André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Com o final do ano a aproximar-se, é salutar enumerar alguns dos desafios e fatores de incerteza que pesam sobre a economia e a sociedade. Desde logo, os portugueses vão ser chamados a votar no final de janeiro, por força da interrupção da legislatura, após a rejeição na Assembleia da República, do Orçamento do Estado para 2022.

Faz parte da normalidade em democracia e, é neste quadro, que terá que emergir uma nova solução governativa responsável. E, são muitos os desafios que se colocam ao novo governo. Primeiro, impulsionar o crescimento da economia para patamares mais elevados do que os atuais. Não é sustentável o crescimento anémico dos últimos 20 anos, com uma taxa média anual de cerca de 0.73%.

Estimular a produtividade e a competitividade da economia portuguesa e, ao mesmo tempo, dispor de políticas públicas que favoreçam uma melhor repartição dos rendimentos, constitui um imperativo.

Fazê-lo, é também uma condição para reforçar a cadeia de valor da economia, pagar melhores salários, elevar o nível de qualificações e competências, continuar a incrementar as exportações, aliás a varável mais dinâmica da economia nos últimos 10 anos. Além disso, são visíveis alguns sinais de inflação, em Portugal e a nível internacional, resultantes dos efeitos de estrangulamentos nalgumas cadeias globais de abastecimento e de produção durante a 1ª fase da pandemia, traduzindo-se em escassez e, sobretudo, num aumento muito significativo de preços de muitos bens e serviços, e de matérias-primas vitais para muitos setores da economia, podendo a regularização do problema arrastar cerca de um ano.

O crescimento da inflação, para Portugal, é uma má notícia, porque pode provocar mudanças na política monetária, alterando-se o atual padrão de taxas de juro de referência inusitadamente baixas, bem como a política de estímulos à economia, garantidas pelo BCE-Banco Central Europeu, o que, a acontecer, teria implicações sérias sobre o serviço da dívida pública portuguesa, uma das mais elevadas da Europa.

Segundo, o novo governo terá que continuar a fazer frente à crise sanitária da COVID 19, porque apesar do sucesso que tem sido a taxa de vacinação em Portugal, continuam a verificar-se importantes surtos, naturalmente com muito menos óbitos e internamentos. Como o mundo é um sistema de vasos comunicantes, só com uma taxa de vacinação muito elevada à escala global, é que poderá existir maior tranquilidade.

A boa noticia é que, para além das vacinas, estarão disponíveis, ao longo do próximo ano, novos fármacos, que não dispensando a vacina, vão atenuar os efeitos das situações mais graves, permitindo uma melhor gestão da pandemia.

Em terceiro lugar, a transformação digital das economias e os imperativos da sustentabilidade, para fazer face ao aquecimento global, não só terão que continuar a estar no topo das prioridades, mas também será na procura de produtos e soluções ambientalmente compatíveis que as empresas e a economia vão encontrar muitas das dinâmicas que deverão alimentar um novo ciclo de desenvolvimento.

Por fim, as tensões geopolíticas, geoestratégicas e geoeconómicas globais, cujos protagonistas mais diretos, são os EUA e a China, e na vizinhança da Europa, a Rússia, não deixarão de influenciar muitos dos acontecimentos na cena internacional.