André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

A Comissão Europeia antecipa uma recessão no último trimestre do ano, bem como dificuldades acrescidas neste inverno, sobretudo para alguns países mais vulneráveis em matéria de dependência energética do gás russo. Para este comportamento negativo releva a previsão em alta da inflação na zona euro para 2023, para 6,1%, contra apenas os 4% previstos até agora.

Sob a influência da inflação galopante desde o fim da crise da Covid, a zona do euro pode entrar em recessão no final do ano, de acordo com a Comissão Europeia, que antecipa uma inflação mais elevada do que o esperado anteriormente, devido ao aumento dos preços da energia ligados essencialmente à guerra na Ucrânia. Veja-se que na Alemanha, a maior economia da zona do euro, a inflação bateu um novo recorde em outubro, em +10,4%, o nível mais alto em 70 anos.

Mas esta contração é sentida de forma generalizada durante o último trimestre deste ano e o primeiro de 2023, na maioria dos Estados-Membros. Em resultado, o crescimento do PIB do próximo ano foi revisto de forma significativa em baixa para apenas 0,3% nos países que compartilham a moeda única, contra 1,4% esperado até agora, ainda que o retorno ao crescimento seja esperado na Primavera.

Bruxelas corta previsão de crescimento em Portugal para 0,7%, mesmo assim cresce mais do que o dobro da EU. Na verdade, as consequências do “choque da guerra” atingem fortemente a Europa, naturalmente devido à sua proximidade geográfica com a zona de guerra e, sobretudo, devido à sua forte dependência das importações de gás da Rússia", como sucedia com a Alemanha e uma parte significativa dos países do leste europeu.

A inflação continua a ultrapassar as previsões anteriores da Comissão Europeia, de 4% para 6,1% em 2023, provocando uma forte erosão do poder de compra e uma quebra na confiança dos consumidores, como é o caso das empresas que se deparam com elevados custos de produção, assim como persistentes dificuldades de abastecimento e também no acesso ao financiamento.

A boa notícia é que se espera que o aumento dos preços comece a recuar após um ponto alto esperado no final de 2022, sendo que se prevê igualmente um recuo significativo no próximo ano no preço de vários produtos e matérias-primas importantes nas cadeias de abastecimento internacionais. Durante todo o ano de 2022, Bruxelas espera agora que a inflação seja mais forte do que o esperado em 8,5%, contra 7,6% anteriormente. A atual situação é de risco de inflação persistente, o que contraria posições anteriores.

Os fatores de incerteza permanecem bastante elevados, desde logo bastante dependente da evolução da guerra na Ucrânia, o que a agravar-se poderá comtemplar cenários de recessão bastante mais penalizadores. É certo que as reservas de gás parecem suficientes para o momento, mas a paralisação quase total das entregas russas e a dificuldade de compensar essa falta com importações de outros países dificultarão a reposição dos estoques para o inverno de 2023/2024, para além dos custos acrescidos, nomeadamente decorrentes da importação do GNL-Gás natural liquefeito. Além disso, os elevados preços da energia penalizam o objetivo de reindustrialização a que a União Europeia se propôs no quadro da “autonomia estratégica” que é uma das suas bandeiras para fortalecer a economia europeia em sectores e clusters de elevado interesse estratégico.