nascer, viver e morrer. Por vezes, quem sabe, há renascer, há cinzas e há fénix. As crises não partem nem voltam. Elas são permanentes, apenas mudam de roupagem e de cor, entranharam-se no corpo e na alma das gentes. Se pensarmos bem, vivemos sempre em crise, atrás de uma outra veio e virá, assim sempre foi, assim será. Nesta hora de tristeza, ficarão nos arquivos milhares de páginas que retrataram genuinamente, de boa fé e espírito positivo a saga de uma freguesia (Paderne), um município (Albufeira) e uma região (Algarve). A memória dos seres humanos é muito curta, o papel ajudava a preservá-la, o digital é efémero, na voragem da inovação tecnológica, auto-destrutiva numa cavalgada imparável. 

Os jornais, tais como os conhecemos, desaparecerão a curto prazo. Deste serviço público de informação e comunicação de proximidade, de um barrocal entre a serra e o mar, prestado em quase um século de existência, sobra o seu principal intérprete das últimas décadas, Arménio, a quem é devida justa homenagem pela fidelidade intocável à identidade cultural da sua terra e das suas gentes. Pela escrita, pela música, pela dança, pelo folclore, pelo artesanato, pelo desporto, pela poesia, pela filantropia e solidariedade, este Homem tem sido um dos mais intrépidos defensores da alma, dos valores e do património da Região do Algarve, aquém e além fronteiras. Sempre leal, alma sensível e delicada, a ele devo uma Amizade sincera, um apoio sem contrapartida à minha actividade de homem público, a companhia de muitas jornadas. Regionalistas nos encontrámos, regionalistas permanecemos. E é assim que desejo vê-lo por muitos e bons anos ainda, ferido na asa mas de coração ardente, voando na sua águia querida, mas com propósito de pomba branca, pela paz que o mundo precisa. Obrigado!