Por F. Inez

Foi sempre o sonho do Homem possuir um belo jardim florido … a criação humana dos lugares propícios à contemplação, ao relaxamento do espírito, ao lazer e à conciliação com a Natureza! Todos conhecemos a História dos Jardins do Eden … o Paraíso … onde Deus criou Adão e Eva e onde cederam à tentação de comer a maçã … o fruto proibido.

Mas talvez não seja preciso ir tão longe … a História dos jardins começou nas cercas dos conventos e dos santuários … eram então espaços de exclusão do mundo e de contemplação, de oração e de estudo … foi assim que Gregório Mendel, frade agostiniano, biólogo e botânico, cultivou as suas ervilhas e descobriu as Leis da Hereditariedade.

Mais tarde passaram a ser lugares privilegiados da Realeza e da Aristocracia e, a partir dos finais do sèc. XVI aos poucos foram dando lugar a espaços de alamedas e jardins públicos. Hoje são locais de lazer e distração, adequados ao recreio, ao bem-estar, e à contemplação, propícios à poesia …  “nos jardins dos poetas florescem versos que curam as dores da alma” … mas também à pintura e outras manifestações artísticas.

Alguns contam estórias impressionantes sobre os seus povos e sobre a sua cultura … outros são verdadeiras obras de arte … como os célebres Jardins Suspensos da Babilónia, mandados construir pelo Rei Nabucodonosor no séc. VI aC, para consolar a sua desolada esposa, saudosa dos bosques da sua terra natal … é uma das sete maravilhas do mundo.

Hoje, até são rotas turísticas … como os Jardins Históricos de Portugal. Tantos são os jardins célebres e com história, no nosso País … que me ocorre citar pelo menos dois, ambos em Coimbra … já que bem os conheço.  O Jardim Botânico, de grande dimensão, instalado em terrenos doados pelos frades Beniditinos, criado com o objetivo de apoiar os estudos da História Natural da Botânica, na Universidade, implementado pelo Marquês e Pombal. Desenvolvido em vários patamares, escadarias e avenidas, é hoje considerado um dos mais conceituados em todo o mundo … pela enorme diversidade e exotismo das suas espécies vegetais.

É também em Coimbra que vamos encontrar a celebérrima Quinta das Lágrimas, hoje hotel de charme, que eternizou a tragédia romântica dos amores entre o então Infante Dom Pedro e Dona Inês de Castro e cujas águas avermelhadas pelas lágrimas e pelo sangue derramado por Inês, assassinada a mando do Rei Dom Afonso III, ainda hoje, na Fonte dos Amores e das Lágrimas, continuam rubras, decorridos mais de seis séculos desta tragédia. Muitos outros espaços lúdicos artisticamente floridos e espalhados por esse País fora, poderíamos continuar a descrever … mas interessa-nos dar uma olhadela pelo que se passa na nossa Terra … em Loulé … já que nos parece que já conheceram melhores dias.

O crime urbanístico cometido pela destruição do jardim do Largo de São Francisco, fez desaparecer para sempre aquele ambiente bucólico e amoroso que ainda hoje indigna e revolta os louletanos … mas que bem podia … se para isso houver vontade … ser recuperado … o que lá restou é uma sombra da sua anterior beleza! O célebre Jardim dos Amuados, por razões que desconheço, parece continuar fechado ao público … impedindo os visitantes de desfrutar de um interessante recanto e de uma bela panorâmica de parte da cidade … pelo que nos restam o Parque da Cidade e a Avenida José da Coata Mealha. O Parque, razoavelmente cuidado, provavelmente pela sua localização periférica e sem atrativos lúdicos, nunca foi verdadeiramente adotado prelos louletanos. O nosso “amigo” Dom Finório disse um dia que a Avenida José da Costa Mealha, mais conhecida pela Avenida do Carnaval, e sala de visitas da cidade, era o único jardim do mundo sem uma única flor! E … assim parece continuar a ser! É confrangedor o abandono e o desprezo pelo seu conteúdo arbóreo e floral … Se excetuarmos a bela floração primaveril dos jacarandás … tudo o resto permanece incompreensivelmente abandonado! É uma pena …