Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Grava-me como selo em teu coração” (Ct 8, 6). Todos os anos, ainda que com outras expressões e palavras, assim se diz o amor. Em Dia de São Valentim. Assim o dizem, em data comemorativa, os que celebram a sua união amorosa como casais e namorados. Assim o dizem, talvez sem conhecer a história do santo que a Tradição ou a Lenda fazem memória, a quem se pede fortalecimento e proteção.

Assim se diz para cantar a afeição e a ternura. E, no entanto, se ouve ainda dizer, que a palavra amor já está gasta. Que o amor já não é fogo que arde sem se ver, tão instrumentalizado na sua verdade mais profunda. Dizem-nos que já não é ferida. Um reiterado percurso de espinhos que conduz à rosa.

Na verdade, no amor, que estamos dispostos a amar?  Ampliemos o nosso olhar, refaçamos o coração e salvemos o amor. Porque já não se ama para começar a amar, para recomeçar do infinito. Porque os horizontes do amor são ainda um chão estreito e confinado. E assim, o amor já não é cantado como a coisa mais divina que há no mundo. Já não se vive, cada segundo, como nunca mais. Porque hoje o amor parece temer o tempo. É realidade que se transforma de hora em hora. E para muitos dos que dizem amar o tempo já não é eterno. Todavia, somos sedentos de amor.

Por isso as reiteradas chamadas de atenção para não se esquecer a data para celebrá-lo. Um dia de muitas e variadas cores, de sugestivos e criativos slogans, de eficientes promoções e ofertas, de frases resgatadas e oferecidas, proclamadas ou ilustradas, de muitas palavras literárias cheias de sonho e romantismo.

Porque é importante celebrar o amor. Mas é urgente salvá-lo! E salvamos o amor quando não emudecemos a verdade e na alegria, percorremos e consolidamos caminhos. Salvamos o amor quando preparamos, livres e responsavelmente, compromissos que selem fidelidade e comunhão. Que sejam duradoiros e fecundos. Salvamos o amor quando se consolidam amizades.

Quando protegemos, cultivamos e aprendemos a morrer. Quando moramos na casa do outro e edificamos pelo diálogo uma relação franca e honesta. Quando a vida já não é um monólogo e o futuro uma ameaça.

Salvamos o amor quando ele deixa de ser só um sentimento, até descartável, um estado psicossomático, uma técnica, um desejo instintivo ou narcisista. Salvamos o amor quando na beleza de existirmos, ainda que num sítio tão frágil como o mundo, lugar de imperfeição, somos capazes de dizer: és importante para mim! “(…) Eu te amo porque te amo. /Amor é estado de graça/ e com amor não se paga. /Amor é dado de graça, / é semeado no vento, /na cachoeira, no eclipse. /Amor foge a dicionários/ e a regulamentos vários./ Eu te amo porque não amo/ bastante ou demais a mim./ Porque amor não se troca,/ não se conjuga nem se ama./Porque amor é amor a nada,/ feliz e forte em si mesmo./ Amor é primo da morte,/ e da morte vencedor,/ por mais que o matem (e matam)/ a cada instante de amor (Carlos Drummond de Andrade).