Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Observai os lírios do campo” (Mt 6, 28). Vivemos num tempo de profundas e significativas mudanças. Isso deve constituir um imenso desafio à vida de todos nós. Não podemos e não devemos ignorar ou relativizar. O tempo de crise é tempo de oportunidade. É neste tempo que se torna, cada vez mais, urgente e prioritário, redescobrir novos caminhos que alimentem a esperança e o desejo de felicidade, as fontes de sentido fundamentais sem as quais a própria existência perde o seu sabor e horizonte. Hoje, experimentamos e sabemos, diante da sede que nos consome enquanto caminheiros e perante os novos areópagos onde tecemos a vida, que muitas águas nos dessedentam.

Já não nos orientamos mais por bússolas, por essas fontes de sentido que trilhávamos e onde se asseguravam procuras e alicerçavam sonhos. Talvez sintamos que é preciso voltar a afinar, iluminar, retificar a consciência, libertá-la da nebulosidade da cegueira e do medo. Porque perdemos o norte. Cada vez mais, somos caminheiros sem bússola. Na verdade, já não estamos ligados a uma direção precisa. Vivemos imersos no relativo e no provisório, numa profunda anorexia humana e espiritual. O tecido humano parece estar em farrapos, imerso no vazio duma nudez que já não envergonha. Vive-se numa insidiosa globalização da superficialidade. Precisamos voltar a tocar nas cordas do coração e da alma. De acordar e de levantar.

De dar sentido e profundidade à vida e ao amor. De trazer ao mais profundo de cada um de nós as perguntas fundamentais para a viagem que nos move: o que nos está a ser narrado? Por que estradas estamos a edificar a vida e a alimentar os sonhos? Que vias desejamos percorrer? Não nos deixemos domesticar e preencher por radares, que complexificam as buscas. Desejemos mais procurar sinais do que os receber. Preocupemo-nos em os saber interpretar. Não gastemos mais o tempo a opinar, a murmurar e a concluir do que a refletir, a aprofundar e a questionar. Assolados por uma profunda crise de mudança de época, de identidade e de valores, não permitamos que estes deixem de ter peso e sentido. Ouçamos e credibilizemos, de novo, a religião, a política, a ética, a cultura, as artes. É urgente a purificação do olhar. Repropor caminhos. Ensinar a interpretar. Valorizar perguntas. Contemplar o necessário e fundamental para a vida, deixando-nos extasiar pelo seu infindo mistério. Recomeçar. Acreditar que quanto mais feridos, tanto mais fontes nos são dadas. Observemos juntos os lírios.