Ricardo J. Proença

São inúmeras as notícias com referência à economia portuguesa que no conjunto do ano 2021, o seu Produto Interno Bruto (PIB) registou segundo os dados do INE, um crescimento de 4,9%. A última vez que crescemos assim foi nos anos 90. 

No entanto, há uma questão que pode ser levantada: não será o cálculo do PIB uma métrica ultrapassada nos dias de hoje?

São inúmeros os economistas que atualmente criticam a forma como o PIB, é calculado nas economias mundiais, isto porque na opinião de muitos, é uma métrica que ignora coisas que não têm valor monetário e apenas se centra nos outputs económicos, tais como a soma total de todos os bens e serviços que um país produz todos os anos.

 Mas vamos a exemplos disruptivos, como é o caso recente na abordagem que a Nova Zelândia está a tomar para remodelar o cálculo do seu PIB.

A Nova Zelândia estabeleceu uma “Estrutura de Padrões de Vida”, que mede o bem-estar da nação e não apenas o bem-estar económico do país. Uma espécie de Felicidade Interna Bruta, que é um indicador económico que está a ganhar terreno, sobretudo nas empresas multinacionais e em Portugal existem até empresas líderes na chamada “economia da felicidade”.

Este exemplo da Nova Zelândia, teve por base no Índice de Bem-Estar da OCDE, que faz um mapeamento do bem-estar das nações, através de indicadores como: a educação, qualidade do meio ambiente, saúde, engagment cívico entre as comunidades, satisfação pessoal, work-life balance e a tão falada força do sistema democrático dos países e a eficácia das suas Instituições Públicas.

No caso do work-life balance ou em bom português, equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, este indicador é comparado por exemplo com o rendimento das famílias, para assim se apurar e medir a influência do rendimento através da via profissional na vida pessoal dos indivíduos e respetivas famílias.

Outro indicador a realçar, é a força do sistema democrático e a eficácia das suas instituições públicas. Este indicador é seriamente importante nos dias que correm, onde vivemos com populismos e ceticismos em diversas nações europeias e que atentam de certa forma as liberdades conquistadas no século passado, que nos levaram a desenvolvimentos económicos e melhoria de vida das populações.

E aqui é essencial, portanto, garantir medidas como um mapeamento recorrente dos índices de satisfação das populações, avaliando assim a eficácia governamental de um país, de forma a que se garanta uma maior “accountability” das políticas implementadas pelos governos. Isto é algo que infelizmente se faz muito pouco nas diversas economias mundiais.

No caso de Portugal, este indicador infelizmente deixa a desejar, sobretudo na ineficiência do seu sistema de justiça, onde o atraso nos processos é crónico e percetível atualmente pelas populações, sendo até considerado como um indicador desfavorável para o bem-estar e respetivo desenvolvimento económico e social de uma nação. Os últimos dados do Índice de Bem-Estar da OCDE, destacam que os indicadores com mais importância para os portugueses, são a saúde, satisfação pessoal, segurança e o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. E agora uma questão final: têm sido implementadas nos últimos anos políticas públicas de qualidade que promovam e melhorem os indicadores acima referidos? É certamente uma questão a ser respondida certamente num próximo artigo de opinião.

É certo, que a mudança está aí à vista. O PIB como medidor de bem-estar económico como conhecemos é uma métrica de enorme utilidade, ainda assim, nos dias de hoje está a tornar-se obsoleta e não reflete o real bem-estar das populações, nem o dinamismo que muitas economias mundiais vivem.

Há bons exemplos lá fora e nós por cá temos os ingredientes certos para uma reformulação da análise económica do nosso país: um deles é clima atrativo da região do Algarve, que certamente é um “ativo” importante e que tem impacto no bem-estar das pessoas.

Autor: Ricardo Proença Gonçalves é licenciado em Gestão de Empresas e PósGraduado em Gestão de Unidades de Saúde, pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve. Detém também um Executive Program em Controlo de Gestão e Avaliação de Performance pela Nova SBE. É igualmente membro estagiário da Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas.