André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Vivem-se tempos de grande turbulência a nível da economia e da geopolítica internacional. A fragmentação social e política e a ascensão dos extremismos um pouco por todo lado, são uma realidade dos tempos em que vivemos.

Os recentes atentados perpetrados pelo Hamas, de todo condenáveis, no passado dia 7 de outubro, em Israel, são um dos múltiplos exemplos disso. O mesmo também poderíamos dizer da invasão da Ucrânia às ordens de Putin.  Do mesmo modo, a resposta em curso, por parte de Israel, que tem o direito de se defender, poderá evoluir para uma violência indiscriminada e desproporcional.

Na verdade, também os palestinianos que habitam a faixa de Gaza, na esmagadora maioria, são vítimas do Hamas e das políticas de extrema-direita do atual governo de Israel. Mas, que fico claro, nada justifica os hediondos atentados sobre populações indefesas de Israel.

O que parece estar aqui em causa, como também em muitas sociedades ocidentais, tanto nos EUA como na Europa, é a profunda fragmentação social e política, e a consequente dificuldade para se estabelecerem espaços de cooperação estratégica e de diálogo, dando espaço à diplomacia, para resolver conflitos regionais e globais.

Seja os EUA ou China ascendente, ou ainda os países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que a China, como o estado mais poderoso, procura liderar, nenhum destes grandes atores internacionais consegue atualmente concitar os necessários consensos e espaços de diálogo para dirimir muitos dos conflitos de dimensão regional e internacional.

É neste quadro de grande imprevisibilidade, incerteza e conflitualidade, que se fala frequentemente numa “nova ordem internacional”, ainda muito difusa, e sem contornos suficientemente definidos. É uma nova ordem que desafia a liderança dos EUA, sendo a China, a segunda maior economia mundial, a grande desafiante (challenger) e, consequentemente, a grande beneficiária. 

No mesmo sentido, é uma realidade que o eixo dinâmico da economia internacional se está a deslocar para a região do Indo-Pacífico. 

Os BRICS, têm sido associadas à construção desta nova ordem internacional, como se viu na passada 15ª cimeira, realizada em agosto na África do Sul, pelo avultado número de membros candidatos à adesão a esta organização, ainda que só o Irão, a Arábia Saudita, os Emiratos árabes Unidos, o Egito, a Argentina e a Etiópia, tivessem sido escolhidos para integrar esta organização, a partir de 1 de janeiro 2024.

Ficou claro que a índia, também ela em grande ascensão, e sendo já o país mais populoso do mundo, não quis satisfazer as pretensões da China, de colocar os BRICS ao seu serviço. Mas as dissonâncias e rivalidades nos BRICS não se confinam a Pequim e Nova Deli. Do mesmo modo, a convivência estratégica neste grupo entre o Irão, xiita e a Arábia Saudita, sunita, um novo entrante, têm muitos limites.  

E, por outras razões, também são fortes os limites dessa convivência entre os novos entrantes, Egito e Etiópia, a propósito da partilha das águas do Nilo, um assunto de segurança nacional para o Egito.

Um dos desígnios dos BRICS largamente falado por ocasião da cimeira da África do Sul prende-se com a desdolarização do comércio internacional, o que dificilmente se poderá concretizar num horizonte razoável, por nenhum dos atores ter suficiente influência e instrumentos perante os outros, para afirmar uma moeda concorrente ou alternativa ao dólar.

Também é verdade que nesta nova configuração pontificam muitas das atuais autocracias. Se outras razões não existissem, estas são por si só elucidativas das dificuldades de uma nova ordem internacional alternativa e credível, num mundo cada vez mais multipolar, mas menos multilateral.