Nos dois momentos do “Rejoice!”, o patriarca de Lisboa desafiou os jovens a serem “arautos, obreiros e artesãos da esperança”. “De mim, o que espera Deus, de tal forma que me faz artesão da esperança? Tal como os artesãos, também nós construímos nas vidas e nas histórias de quem encontramos e na nossa própria, aqueles caminhos e aquelas novas oportunidades e possibilidades. O artesão, mais do que ser construtor de portas, é construtor de chaves para abrir as portas”, deixou claro D. Rui Valério na vigília de sábado à noite, explicando que “a esperança é a possibilidade de uma nova vida que se dá a alguém”.
“Sonha e permite que alguém sonhe”, pediu, acrescentando a cada um dos jovens presentes que Deus espera que ele seja “essa voz, esse profeta e esse arauto de uma nova vida”.
O responsável católico lembrou aos jovens que Cristo é a “âncora” das suas vidas. “É Ele que evita que tu sejas arrastado pelas marés de certas mentalidades, ideologias”, afirmou, acrescentando que Deus também espera que eles assumam a mesma responsabilidade junto dos seus coetâneos.
D. Rui Valério considerou que a JMJ de Lisboa “foi um laboratório de alegria, mas também de uma esperança renovada e reconfirmada”. “Sobretudo naquela capacidade que o Papa Francisco nos deixou de acreditarmos nos sonhos, de vencermos os medos, as hesitações com a força que Cristo, presente na nossa vida, nos transmite”, acrescentou. “Força, juventude! A Igreja está convosco e precisa da vós! O mundo precisa de vós e de vós espera muito!”, concluiu.
Na Eucaristia de domingo, o patriarca de Lisboa agradeceu aos jovens a sua presença e testemunho. “A vossa alegria, entusiasmo, mas sobretudo o vosso amor é uma força capaz de mudar o mundo”, afirmou na Missa concelebrada pelo núncio apostólico e por vários bispos, entre eles o do Algarve, D. Manuel Quintas, que acompanhou um grupo de 118 algarvios participante no “Rejoice!”, e D. Nuno Almeida, presidente da Comissão Episcopal para o Laicado e Família.
D. Rui Valério exortou a “viver para servir e não para ser servido”, acrescentando que “Jesus está em todo o lado, mas está certamente lá onde é o último lugar, aquele lugar dos que não que não contam, dos que não têm voz”.
Neste sentido, desafiou os jovens a serem missionários. “Não vamos levar uma ideia. Vocês vão levar uma experiência do encontro, daquele Cristo que aconteceu na vossa vida”, ele clarificou, lembrando que “missionário é aquele que é capaz de ser mediador, causa, ocasião na vida dos outros”.
Para isso, pediu-lhes que comecem por uma renovação interior. “Temos de começar no nosso coração, transformar os nossos critérios, padrões de vida tantas vezes mundanizados, os nossos sentimentos, impulsos, instintos”, apelou, explicando que o “primeiro campo de evangelização” “para a mudança e transformação”, é dentro de cada um. “Conversão da vida e dos corações para convertermos o mundo. Vamos fazer paz cá dentro para que a paz aconteça lá onde há guerra. Força! Coragem! Vamos ser missionários”, pediu.
Precisamente esse desejo maior da paz foi entoado na vigília de sábado à noite que contou com três testemunhos que marcaram aquela celebração. O mais emotivo foi o de Matilde Salema que sentiu um impulso a fazer voluntariado no campo de refugiados de Lesbos, na Grécia, por causa da fotografia de Alan Kurdi, o menino sírio que morreu afogado numa praia da Turquia, que viu no Instagram.
Aquela jovem contou que ali conheceu uma família síria de refugiados que tinha sido traficada por diversas vezes até chegar à Turquia para a travessia de barco para a Grécia que viu transformar-se no mais horrível dos pesadelos, quando o seu bebé foi atirado à água por outro migrante naquela noite porque não parava de chorar, podendo denunciar às autoridades de vigilância costeira a embarcação ilegal.
Nikola Ghobar, católico oriundo de Belém, testemunhou que não obstante ser cristão na Terra Santa seja “um orgulho e um privilégio”, “a perseguição ao Cristianismo não pára”. “Entre guerras, fronteiras, ataques e destruição dos lugares santos, hoje a comunidade cristã é só 1% da população. Em Belém vivemos dos peregrinos que visitam a basílica da natividade. O nosso modo de sobrevivência é o fabrico de artesanato feito em madrepérola e madeira de oliveira. A pobreza, a fome e o ódio aumentam cada vez mais e sentimo-nos estrangeiros na nossa própria terra. Se esta guerra não acabar a minha vida ficará resumida em duas malas, a Terra Santa ficará sem cristãos e os santos lugares ficarão em perigo”, alertou.
Uma adolescente libanesa de 15 anos contou que veio para Portugal após a explosão em Beirute que lhe destruiu casa. “Para mim a paz é um sentimento de segurança. É quando não temos de nos preocupar com o dia seguinte; quando podemos dormir, sabendo que vamos acordar e continuar a viver o nosso dia a dia”, afirmou Hila Maria.
Aquela jovem reconheceu viver atualmente num “país seguro”, mas confessou que, ainda assim, não se sente em paz, pois os seus familiares “ainda moram no Líbano e vivem em perigo”. “Como é que eu posso sentir essa paz se o meu primo que só tem 10 anos está a proteger-se das bombas, escondendo-se na casa de banho? Qual é o papel de cada um de nós para alcançar a paz?”, interrogou, pedindo: “lutemos por um mundo onde todos tenham a oportunidade de experimentar a paz profunda que todos merecemos”.
A vigília de adoração ao Santíssimo Sacramento, marcada também pelo tempo de silêncio, incluiu ainda um vídeo com excertos de intervenções do Papa na vigília da JMJ. No final da Eucaristia foi também transmitido o vídeo com uma mensagem de Francisco aos participantes do “Rejoice!” que já no sábado à tarde tinha sido divulgada. “Sigam em frente, a juventude tem de seguir em frente e vemo-nos depois na Coreia [do Sul], na próxima jornada. Obrigado pelo que fizeram. Recordo-vos sempre. Deus vos abençoe”, afirmou o pontífice.
Antes da Eucaristia, cuja primeira leitura foi realizada por uma jovem das paróquias de Loulé, decorreu a apresentação do itinerário ‘E agora?’ como “caminho de preparação” para a vivência do Jubileu dos Jovens em Roma no próximo ano.
No final da Missa, que também foi concelebrada pelo assistente do Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve, o padre Samuel Camacho, o patriarca de Lisboa quis ouvir da boca dos participantes sobre a vontade em prosseguir com aquele encontro nacional de jovens que já anunciado como itinerante pelas dioceses portuguesas. “Vou fazer uma pergunta que é retórica: vamos continuar, não é?”, interrogou, para escutar o ‘sim’ uníssono da assembleia. O presidente da Comissão Episcopal para o Laicado e Família anunciou em seguida que a próxima edição do “Rejoice!” se realizará em Lamego, em data a anunciar, provavelmente em 2026, após o Jubileu dos Jovens de 2025.
O “Rejoice!” foi promovido pelo Patriarcado de Lisboa e pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil da Conferência Episcopal Portuguesa.
Folha do Domingo