Por F. Inês

Não … não é da guerra na Ucrânia de que hoje vos vamos falar … como seria de esperar … não obstante se estar perante o maior crime e a maior barbaridade deste século … depois das tragédias das Torres Gémeas ocorrida há 20 anos em Nova Iorque … da guerra no Iraque e do absurdo e sem sentido terrorismo islâmico que um pouco por toda a parte vem ceifando vítimas inocentes. Não … hoje vamos falar de um assunto para mim de enorme delicadeza e comoção.

É que o Dom Finório viu pela primeira vez a luz do dia a 15 de fevereiro do já longínquo ano de 2002 … já lá vão 20 anos … duas décadas! Conquanto pouco ou nada entenda de comunicação social, fico com a ideia de que duas décadas são quase uma eternidade para um “diálogo” com os leitores de “A Voz de Loulé”, não obstante a diversidade de assuntos que ao longo de mais de quatro centenas e meia de crónicas foram sendo abordados. Conquanto o cronista transcenda a realidade filtrada através da sua subjetividade e sensibilidade … costuma dizer-se que a crónica mais não é mais que um recorte do quotidiano e que se esvazia … mal o Sol se põe … é por natureza um texto efémero! Algumas vezes me manifestaram a curiosidade … do porquê do título de Dom Finório … caracterizado pela figura de um mocho … todos sabemos que o mocho simboliza a ciência e a sabedoria …  e apelidamos de finórios as pessoas aparentemente ingénuas, mas matreiras e manhosas … obviamente são metáforas que nos ajudam a transfigurar a realidade. Por isso mesmo o Dom Finório evoluiu progressivamente do inicial e pequeno comentário matreiro e brincalhão … com 3 ou 4 linhas … e mais tarde para a crónica, inevitavelmente mais longa e de conteúdo mais maduro. Mas o tempo não pára … todos caminhamos para a velhice.

À semelhança da inevitabilidade biológica que caracteriza a degradação do ser humano, fenómeno semelhante acontece com tudo o que no mundo nos rodeia. Aqui chegados … não resisto à tentação de citar o nosso grande filósofo Agostinho da Silva … que a esse propósito nos dizia … “Não corro como corria / Não salto como saltava / Mas vejo mais do que via / E sonho mais do que sonhava”.

Há sempre um tempo para partir, mesmo quando não haja um lugar certo para onde ir… assim, é com imensa mágoa que penso que chegou a hora do Dom Finório, comovido e com uma lagriminha no olho, se despedir dos seus leitores, que ao longo de tanto tempo foram tendo a paciência de ler as suas crónicas.

O mérito será muito mais da sua tolerância e paciência do que da pena de quem as escreveu. Dizem os poetas e as canções que tudo tem mais encanto na hora da despedida … mas neste caso … talvez para os leitores assim seja … mas não para quem as escreveu … hoje com um enorme desencanto! Não gostaria de terminar sem referir que se a tanto o destino e o “engenho e a arte” se conjugarem no bom sentido … é bem possível que me possa inspirar no velho princípio de que só há dois dias em que não se pode fazer nada … o ontem … e o amanhã … mesmo assim o amanhã pode ainda alimentar o sonho e a ilusão …  e no caso de vir a ter palavras mais fortes que o silêncio …  embora eu não acredite na reincarnação … é bem possível que o Dom Finório se venha um dia a transfigurar noutro personagem e sorrateiramente … quem sabe … a ressurgir e a reaparecer à luz do dia! Resta-me agradecer ao Jornal “A Voz de Loulé” … à sua Diretora e a todas as pessoas a ele ligadas … algumas infelizmente já não estão entre nós … e à D. Isaura sempre disponível para resolver as dificuldades de última hora … aqui fica o meu muito obrigado pelo vosso acolhimento. Até um dia … quem sabe!?