São Brás de Alportel está no mapa das Comemorações Nacionais do Centenário da Travessia Aérea do Atlântico Sul (100TAAS), feito protagonizado por dois aviadores da marinha portuguesa Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Tão importante quanto a viagem foi o facto de terem sido testados os aparelhos de navegação, concebidos por Gago Coutinho, que marcaram a história da aviação mundial.
No próximo dia 17 de fevereiro, assinalam-se no concelho de São Brás de Alportel o 153.º aniversário do nascimento de Gago Coutinho com uma cerimónia de abertura do programa comemorativo, uma palestra e com a inauguração da exposição itinerante “1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul” que vai estar patente até 27 de fevereiro, no átrio das Piscinas Municipais Cobertas, pelas 17h00. Esta exposição foi preparada pela Comissão Aeronaval das Comemorações do Centenário da Travessia Aérea do Atlântico Sul (100TAAS).
A 27 de fevereiro, o Ciclo de Passeio Natureza irá também ser dedicado a Gago Coutinho dando a conhecer a “Rota Gago Coutinho – a Geodesia em São Brás de Alportel”, um percurso pelos 14 marcos geodésicos do território são-brasense, recentemente alvo de requalificação.
No âmbito das Comemorações do Centenário da Travessia Aérea do Atlântico Sul (100TAAS), o Município vai promover, até dezembro deste ano, um conjunto de iniciativas: exposições, desafios artísticos, concertos, um ciclo de palestras, passeios natureza, publicação de edições especiais e diversas atividades infantojuvenis.
Importa referir que a Cerimónia de Abertura das Comemorações a nível nacional decorreu no Museu da Marinha, em Lisboa, a 11 de janeiro, na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Réplica do hidroavião “Santa Cruz”
As cerimónias de abertura deste programa decorrem justamente junto à réplica artística do hidroavião “Santa Cruz, da autoria de Carlos de Oliveira Correia, que desde 30 de março de 2017, data que assinalava os 95 anos da Travessia, está localizado junto à Rua Dr. Alberto de Sousa, nos espaços exteriores do edifício das Piscinas Municipais Cobertas.
Recentemente, esta obra de arte mereceu trabalhos de manutenção, valorização e conservação, que orçaram em cerca de 5.000,00 euros enquadrados no plano municipal de intervenções de manutenção e valorização do património, monumentos e equipamentos culturais do concelho que têm um papel importante na criação da atratividade turística de São Brás de Alportel.
Já uma referência no roteiro turístico algarvio e nacional, esta réplica de um dos hidroaviões utilizados por Gago Coutinho e Sacadura Cabral para a primeira travessia aérea do Atlântico sul integra o programa de comemorações do centenário da travessia.
Uma vez mais, o Município pretende valorizar este ato de heroísmo que envolveu Gago Coutinho, navegador astronómico de precisão com fortes raízes de ligação a São Brás de Alportel. A sua bravura e inteligência mudaram para sempre a história da aeronáutica mundial.
Com mais de 20 toneladas de ferro e uma envergadura de asa superior a 14 metros, a réplica do “Santa Cruz” surge como uma referência em São Brás de Alportel, dignificando a História de Portugal, mantendo viva a memória para este feito histórico de dois heróis nacionais.
Recorde-se que na primeira travessia aérea do Atlântico Sul foram percorridos 8.364 quilómetros. Feito que requereu coragem, sabedoria e persistência.
Ecos da Travessia Aérea do Atlântico Sul
… Nesta viagem foram usados três hidroaviões Fairey III D, pertencentes à Aviação Naval, o último dos quais, o “Santa Cruz”, que está representado em São Brás de Alportel por uma réplica-monumento da autoria do escultor Carlos de Oliveira Correia.
A Travessia ligou Lisboa (Portugal), Las Palmas (Canárias), S. Vicente e S. Tiago (Cabo Verde), e os Penedos de S. Pedro e S. Paulo, Fernando de Noronha, Recife, Bahía, Porto Seguro, Vitória e Rio de Janeiro (Brasil). Ao todo, percorreram 8.364 quilómetros.
Sacadura Cabral foi o único piloto durante toda a viagem. As etapas mais longas duraram, cada uma, cerca de 11 horas.
Gago Coutinho concebeu um método de navegação astronómica de precisão pioneiro e os respetivos aparelhos: um sextante com um nível artificial e um corretor de rumos. Foram ainda elaborados mapas especiais e foram feitos (antes da viagem) cálculos astronómicos pré-preparados para pontos específicos de cada etapa.
Foi esta confiança nos métodos astronómicos de Gago Coutinho que lhes permitiu encontrar, no meio do mar, os Penedos de S. Pedro e S. Paulo (pequenos rochedos com uma extensão de 250m), após uma etapa de 1652 km, sobre o Atlântico, sem qualquer ajuda exterior. Nenhum dos aviões estava equipado com rádio.
A Travessia de 1922 ligou quatro países, três continentes e dois hemisférios e coincidiu com o primeiro Centenário da Independência do Brasil.
Desde 27 de julho de 2011 que o relatório da 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul foi inscrita pela UNESCO no Registo da Memória do Mundo e é considerado Património da Humanidade.
As origens algarvias e são-brasenses de Gago Coutinho
O seu avô paterno, Manuel Viegas Gago Coutinho foi livreiro em Faro e foi Cabo de Esquadra do Regimento de Artilharia de Faro.
Segundo Gago Coutinho, o seu pai, José Viegas Gago Coutinho, “era um homem de reduzida educação literária. Só a primária, mas conhecia a escrita comercial, em que praticava. (…) Era homem alto, desempenado, bem branco”, oriundo de São Brás de Alportel. Sua mãe, Fortunata Maria Mendes Coutinho, que segundo relatos que nos chegam terá sido originária de Faro, era uma “senhora pequena, morena, algarvia, filha de padeiros e que deveria ter ascendência moura, nada mais sei a não ser que um irmão dela era patrão de um caíque da costa e várias vezes o vi visitar a irmã Belém”.
Muitos juraram e outros ainda hoje afirmam que o aviador cientista é mesmo são-brasense de nacimento, levado ainda recém-nascido para Lisboa onde foi registado…
A verdade é que, naquela época, a Câmara Municipal acompanhou o entusiasmo geral, tendo realizado a 8 de maio de 1922 uma Sessão Solene em honra dos aviadores e um cortejo cívico nessa mesma noite, tendo-se mantido o edifício dos Paços do Concelho iluminado.
À rua principal da vila, na época, foi dado o nome do “aeronauta” Gago Coutinho, que se mantém até hoje.