Na assembleia diocesana, que serviu no passado sábado para a apresentação do programa pastoral da Igreja algarvia para o triénio de 2024/2027, o cónego Carlos de Aquino referiu-se à dimensão eucarística como a grande prioridade daquele plano e explicou como é que a Eucaristia é «fonte de alegria e de esperança», as duas características que serão a sua «grande tónica».

O sacerdote – que recentemente participou, juntamente com o padre Pedro Manuel, no Congresso Eucarístico Internacional no Equador como representante da Diocese do Algarve – explicou que a opção diocesana visa “impulsionar a um recomeço de vida pessoal e comunitária, valorizado no encontro com o Senhor, presente de modo único e profundo no sacramento da Eucaristia”, “mistério” que lembrou ser “o centro, o cume e a fonte” da vida quotidiana da Igreja e que sem ele “não existe Igreja”.

Na sua reflexão – subdividida nas temáticas “Eucaristia, o encontro”, “Eucaristia, fonte de alegria” e “Eucaristia, alimento da esperança” – o sacerdote algarvio explicou que “a Igreja celebra a Eucaristia para se construir a si mesma”. “É a Eucaristia que edifica a Igreja”, garantiu, acrescentando como é que isso acontece: “Celebrando-a, vivendo como verdade a comunhão com o Senhor – e essa comunhão não é autêntica se não estamos em comunhão uns com os outros -, mas também prolongando esta comunhão pela vida, particularmente na adoração eucarística fora da missa”.

Partindo deste pressuposto, desafiou a um “grande compromisso”. “Valorizar os nossos sacrários, a nossa adoração eucarística, para além da celebração da Eucaristia dominical ou até em cada dia da semana; valorizar a adoração eucarística; estarmos mais tempo diante do Senhor; valorizarmos a presença do Senhor nos nossos sacrários e não deixá-los vazios e sozinhos”, concretizou.

Segundo o sacerdote, “valorizar a adoração e a comunhão” pode ajudar a “preparar de modo excelente” o “encontro com o Senhor”. “A adoração ajuda a preparar a Eucaristia porque facilita descobrir a presença de Deus ao longo da celebração”, justificou.

“É na Eucaristia que a Igreja renasce sempre de novo”, lembrou, advertindo que “quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais profunda será a sua participação na vida eclesial”. “É na Eucaristia que, como discípulos, retomaremos o modo de viver e de agir, cheios de alegria e esperança. É na Eucaristia que, como comunidades cristãs, faremos da alegre esperança em Cristo a força da nossa renovação, a audácia para que, como testemunhas de Jesus, sejamos a sua manifestação no meio do mundo”, sustentou.

O sacerdote referiu que “a Eucaristia é escola de fé e de vida espiritual, mistério que se deve viver, mas também compreender bem para vivê-lo melhor” e realçou a importância de acolher a Eucaristia “como mistério e dom” “para viver com autenticidade o encontro com o Senhor ressuscitado”. “Em cada celebração da Eucaristia, Cristo vem sempre ao nosso encontro. O filho de Deus vem do céu para nos dar a vida”, afirmou, explicando que “sendo lugar de encontro, é ao mesmo tempo lugar de missão”.

O cónego Carlos de Aquino destacou ainda que “a reconciliação contribui profundamente para uma vivência mais plena e frutuosa da Eucaristia”. “Podemos estar a dizer as coisas com muita convicção, mas se não estamos puros de coração, se não estamos reunidos em fraternidade, se não é o amor que marca a nossa presença, tudo soa a falso e a hipocrisia”, advertiu, acrescentando: “A Eucaristia converte-nos e reúne-nos para a comunhão. É alimento dos fracos que buscam a força, de pecadores que anseiam santidade, de famintos que buscam alimento perene que sacia até à eternidade”.

O orador defendeu ainda que “a rotina e o costume” é o “obstáculo a vencer” para que a Eucaristia possa ser “espaço de encontro”.

Referindo-se concretamente às características presentes no lema do triénio – “Alegres na Esperança”, extraído da exortação de São Paulo aos cristãos de Roma (Rm 12,12) – o sacerdote realçou que a alegria “é a expressão mais elevada da felicidade a que Deus chama e de que faz participar as suas criaturas”. “A alegria cristã é sempre fruto da fé, de vivermos como Igreja na fidelidade e comunhão com o Senhor”, sustentou, considerando o “sentimentalismo” um “obstáculo a vencer” para que as celebrações sejam expressão da alegria. “Que devemos então fazer para evitar este sentimentalismo que não exprime a verdadeira alegria? Redescobrir a verdade da lei da oração da Igreja, onde o próprio mistério se faz presente. Importa, por isso, garantir a autenticidade e coerência entre o que se vive e se anuncia. Quem participa, celebra e comunga tem de se sentir comprometido e impelido também sempre à missão”, explicou.

Lembrando que Jesus é a “esperança” dos cristãos, disse ainda que para alcançar o “significado e sentido” daquela característica nas celebrações importa também vencer o “obstáculo” da “deficiência”. “É preciso reaprendermos a fazer isto como Ele mandou, sem espiritualização”, considerou, acrescentando que para se viver “em maior verdade a Eucaristia como alimento da esperança” é preciso “cultivar a fé, a piedade, a participação ativa sempre como disposição interior e obediência ao Senhor”. “Vivendo isto como verdade, percebemos que a Eucaristia cura-nos de várias coisas: da monotonia e da vida, do aborrecimento e do tédio, do peso e do sentimento da culpa, da enfermidade, da absolutização dos bens, do egocentrismo e da indiferença, das desigualdades, de protagonistas humanos”, completou.

O sacerdote desafiou, por fim, à realização de uma “grande catequese” nas paróquias por considerar haver “muita gente que vem participar na Eucaristia, não comunga e não tem impedimento para isso”. “Quando a Igreja celebra, ela abre-se ao dom que a transforma e lhe confere identidade. Não responder na vida a esse dom é fazer da Eucaristia uma mentira permanente em nossas vidas”, alertou.

 

Folha do Domingo