F. Inez

No já longínquo séc. XVIII, no decurso da chamada Revolução Industrial, a crescente melhoria das condições de vida e o aumento significativo da população que então se verificou, levou Thomas Malthus, clérigo e estudioso britânico, a constatar que a população aumentava a um ritmo muito superior ao do crescimento da produção de alimentos, o que iria inevitavelmente conduzir a uma dramática escassez de alimentos e de fome generalizada.

Todavia, os sucessivos avanços tecnológicos posteriores, na área da agricultura, viriam progressiva e definitivamente a afastar aquela dramática previsão. Estima-se que há 2 mil anos atrás a população mundial fosse de 300 milhões. Houve, ao longo do tempo, períodos de crescimento muito lento e até de declínio, devido a pandemias como a da Peste Negra. Foram necessários mil e 600 anos para que a população duplicasse e chegasse aos 600 milhões, atingindo o primeiro milhar de milhões por volta do ano de 1802, e só mais de 100 anos depois a população duplicou (2 000 milhões) em 1927, atingindo os 3 000 milhões em 1961.

Todavia, foi sobretudo depois da II Guerra Mundial, que a queda da mortalidade devida aos progressos da medicina, às campanhas de vacinação e subsequente quebra da mortalidade infantil e melhoria das condições de vida e de alimentação, que se assistiu a um crescimento muito rápido da população … vindo a atingir em 2021 os 7,9 mil milhões, admitindo-se que possa ainda continuar a crescer. Entretanto … e de forma inesperada … um dos eventos com maior impacto na História Moderna está a desenvolver-se silenciosamente. Sociólogos e economistas concordam que estamos a ir na direção do chamado inverno demográfico que ameaça ter consequências sociais e económicas catastróficas … é que as taxas de natalidade têm vindo a cair progressivamente nos últimos 40 anos. A verdade é que segundo alguns historiadores e demógrafos, pela primeira vez na história, a Humanidade está prestes a entrar num período de declínio demográfico prolongado.

Não obstante o espetacular aumento da esperança de vida das últimas décadas a população começa a diminuir quando a fertilidade cai abaixo dos 2,1 filhos por casal, o que … a prazo … inevitavelmente levará a uma escassez de mão-de-obra, travando os modelos de crescimento económico e de proteção social do passado e originando uma crise de sustentabilidade das pensões e de perturbação dos velhos modelos da Economia, não obstante alguns economistas admitirem que, entretanto, se possam encontrar novos modelos de prosperidade e de crescimento. É hoje cada vez mais frequente que alguns casais optem por não ter filhos, por dificuldades económicas ou por opção própria. Mesmo em países com sistemas de apoio sociais generosos, como a Finlândia, a taxa de fecundidade está próxima da do Japão, a mais baixa do mundo (1,37 filhos por casal). Já foi mesmo calculado que o último japonês virá a desaparecer algures no decurso do séc. XXII. É naturalmente e sobretudo um fenómeno dos países desenvolvidos, uma vez que nos países menos desenvolvidos, como em África, se prevê que a população continue a crescer até ao ano de 2050 … e só a partir dessa data entre em declínio.

Constatam-se hoje também outros fatores como a gravidez cada vez mais tardia e um declínio da fertilidade masculina, por redução da densidade de espermatozoides no esperma humano, admitindo-se que este último fenómeno possa estar associado aos produtos químicos a que estamos expostos. A manter-se, esta situação poderá no limite … nos próximos séculos … conduzir à extinção da nossa espécie … o Homo sapiens … tal como tantas outras se têm vindo a extinguir ao longo dos séculos. A extinção da espécie humana poderá decorrer de causas naturais – declínio da espécie aqui descrito – ou ocasionais como o impacto de asteroides ou mesmo pelo agravamento progressivo das alterações climáticas.

Mas … como ser inteligente que é, temos que admitir como mais provável que o Homem irá encontrando soluções para assegurar a sua própria existência e a continuidade da espécie. Todavia … como sempre … o futuro continua a ser uma página em branco …