Dia Internacional dos Animais marca novo capítulo para o abrigo do Algarve após anos de incerteza com a Libertação de ordem de demolição após cinco anos de luta

No passado dia 4 de outubro, Dia Internacional dos Animais, a ARA, um abrigo de animais pioneiro em Loulé, recebeu uma notícia que mudaria o seu destino. Após cinco anos de incerteza e frustração, a Câmara Municipal de Loulé retirou a ordem de demolição imposta ao abrigo em 2019, permitindo que a ARA continue a sua missão.

Sid Richardson, fundador da ARA, reconheceu que, em retrospetiva, talvez tenha sido “demasiado crítico” em relação à situação do bem-estar dos animais na sua comunidade quando decidiu construir o abrigo. Limpando matagais e criando um espaço seguro para os animais, ele não esperou por uma licença oficial. “Não havia tempo a perder”, justificou Sid Richardson. Na altura, os canis estavam sobrelotados e a autarquia demorou mais de 18 meses a encontrar um terreno adequado para a construção do abrigo. Determinado, Sid Richardson não quis esperar e agiu, consciente de que não seguiu o processo habitual das autoridades. “Não estou no negócio do bem-estar animal para agradar às autoridades”, afirmou.

A ARA foi criada sem licenças, como um modelo de abrigo para animais, mas rapidamente recebeu uma ordem de demolição devido à abordagem pouco ortodoxa de Sid Richardson. “Eu sei que não fiz as coisas da forma que as autoridades gostariam, mas não estou aqui para agradar-lhes”, explicou. A ordem de demolição não desmotivou o fundador, que lutou incansavelmente para a reverter. Durante esse processo, conquistou um grande apoio público, ganhou destaque nos meios de comunicação social e, mais importante ainda, começou a salvar centenas de animais.

Apoio público e reconhecimento salvam o abrigo

A luta de Sid Richardson e o apoio da comunidade levaram o conselho a reconsiderar a situação. A Câmara deu luz verde ao projeto “Vila dos Gatos”, que esterilizou mais de 1.530 gatos no seu primeiro ano, e acabou por retirar a ordem de demolição do abrigo. Sid Richardson viu o seu sonho concretizar-se quando a ARA foi reconhecida como uma “necessidade especial para a comunidade”. “Foi algo que eu nunca imaginei ver realizado durante a minha vida”, admitiu.

"Ainda há tanto para fazer", afirma Sid Richardson

Aos 80 anos de idade, Sid Richardson não demonstra intenção de abrandar. “Ainda há tanto para fazer”, afirmou. A ARA é considerada um dos melhores abrigos da Europa, com canis ecológicos isolados para 100 cães, quatro gatis para 50 gatos e várias áreas de parque, incluindo piscinas de água. No entanto, ainda há muitos outros abrigos em más condições, especialmente os canis municipais, que carecem de infraestrutura adequada e programas de educação para os animais. “Os canis municipais oferecem pouco conforto e quase nada em termos de educação aos animais residentes, o que os ajudaria a serem acolhidos com sucesso”, destacou Sid Richardson.

História de luta pela esterilização continua 

Há mais de 40 anos, uma ativista britânica que chegou ao Algarve começou a lutar por campanhas de esterilização, mas o problema ainda persiste. A ARA é regularmente chamada a resgatar ninhadas recém-nascidas abandonadas. “Ainda encontramos ninhadas atiradas para os caixotes do lixo”, lamentou Sid Richardson. Os protocolos com 14 escolas locais visam educar as gerações mais jovens sobre o bem-estar animal, na esperança de que estas sensibilizem os seus pais e avós. “Está a resultar, mas não suficientemente depressa”, afirmou.

Luta contra os cães acorrentados e necessidade de mais voluntários

Outra questão que a ARA enfrenta é o combate à prática de manter cães acorrentados. “Vamos continuar a nossa luta contra os cães acorrentados”, disse João Ferreira, “embaixador” do abrigo e jovem amante dos animais, que tem promovido a causa em vários programas de televisão com cães resgatados. A ARA tem grandes pessoas envolvidas, mas há sempre espaço para mais voluntários, seja nos canis e gatis ou nas três lojas de caridade da ARA.

Um exemplo para o Algarve

A Câmara Municipal de Loulé reconheceu a importância da ARA para a comunidade, mas Sid Richardson alerta que o Algarve é maior do que Loulé e precisa de mais abrigos como o ARA para lidar com os desafios do bem-estar animal. “O Algarve precisa de mais ARAs”, concluiu Sid Richardson.