O Ministério Público (MP) pediu hoje a condenação do casal suspeito de assaltos violentos a estações de serviço em Portugal e Espanha, com a defesa a invocar a confissão dos crimes e o seu arrependimento para atenuar a pena.

Nélida Alves e Sidney Pereira, de 42 e 44 anos, estão acusados de, em coautoria, terem cometido, no verão de 2022, quatro crimes de roubo agravado, três crimes de sequestro, um crime de coação agravado, um crime de dano simples e dois crimes de falsificação de documentos.

Os arguidos, apelidados pela imprensa de ‘Bonnie&Clyde’ portugueses, assaltaram várias estações de serviço no Algarve, tendo ameaçado os funcionários com uma faca e uma pistola, que se veio depois a apurar ser de alarme, e sequestrado três deles.

Nas alegações finais do julgamento, que hoje terminou no Tribunal de Faro, o MP pediu a sua condenação, tendo em conta os seus antecedentes criminais, defendendo que os factos devem ser dados como provados, não só pelos testemunhos, que foram “credíveis” e “convergentes”, como pelo facto de os arguidos terem admitido os crimes, “à exceção de alguns pormenores”.

A advogada de defesa de Nélida invocou o facto de a arguida ter assumido os factos para a atenuação da pena que venha a ser aplicada, sublinhando que, na altura dos crimes, a mulher estava afetada psicologicamente devido à retirada do filho que tem com Sidney.

Já o advogado de Sidney aludiu ao filme que retratou a vida de Bonnie e Clyde, que, tal como os arguidos, apesar dos crimes que tinham cometido, causavam nas pessoas um “misto de simpatia e compreensão”, considerando relevantes para atenuar a pena “a confissão, o arrependimento e até os meios” que empregaram.

Durante a última sessão do julgamento foram ouvidos em tribunal os testemunhos de militares da GNR e inspetores da Polícia Judiciária acerca do cerco que foi montado para tentar deter os suspeitos, na noite de 27 de julho de 2022, numa estrada perto de Bensafrim, em Lagos.

Segundo relataram as testemunhas, os suspeitos foram localizados na Carrapateira, em Aljezur, tendo depois começado a ser seguidos por viaturas de ambas as forças, até que Sidney, que conduzia o carro, decide parar voluntariamente na berma da estrada, precipitando a abordagem policial.

Segundo os testemunhos, apesar de as viaturas policiais serem descaracterizadas, os agentes envergavam coletes refletores e acionaram as sirenes, razão pela qual era “inequívoco” que se tratava de uma abordagem policial.

Contudo, Sidney não obedeceu às ordens de paragem, fez marcha-atrás para ganhar espaço, quase atropelando os agentes, que tiveram de se desviar numa “questão de segundos”, e seguiu em frente, embatendo na traseira de um carro da GNR e, assim, escapando às autoridades.

Depois desta tentativa de detenção, o casal seguiu para um posto de combustível em Lagos, onde fez mais um assalto - o primeiro tinha ocorrido na noite de 25 de julho num posto de combustível em Estoi, Faro -, desta vez sequestrando o funcionário e levando-o no seu próprio carro, conduzido por Sidney e com Nélida e a vítima no banco de trás.

Na noite de 01 de agosto, o casal realizou um novo assalto a um posto em Almancil, Loulé, deslocando-se num carro com chapas de matrícula espanholas.

Depois dos assaltos no Algarve, o casal cruzou a fronteira para Espanha, em Ayamonte, onde prosseguiu os assaltos violentos a estações de serviço em Sevilha, Badajoz e Toledo, usando sempre o mesmo ‘modus operandi’ de intimidação dos funcionários com uma arma e uma faca.

Sidney e Nélida foram detidos em Zamora, em 13 de agosto de 2022, na sequência da denúncia de um cidadão que, ao reconhecer os suspeitos num centro comercial alertou a Guardia Civil.

Nessa altura, os suspeitos deslocavam-se num carro que tinham roubado em Madrid e foram presos quando jantavam no interior da viatura, tendo sido cercados por agentes da Polícia Nacional, que os deteve sem que oferecessem resistência.

A leitura do acórdão está marcada para o dia 05 de julho às 14:00, no Tribunal de Faro.

 

Lusa