André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Crescimento e inflação são duas palavras-chave que estão atualmente no centro dos debates sobre a economia, a primeira por boas razões e a segunda por más razões. Primeiro, o crescimento, em relação ao qual são boas as perspetivas, a atentar-se nas últimas previsões da Comissão Europeia, que reviu em alta o crescimento da economia portuguesa para 5,8% em 2022. É um crescimento que ultrapassa a previsão do governo, de 4,9 %, inscrita no Orçamento do Estado para 2022.

E, um crescimento mais elevado são também boas notícias para o emprego. Um fator determinante desta previsão em alta, diz respeito ao forte crescimento das “viagens e turismo” dado o seu peso na economia. A Comissão Europeia evidencia também o crescimento do PIB-Produto Interno Bruto (riqueza criada) no primeiro trimestre face aos três meses anteriores, o valor mais expressivo entre os países da União Europeia. É, todavia, um valor que compara com o trimestre homólogo de 2021 em que a economia portuguesa cresceu pouco.

A concretizarem-se as previsões da Comissão Europeia, Portugal vai ser o país da União Europeia que mais vai crescer em 2022, e isso será, sem dúvida, uma boa notícia. A má notícia é que a inflação se está a instalar em Portugal e na União Europeia, contrariando análises anteriores de instituições financeiras nacionais e internacionais, que a consideravam como um fenómeno transitório, decorrente de diversos efeitos e perturbações decorrentes dos confinamentos da COVID 19, nomeadamente a disrupção de algumas cadeias de abastecimento globais. A economia até não lida mal com a inflação, quando as taxas são baixas, até 2%. Todavia, valores bem mais elevados como os que agora se perspetivam para este ano e para o próximo, antecipam problemas sérios.

Em abril deste ano, a inflação terá atingido um novo máximo de 7.2% em Portugal, à semelhança dos valores elevados que, de um modo geral, a Europa está e experimentar. Inflação elevada significa um aumento da incerteza na economia, sendo os trabalhadores os primeiros a sofrer as suas consequências.

A subida da inflação também significa erosão para muitas das poupanças, nomeadamente os depósitos bancários que perdem valor com a inflação. Acresce que inflação elevada também penaliza os que têm empréstimos de longo prazo em regime de taxa variável, pelo que muitos se poderão confrontar-se a curto prazo com uma subida considerável das prestações da casa.

Há ainda um risco que é o da espiral inflacionista salários-preços, pouco provável, mas não impossível, saldando-se na perda de rendimento e poder de compra para os cidadãos, e agravando fatores de imprevisibilidade com consequências negativas. Os fatores que mais contribuem para esta pressão inflacionista são: a disrupção de muitas das cadeias globais de abastecimento, essenciais em relação a muitos produtos e materiais, em 2020, e ainda não recompostas; a invasão da Ucrânia que não só veio acelerar a crise energética na Europa,  mas também provocar um aumento muito significativo dos preços dos bens alimentares essenciais, dada a dependência de uma boa parte do mundo, em matéria de abastecimento de cereais, da Rússia e da Ucrânia; ainda o facto da China, ter atualmente uma parte significativa do país em confinamento, atrasando ainda mais a recomposição de algumas das cadeias de abastecimento essenciais.  

Neste contexto, as políticas públicas podem minimizar alguns efeitos da inflação de forma temporária, apoiando as famílias financeiramente mais frágeis de forma muito focada, tal como sucedeu durante a crise pandémica.