Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Uma árvore é uma semente que cresce devagar e em silêncio” (Bruno Munari).

Diante de um tempo que pulsa acelerado e onde as vidas se vão edificando, tantas delas, sem raízes e memórias, na complexidade dos ciclos, momentos, espaços e idades em que vamos tecendo a nossa própria vida e interioridade, por vezes vertiginosamente, consumindo sem nada consumarmos, estando presentes, mas não inteiros, assaltou-me num habitual momento dedicado à leitura estas sapientes palavras.

Partilho-as com os estimados leitores porque sinto que cada vez mais é urgente reaprendermos a arte da procura interior, pensarmos com profundidade contemplativa e não só reflexiva a realidade onde estamos, o que nos habita e desejamos habitar.

E também fazê-lo na calçada do religioso ou da crença, como cristãos. Convoquemos para isso os jovens, sinais de um presente em construção e sementes de esperançoso futuro. Sinto muito necessário abrir-se na cidade, porque não no renovado espaço tão simbólico entre nós, o “Calcinha”, um momento sapiencial constituído sobretudo por uma partilha “ecuménica” de saberes, credos, filosofias, humanismos, onde não falte a poesia.  

Acredito e experimento que o cristianismo pode e deve também continuar a oferecer um caminho de maturação que nos relance nessa aprendizagem e busca. Numa orientação onde nos possamos reencontrar na nossa vocação mais sublime. Porque hoje, vivemos imersos num tempo em que cada vez mais nos sentimos vazios e por isso mesmo sôfregos de atenção, de atividade e de consumo.

Gastamo-nos pela obsessão da omnipotência, vivendo profundamente capturados pelos tráficos das redes, onde predomina o sensível, o excitante e somos incapazes de desconectar, devorados pela obsidiante solicitação do que dá prazer, das chamadas estradas da cidade que nunca dorme, chamem-se elas: e-mail; whatsapp; Facebook; Twitter ou Instagram.

Perante uma sociedade que parece afirmar-se cada vez mais pelo conhecimento, mas cada vez mais débil, gerindo incertezas, hipotecando o futuro; num tempo onde não se mede e saboreia o que se conhece, onde não se gosta de ler e não se sabe ler os sinais dos tempos; numa sociedade inteligente onde a sabedoria já não se afirma pelas mãos, pela consciência e pelo coração mas por processos, mas tantos deles sem ajudarem a aprender, onde não interessa conhecer, maturar e gasta-se as oportunidades e o tempo em reparações, sem se valorizar as emoções e as mediações.

É urgente passar-se de tudo isso para uma verdade que, plenamente nos dê nova forma, entidade, nos reconfigure em nossa identidade e missão.

As palavras sugestivas sobre a imagem da árvore do designer italiano que partilhei, é a este respeito bastante sugestiva. Precisamos da paciente espera dos que arroteiam a terra e do silêncio.

Não nos deixemos sequestrar pela propaganda sedutora e interpretativa de tantas ideologias, que se propõem como caminhos imediatos e fáceis para uma existência matura, livre e plena, distraindo-nos do caminho essencial, da busca mais urgente, de uma reconfiguração necessária, que ajude e contribua para se apurar e aprofundar a verdade da existência, que dê acesso ao pleno sentido que almejamos.