André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

A invasão da Ucrânia às ordens de Putin, veio mostrar a grande fragilidade da Europa em matéria de segurança e defesa comuns. Não para fazer a guerra, mas para evitá-la, dando respaldo a uma credível e efetiva capacidade de projeção de diplomacia coerciva e de poder de dissuasão.

Os tiranos e ditadores só são travados pela força ou pela perceção que dela têm.

Todavia, esta invasão, contrariamente ao que seriam as expetativas de Putin, mostrou que afinal a Ucrânia existe, enquanto povo, e apesar da disparidade de forças militares, não hesita em defender-se com todas as forças que tem e com base nos valores que defende, que são os da democracia contra a tirania. 

A invasão da Ucrânia teve também o condão de unir a Europa e o mundo, condenando-a veementemente. A amplitude e a intensidade das sanções impostas à Rússia, sejam elas económicas, desportivas, contra oligarcas russos, ou outras, não têm precedentes nas últimas décadas.

A condenação e o vexame a que a Rússia foi sujeita na recente Assembleia Geral das Nações Unidas, em que apenas 4 países se colocaram a seu lado, e que na verdade não contam na cena internacional, é bem sintomático de que o mundo se uniu contra tamanha barbaridade. Perante as ameaças, a Europa mudou, e continuará a mudar, porventura mais neste espaço de tempo curto do que em muitas décadas.

A NATO reganhou um novo sentido para a sua missão e as relações euro-atlânticas entre a Europa e os Estados Unidos ganharam um novo elam. Mesmo países com uma história de neutralidade, por razões diversas, como a Suiça, a Finlândia, a Suécia, estes dois últimos ponderando a aproximação à NATO, reequacionam a sua segurança e defesa.

É, no entanto, na Alemanha, onde se verifica uma autêntica revolução, tanto pela decisão do chanceler Olaf Scholz de suspender o gasoduto Nord Stream 2, como pela determinação imediata de afetar uma verba 100 mil milhões de euros para uma nova geração de aviões e de carros de combate, o que lhe permitirá ultrapassar a fasquia dos 2% pretendida pela NATO.

Ao contrário do que supostamente pretenderia Putin, que era dividir e fraturar o Ocidente, o efeito está a ser exatamente o contrário, reforçando a sua unidade, muito particularmente no seio da União Europeia e nas relações euroatlânticas.

Mesmo a abstenção da China no Conselho de Segurança sobre a Ucrânia é sintomática de que muito dificilmente se verificará uma aliança perene com a Rússia, a não ser circunstancialmente visando o enfraquecimento estratégico dos Estados Unidos. Ainda não se sabe quando e como Putin vai parar.

Mas, seguramente que a União Europeia vai ter de avançar na construção de novas capacidades de defesa que proteja as suas fronteiras, sobretudo reforçar a sua política de segurança e de defesa comuns, mas também uma diversificação das suas cadeias de abastecimento energéticas e, bem assim, uma transição energética envolvendo a cooperação ativa dos países da União Europeia no novo mix energético.