Scott McGill inaugurou ontem o seu palmarés ao conquistar uma primeira etapa de final atribulado na Volta a Portugal em bicicleta, que não alterou as contas da geral, apesar do camisola amarela Rafael Reis ter chegado à meta «cortado».

O ciclismo, recordou Reis, é imprevisível e, ontem, após uma monótona tirada, demasiado longa (193,5 quilómetros desde Vila Franca de Xira) e demasiado quente, uma queda trocou as voltas ao pelotão: após um estreitamento perigoso, Tomas Contte (Aviludo-Louletano-Loulé Concelho) caiu e causou um efeito ‘dominó’, que apanhou Tiago Antunes (Efapel) e quase derrubou o líder da geral.

“Mesmo na placa dos últimos três quilómetros, estava um estreitamento muito perigoso. E, depois, aquilo foi uma confusão: muita gente fora do separador, fora da barreira dos três quilómetros. Depois, entraram numa rotunda outra vez, depois saíram. Acabou por haver uma queda à falta de dois, ia-se a muita velocidade. Houve alguém que ficou gravemente lesionado, vi bicicletas partidas, e eu acabei por me conseguir salvar. Levei só uma canelada”, descreveu o ciclista da Glassdrive-Q8-Anicolor, depois de ver o colégio de comissários atribuir-lhe o mesmo tempo do vencedor da etapa.

Perante o cenário caótico, a vitória de Scott McGill (Wildlife Generation) quase passou despercebida, embora o jovem norte-americano se tenha imposto com autoridade em Elvas, com o tempo de 04:30.28 horas, diante do líder da juventude, o britânico Oliver Rees (Trinity Racing), e de Mauricio Moreira (Glassdrive-Q8-Anicolor), cada vez mais perto da sua melhor ‘versão’ – o uruguaio mantém-se na segunda posição, a nove segundos de Reis, com Rees em terceiro à mesma distância.

A primeira etapa em linha era também a tirada mais longa da 83.ª edição e, como já começa a ser tradição, a LA Alumínios-Credibom-MarcosCar fez as ‘honras’ de inaugurar as tentativas de fuga, lançando para a frente João Macedo, rapidamente alcançado por Fergus Browning (Trinity Racing) e José Maria García (Electro Hiper Europa-Caldas).

Ao quilómetro 16, o trio estava transformado em quarteto, depois de Victor Manakov (ABTF-Feirense) saltar do pelotão para ‘apanhar’ os aventureiros, que nessa altura já tinham quatro minutos de vantagem.

Com Rafael Reis vestido de amarelo, coube à Glassdrive-Q8-Anicolor assumir as despesas da perseguição, uma tarefa partilhada com a Burgos-BH – e a 100 quilómetros da meta, a fuga já só tinha 01.35 minutos de diferença.

Passada a meta volante de Arraiolos, Browning, o ciclista mais novo desta Volta (ainda não cumpriu os 19 anos), parou à espera do pelotão, abdicando de uma fuga que parecia inevitavelmente comprometida quando Manakov descolou.

Mas com mais de 70 quilómetros ainda por cumprir, a Glassdrive-Q8-Anicolor abrandou o ritmo – era demasiado cedo para a escapada acabar - e deixou os dois resistentes sonharem um pouco mais, concedendo-lhes uma margem que superou os três minutos.

“Acabámos por fazer um grande trabalho de equipa. O Afonso [Eulálio] e o Fábio [Costa] estiveram soberbos, se calhar até um bocadinho de mais, porque a fuga estava sempre muito perto”, brincou, depois, o camisola amarela, elogiando os seus jovens colegas responsáveis pelo fim da aventura da jornada.

Na aproximação a Elvas, Macedo, de 20 anos, ficou sozinho na frente e foi tentando por tudo passar isolado na última contagem de montanha do dia, uma missão que falhou por muito pouco, ao ser ‘absorvido’ pelo pelotão a 23 quilómetros da meta, já depois de Moreira avariar, mudar de bicicleta e ainda ter de a ‘afinar’ em andamento.

“Depois da etapa de hoje, no mínimo, queria a camisola da montanha”, lamentou no final o ciclista da LA Alumínios-Credibom-MarcosCar, ‘destronado’ pelo ‘habitué’ Hugo Nunes (Rádio Popular-Paredes-Boavista), que ‘agarrou’ a oportunidade de ser líder da classificação que já venceu em 2020 ao passar em primeiro na quarta categoria de Vila Boim.

Anulada a fuga, estavam reunidas as condições para uma chegada ao ‘sprint’, algo que McGill aproveitou para se estrear a vencer na carreira. “É um alívio”, disparou o jovem norte-americano de 23 anos, que se apressou a telefonar à namorada para contar a boa nova: “tinha de lhe dizer, porque ela estava no trabalho, infelizmente não pôde ver a corrida”.

Quem sabe se no sábado, quando o pelotão completar os 181,5 quilómetros entre Badajoz – a Volta dá um salto a Espanha, acompanhando a tendência de internacionalização das grandes Voltas -, e Castelo Branco, a namorada de McGill não poderá sintonizar a emissão para ver nova chegada ao ‘sprint’, que o ciclista da Wildlife Generation disputará vestido com a camisola verde dos pontos.