A ausência de transmissão televisiva na Volta ao Algarve em bicicleta torna o relato das etapas uma missão a quatro mãos, escrita num equilibrismo preciso entre o essencial e o necessário para o público que (quase) nada vê.

Descrever as etapas da Volta ao Algarve é uma aventura. Os olhos, por mais treinados que estejam, conseguem captar, no máximo, dois de três momentos: a partida, a passagem num ponto específico – desde a berma da estrada e numa fração de segundo – e/ou a chegada. Tudo o resto, é uma incógnita.

Sem transmissão televisiva desde 2012, primeiro e último ano em que os adeptos do ciclismo puderam testemunhar o decorrer de cada tirada, quilómetro a quilómetro, a ‘estória’ da prova depende do voluntarismo do gabinete de imprensa.

Telefonemas de dez em dez minutos, para o ‘speaker’ do rádio-volta, ponto da situação na estrada, atualização breve do direto – este ano em português, francês e inglês - no sítio oficial da Volta ao Algarve e está feita a compilação que permite a todo o interessado conhecer o desenrolar da corrida.

Aqui não há ataques instantâneos – eles chegam com o ‘delay’ da escrita -, não há espaço para o detalhe – o pedal partido de Ricardo Vilela (Caja Rural), em Albufeira, a bicicleta trocada de Gustavo Veloso (W52-Quinta da Lixa), no dia em que foi penúltimo e perdeu mais de 20 minutos em Monchique, são pormenores que só se sabem muitas horas depois, nas conversas do pelotão. O ‘filme’ da etapa, é esse o nome técnico, reúne apenas o essencial.

“Nem sempre conseguimos ligação à estrada, uma vez que dependemos de comunicações móveis e, por vezes, a caravana da corrida passa por zonas com fraca cobertura de rede de telemóveis, tornando-se impossível contactar quem está dentro da corrida, que é quem pode dar-nos informações atualizadas”, explicou à agência Lusa José Carlos Gomes, assessor da Federação Portuguesa de Ciclismo e um dos dois elementos do gabinete de comunicação da prova.

Na véspera, no alto do Malhão, a falta de rede tornou (praticamente) impossível saber o que acontecia na estrada. Ao longe, com muitos cortes, o rádio-volta dava conta de que alguém teria sido alcançado pelo grupo do camisola amarela. Quem? Não se sabe.

A TV faz falta. A adeptos, a jornalistas, mas, sobretudo, aos ciclistas. “A transmissão televisiva seria mais um argumento para atrair as grandes equipas WorldTour”, reconheceu o responsável por ‘contar’ a corrida.

“Cada vez há mais equipas de marca, por assim dizer, equipas cujo patrocinador, único ou principal, é um fabricante de bicicletas (BMC, Giant, Lampre-Merida, etc.), cujo apelo do mercado português é pequeno, por haver poucos consumidores e potenciais clientes em Portugal. Essas equipas preferem estar presentes em provas com transmissão televisiva global, pois chegam a mais consumidores”, prosseguiu José Carlos Gomes, referindo-se às duas grandes adversárias da ‘Algarvia’, a Volta à Andaluzia e o Volta a Omã, ambas com diretos esta semana.

A 41.ª Volta ao Algarve termina hoje, com honra, mas sem transmissão televisiva direta – valem os resumos televisivos diários -, para consagrar o britânico Geraint Thomas (Sky).

 

Por: Lusa