Por F. Inês

Depois de termos analisado sumariamente, há duas semanas atrás, a evolução dos regimes alimentares do ser humano ao longo dos milénios … até aos nossos dias … vamos hoje tentar perceber os motivos porque a Dieta Mediterrânica (DM) vem desde há vários anos sendo considerada a melhor do mundo, uma vez que o regime alimentar é uma componente fundamental da promoção da saúde e da prevenção de numerosas doenças.

A constatação da relativa baixa incidência das doenças cardiovasculares (enfartes, AVC’s) nas populações do Sul da Europa, por estudo realizado nos anos 50-60 do século passado, quando comparada com a sua mais alta incidência nas populações do Norte da Europa e dos Estados Unidos da América, permitiu concluir que aquele benefício se devia sobretudo ao elevado consumo das gorduras monoinsaturadas (o Azeite - a gordura largamente consumida pelas populações mediterrânicas) para além de outros hábitos alimentares … como os hidratos de carbono complexos, de assimilação lenta (pão de mistura, cereais, legumes verdes e secos, arroz, massas) abundância de alimentos vegetais e frutas frescas da época (ricos em fibra, vitaminas e sais minerais, com ação antioxidante e indispensáveis ao metabolismo) consumo generoso de peixe, moderado de aves, lacticínios e ovos e muito baixo consumo de carnes vermelhas, gorduras saturadas, açúcar e mel … e ainda o consumo moderado de vinho às refeições (benefício este último … do vinho … hoje contestado).

Sabe-se hoje que este regime alimentar, sobretudo se for associado ao exercício físico … ambos componentes essenciais para uma vida saudável … poderá prevenir 25% dos cancros, 90% dos casos de obesidade e diabetes … e retardar ou mesmo evitar … a aterosclerose, a hipertensão arterial, a maioria das doenças cardiovasculares e doenças digestivas … incluindo o cancro do colon. Infelizmente estudos diversos têm vindo a mostrar que metade da população portuguesa não sabe o que é a DM e que, por outro lado se vêm instalando progressivamente novos hábitos e costumes com o abandono progressivo do padrão alimentar tradicional e a introdução do “pronto-a-comer” … a bem conhecida “fast food” … a comida rápida e barata … mas que contem um excesso de carnes vermelhas e de alimentos processados ricos em gorduras “trans” … as mais prejudiciais à saúde … de batatas fritas e também um excesso de sal e açúcar. Vive-se hoje a era do “Take-Away” e da “Uber” … quase símbolos da vida moderna … hábitos acelerados e agravados pelas restrições decorrentes da pandemia que estamos a viver … que facilitam as tarefas diárias da confeção das refeições. Naturalmente que nada disto acontece por acaso … a turbulência da vida moderna, a evolução dos hábitos milenares … como as alterações da família tradicional … lugar de afeto, segurança e estabilidade … do casamento … e do papel da mulher no lar … hoje profissional no mercado do trabalho … sobretudo a partir da década de 60 … além de mãe e esposa … o que afetou a vida doméstica e a dinâmica familiar … tudo isto está hoje na base da uma certa crise e desagregação da família.

Deixou de caber quase exclusivamente à mulher a tarefa e a responsabilidade na confeção das refeições para a família … e tornou-se mais fácil adquiri-las já prontas a comer. Para além de um padrão alimentar saudável, a DM é sobretudo um estilo de vida … combina hábitos alimentares saudáveis com a partilha das refeições … momento de convívio e de afirmação e coesão da família. Face a esta gravíssima situação cabe naturalmente aos Governos legislarem e aos profissionais de Saúde Pública a nobre tarefa de pôr em prática Programas de Educação Alimentar … dirigidos a toda a população, mas sobretudo às faixas etárias mais jovens … as que mais praticam aqueles erros alimentares.