André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Dois dos mais prestigiados relatórios internacionais que se publicam anualmente, são o “Global Risks Report” do “World Economic Forum - WEF” e o “Annual Allianz Risk Barometer (Allianz Global Corporate & Specialty)” da seguradora “Allianz”, tendo por base inquéritos bastantes representativos de atores económicos e sociais à escala global.

Vale a pena refletir sobre os principais riscos que estas organizações antecipam, com maior probabilidade de acontecerem e de terem impactos muito significativos sobre as organizações e as sociedades. Assim, o Relatório dos Riscos Globais do WEF para 2022, coloca no topo das preocupações para os próximos dois anos, três importantes riscos: “erosão da coesão social”, ”crises de subsistência” e “deterioração da saúde mental”, os quais vão polarizar a atenção dos líderes políticos e das sociedades, porventura desviando o foco da cooperação internacional que é necessária mobilizar para enfrentar desafios globais inadiáveis, onde se situam os riscos de topo.

São os “riscos ambientais”, nomeadamente o “fracasso da acção climática”, que surgem num horizonte de curto, médio e longo prazo. Na lista, merecem ainda especial realce outros riscos, alguns deles já sinalizados no ano anterior, nomeadamente as “perturbações na cadeia de abastecimento, a dívida, a inflação, as lacunas no mercado de trabalho, o proteccionismo e as disparidades educacionais, todos eles com importantes impactos na vida económica e social.

 Naturalmente que o relatório continua a considerar a Covid-19 como uma ameaça crítica para o mundo, refletindo a desigualdade na vacinação e a desigual recuperação económica, que contribuem também para o agravamento das fraturas sociais e das tensões geopolíticas. Por sua vez, a AGCS (Allianz Global Corporate & Specialty), no que se refere às empresas portuguesas, coloca o “risco cibernético” no topo para 2022, aliás em sintonia com a mesma perceção a nível global, tanto mais que se assiste ao incremento do trabalho remoto e à transformação digital de parte importante das cadeias de valor das organizações e das respetivas atividades, tornando vulneráveis as empresas de todas as dimensões e sectores.

Outro risco de topo sinalizado por este relatório diz respeito à “Interrupção de atividade”, onde se inclui a disrupção das cadeias de abastecimento, aliás já bastante presente em muitos sectores de atividade. Seguem-se as “catástrofes naturais” (tempestades e inundações, sismos e incêndios florestais), associadas nomeadamente às mudanças climáticas, em que relevam as emissões de gases com efeito de estufa, colocando pressão acrescida sobre as empresas. A estes riscos sinalizados por estas duas organizações, dever-se-iam acrescentar outros de natureza geopolítica, nomeadamente os que ocorrem nas fronteiras da Europa, tendo a Ucrânia como palco, podendo ter consequências imprevisíveis.