Luís Vilhena integrou em fevereiro do ano passado a equipa da Pastoral Prisional de Faro e o trabalho que tem vindo a ser feito ao longo deste ano no Estabelecimento Prisional (EP) da cidade inspirou-o a escrever um livro que será apresentado no próximo dia 29 de março, pelas 17h30, na Biblioteca Municipal.
“A primeira vez que lá fui tocou-me profundamente porque um miúdo, um recluso, fazia anos e o meu filho também. Ambos 23 anos. E ele começou a falar ali de dramas familiares e isso também me apoquentou um bocadinho a alma. Quando comecei a ir todas as terças-feiras, tive vontade de escrever sobre eles”, conta o autor ao Folha do Domingo, explicando que o trabalho de acompanhamento de presos era algo que “já pretendia há muito tempo” fazer.
“Acho que é uma mais-valia abrir esses horizontes, acompanhar os reclusos e dar-lhes uma palavrinha de afeto”, sustenta, explicando que o encontro semanal no EP de Faro serve para reflexão sobre “um tema, uma palavra de vida”. “Mas também ouvimos o que eles dizem. É sobretudo mais para isso, para estarmos disponíveis para ouvir os desabafos deles sem juízos de valor. E eu tenho isso aqui escrito no livro, esses encontros”, realça.
 
A publicação tem dez capítulos e um deles aborda o workshop de desenho e poesia realizado com os reclusos, que resultou numa exposição itinerante dos trabalhos que foram também enviados ao Papa e que mereceram resposta de Francisco. Para além disso, apresenta ainda um retrato do EP de Faro, aborda também a realidade prisional em Portugal e noutros países europeus, incluindo também alguns dados estatísticos sobre a ocupação das prisões, os crimes mais frequentes que se cometem e a dimensão da reinserção e inclusão social dos ex-detidos.
Inclui também uma reflexão, resultante dessa investigação levada a cabo pelo autor, sobre o trabalho na área da Pastoral Prisional feito não só em Portugal, mas também em países como Espanha ou Dinamarca e um capítulo de boas práticas realizadas nesta área em Portugal.
O livro do professor de matemática que à paixão por aquela ciência exata juntou a da literatura, inclui ainda alguma poesia. “Sou professor de matemática e sempre quis ser, mas gosto de escrever. A minha fuga, o meu escape é escrever”, confessa, explicando que para além de poesia e de romance gosta também de escrever sobre realidades de fragilidade humana. “Gostava de ir a um hospital visitar aquelas pessoas acamadas que já não têm ninguém que as visite e escrever sobre isso”, revela.
 
Este livro, intitulado “Os Reclusos – um Olhar de Esperança”, é a sua quinta publicação. “Palavras Vivas” e “O Silêncio de Amor” são livros de poesia; “Um Rosto de Amor” é um romance; e “Sonha e Acredita” é uma obra de prosa e poesia. “Escrevo mais ao amor porque é essa área que gosto”, justifica Luís Vilhena, ainda que, por vezes, a veia romântica que assume ter o leve a enveredar pelo amor à vida ou à natureza.
 
 
Folha do Domingo