O ciclista dinamarquês Jan Christen lidera a geral após vencer ontem a segunda etapa da Volta ao Algarve, no Alto da Fóia, com o mesmo tempo do português João Almeida, seu companheiro na UAE Emirates-XRG e segundo classificado.
Depois de uma primeira etapa anulada, por irregularidade na chegada a Lagos, a primeira tirada a contar ligou Lagoa ao Alto da Fóia, em Monchique, em 177,6 quilómetros, vencendo Christen ao cabo de 4:28.44 horas, o mesmo tempo de Almeida, com o belga Laurens de Plus (INEOS) no terceiro lugar, a sete segundos.
Christen, de apenas 20 anos, lidera agora com quatro segundos sobre Almeida, enquanto De Plus está no terceiro posto, a 13.
Na sexta-feira, a terceira etapa conta com 182,5 quilómetros entre Vila Real de Santo António e Tavira, com chegada ao sprint em perspetiva, num dia com duas contagens de montanha de terceira categoria, Mercador e Faz Fato.
 

 

Volta ao Algarve: UAE Emirates 'derrota' Vingegaard com 'dobradinha' no alto da Fóia
 
A UAE Emirates brilhou ontem no alto da Fóia, com uma ‘dobradinha’ de Jan Christen e João Almeida, na segunda etapa da Volta ao Algarve em bicicleta, levando Jonas Vingegaard a provar o raro sabor da derrota.
Parecia uma jornada como tantas outras para o dinamarquês e para a sua Visma-Lease a Bike, mas a estratégia de ‘derreter’ a equipa ainda antes do encadeamento Pomba-Fóia relevou-se um erro, sobretudo porque o dinamarquês, ao contrário do que é habitual, não conseguiu fazer a diferença quando arrancou a dois quilómetros da meta.
Nessa altura, já Jan Christen seguia na frente, ainda na companhia de outros três ciclistas, nomeadamente de Laurens de Plus (INEOS), que o suíço haveria de deixar finalmente para trás com um ataque a 800 metros do alto da Fóia, onde chegou com um impressionante João Almeida na roda.
Vindo do grupo de favoritos, e sem que a transmissão televisiva captasse o momento do ataque, o português da UAE Emirates anulou com uma incrível facilidade, e já dentro do último quilómetro, os segundos de diferença para o seu colega de equipa, para cortar a meta com as mesmas 04:28.44 horas do vencedor.
O terceiro foi Laurens de Plus, a sete segundos, com o veterano Romain Bardet (Picnic PostNL) a ser quarto, a oito. Vingegaard seria apenas sexto, a 10 segundos, atrás de António Morgado (UAE Emirates), um resultado que o deixou tão insatisfeito que recusou mesmo falar com os jornalistas após o final da etapa.
Habituado a ganhar (quase) tudo – nos dois anos anteriores, abriu a temporada a vencer todas as etapas a contar d’O Gran Camiño, além da geral -, o bicampeão do Tour (2022 e 2023) até tinha os ‘rolos’ montados atrás do pódio, onde o protagonista foi um feliz Christen, líder da geral com quatro segundos de vantagem sobre Almeida e 13 sobre o belga da INEOS, que é terceiro.
“Estou a sentir-me super bem, estou muito feliz com a minha vitória de hoje e muito grato aos meus colegas de equipa, sobretudo ao António e ao João, que me protegeram nos últimos 10 quilómetros”, reconheceu o jovem corredor de apenas 20 anos.
O camisola amarela da 51.ª ‘Algarvia’ revelou que o plano da UAE Emirates para a tirada de hoje, a primeira a contar para a geral depois da anulação da etapa inaugural, era estar atenta às movimentações dos favoritos, o que o levou a responder a uma iniciativa de Laurens de Plus quando o ciclista da INEOS atacou.
A cinco quilómetros do ponto mais alto do Algarve, já os dois seguiam apenas na companhia de Luca Vergallito (Alpecin-Deceuninck) e Neilson Powless (EF Education-EasyPost), com uma vantagem superior a 30 segundos para o grupo de candidatos, onde Vingegaard seguia sem ‘escolta’, depois de a Visma-Lease a Bike ter trabalhado antes de tempo.
O ataque do dinamarquês chegou exatamente na marca dos dois quilómetros para a meta, mas, com a sua aceleração, o atual vice-campeão do Tour só conseguiu reduzir ao mínimo o lote de rivais, levando consigo Almeida, Bardet, Tao Geoghegan Hart (Lidl-Trek) e Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe), hoje um dececionante nono classificado, a 13 segundos de Jan Christen.
O triunfo na etapa estava ‘entregue’ aos homens da frente, dos quais emergiu o suíço, após várias tentativas, inscrevendo o seu nome na lista de vencedores na Fóia, graças à generosidade de Almeida, que teria ultrapassado facilmente o agora camisola amarela se este não fosse seu colega.
Depois da exibição de hoje e com o ‘crono’ de domingo, que termina no alto do Malhão, como único desafio para os homens da geral, o ciclista da A-dos-Francos parece ser mesmo o principal candidato ao triunfo na 51.ª edição.
Devido às bonificações, Vingegaard está a 20 segundos de Christen e Roglic a 23.
A discussão pela vitória no ponto mais alto do Algarve estava reservada aos ‘grandes’, mas até lá houve espaço para os ‘outros’ se mostrarem, com os ataques a começarem três quilómetros depois da partida de Lagoa. Entre os primeiros fugitivos estava o campeão olímpico de madison Iúri Leitão (Caja Rural), que seria mesmo o primeiro a descair da escapada.
Além do também vice-campeão olímpico de omnium integraram a fuga inicial Fábio Costa (Anicolor-Tien21), Leangel Linarez e Guilherme Lino (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), Hugo Nunes (Credibom-LA Alumínios-MarcosCar), André Carvalho (Efapel), Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano-Loulé), Tobias Bayer (Alpecin-Deceuninck) e Bren van Moer (Lotto), com os cinco últimos a serem os derradeiros resistentes de uma iniciativa que foi finalmente anulada a 20 quilómetros da meta.
Os ‘animadores’ de etapas têm na sexta-feira nova oportunidade para se mostrarem nos 183,5 quilómetros entre Vila Real de Santo António e Tavira, onde os sprinters deverão, finalmente, brilhar.
 

 

 
Volta ao Algarve: 2.ª etapa – Declarações
 
Declarações após a segunda etapa da 51.ª edição da Volta ao Algarve em bicicleta, ganha pelo suíço Jan Christen (UAE Emirates), no final de uma ligação de 177,6 quilómetros, entre Lagoa e o alto da Fóia (Monchique):
Jan Christen, Sui, UAE Emirates (vencedor da etapa e líder da geral individual): “Estou a sentir-me super bem, estou muito feliz com a minha vitória de hoje e muito grato aos meus colegas de equipa, sobretudo ao António [Morgado] e ao João [Almeida], que me protegeram nos últimos 10 quilómetros. Não seria possível sem esta equipa.
[Almeida e Morgado] penso que estão super felizes por mim, somos bons companheiros de equipa. Ficamos contentes uns pelos outros. O António conseguiu uma vitória de loucos na [Clássica da] Figueira e, agora, eu aqui. Penso que também puxamos uns pelos outros, é o que torna a nossa equipa tão forte.
Estava a sentir-me muito bem no sopé da subida [à Fóia] e muito atento, a tentar seguir as movimentações dos grandes candidatos, como [Primoz] Roglic e [Jonas] Vingegaard. Depois, houve um ataque, e decidi saltar a solo para a frente. Trabalhei no grupo e, no final, estava expectante para ver o que os outros faziam. Esperei para lançar o meu último ataque e chegar à meta assim.
Para mim, a Volta ao Algarve foi o primeiro verdadeiro teste com os grandes nomes, e agora ganhar dá-me mais confiança. Estou entusiasmado para o resto da semana.
Não penso muito na geral. Esta vitória de hoje significa muito para mim, com estes tipos no pelotão. Retira muita pressão dos meus ombros. Com o João atrás de mim na geral, é a melhor situação para nós. Não sinto qualquer pressão.
Eu, o António e o João estamos todos numa boa condição e sabíamos que podíamos lutar pela vitória. O plano era olhar para os outros candidatos, tentar segui-los e ver o que acontecia nos últimos dois, três quilómetros”.
João Almeida, Por, UAE Emirates (segundo na etapa e na geral individual): "Acho que [a subida] foi boa. A subida não era assim tão dura. Fizemos uma boa performance, a equipa esteve toda muito bem. Hoje, cumprimos com o objetivo.
O plano era entrar bem colocado na Pomba. Esse era o ponto crítico da última subida, depois é um bocadinho cada um por si, porque é a subir. Conseguimos meter o Jan Christen num grupo e não tivemos de trabalhar atrás. Acho que estivemos bastante bem.
Senti-me bem. Ataquei só no final quando percebi que o Jan já tinha a vitória no bolso, por respeito. Tenho um colega de equipa na frente, simplesmente não posso levar os adversários atrás. Ele merecia a vitória e decidi não passá-lo na meta. Estou contente com a minha prestação.
(Como ficam as coisas para Vingegaard) Não sei, tem de lhe perguntar a ele. A expectativa era bastante maior [para a performance de Vingegaard], mas acho que é positivo acabar à frente dele.
(Vingegaard desiludiu?) Não, é a primeira corrida da temporada para ele. Vem aqui testar-se um pouco. Acho que sabe o que tem nas pernas.
(Tem argumentos mais fortes para discutir a Volta?) Sem dúvida. Estou numa boa posição. Se não houver nenhum azar, será o Malhão que vai decidir a corrida".
 
 
Lusa