Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“A Palavra fez-se carne: estabeleceu a tenda entre nós” (Jo 1, 14). O Natal é acontecimento divino, que nos faz perceber que toda a existência humana é um dom. O Natal é esse acontecimento misterioso e profundo da Palavra eterna que, se faz carne na pessoa de Jesus, o Menino, nascido no silêncio, na fria noite de Belém.

Essa era uma localidade periférica, curiosamente chamada a “terra do pão”, aquela que viu nascer o verdadeiro alimento do Céu, mas onde a fome crescia como a injustiça e a pobreza, de vidas sem pão e sem frutos, sem chão e horizonte.

Essa Palavra é o veículo mais belo e fecundo da comunicação de Deus a este mundo. Esse Menino é a Boa e feliz Notícia, o Evangelho de Deus para todos os confins da terra, o Seu abraço a todos os famintos de sentido, de felicidade e de paz. O seu nascimento é, na verdade, o acontecimento que se vive e celebra em cada Natal.

O sentido da festa em família, dos presentes partilhados, das mesas dispostas à partilha e comunhão e do feriado. Mas a verdade profunda do Natal ainda falta cumprir, como o sublinhou magistralmente Miguel Torga, já no longínquo Natal de 1974: “Natal do que prometeu, / só bonito na lembrança. / Natal que aos poucos morreu/ No coração da criança, / Porque a vida aconteceu/ Sem nenhuma semelhança”.

Na verdade, o presépio de Belém, indica-nos o grande sinal: este Menino é o Filho Unigénito de Deus colocado como luz e garantia que Ele é a fonte e o sentido da História, a esperança que não confunde nem desilude.

Mas já pouco tem a ver a verdade do Natal com as nossas vidas preenchidas de outros deuses, da azáfama hodierna e desusada das crianças, dos jovens e dos velhos, das famílias e dos grupos, das ruas e das praças enfeitadas a cores diferentes; a multiplicação das festas e a distribuição de prendas e bons desejos. Vender. Comprar. Gastar. O Natal do ter, do consumismo trasvestido de Céu. O desejo de o tornar coisa nossa. Banal. Ritualizado.

Uma história. E a verdade do Natal é o acolhimento dessa Criança que nos recorda e diz que os olhos de Deus estão abertos para o mundo e para cada homem. Deus não se fechou no seu Céu e não permanece mudo.

Inclina-se sobre um mundo que cresce. Haverá sempre Natal onde o coração de cada homem for a humilde manjedoura, onde o olhar se fixar na verdadeira Estrela que, brilha no infinito dos céus a indicar o caminho, onde a terra deixar brotar o rebento da justiça, da esperança e do amor.

Em cada Natal é pedido que tenhamos lugar para Ele nas hospedarias das nossas casas e do nosso coração, que saibamos envolvê-lo nos humildes panos da nossa fragilidade e da nossa existência e aprendamos sempre a recostá-lo ao nosso colo com temor e ternura. É Natal porque Deus vem!