Várias dezenas de pessoas, incluindo o bispo do Algarve, associaram-se na última sexta-feira à noite, em Ferragudo, à manifestação pública pela paz, promovida pela Cáritas Diocesana do Algarve em colaboração com a paróquia local, integrada na campanha de Natal «10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz», promovida pela Cáritas Portuguesa.

No Largo Rainha D. Leonor teve lugar a concentração onde foi feito o acendimento do fogo a partir do qual foi acesa a “Luz da Paz”, recebida pela paróquia de Ferragudo no passado 13 deste mês, que depois passou a chama às velas de cada pessoa.

Ali, o presidente da Cáritas algarvia considerou que “a paz é um dom de Deus e tem de ser uma ação no dia a dia na vida das pessoas”, lembrando que este mês “o Príncipe da Paz está para chegar”.

Após a marcha que seguiu em silêncio até à igreja matriz para meditação sobre aqueles que sofrem a “ausência da paz nas suas vidas”, Carlos Oliveira destacou o objetivo daquela manifestação. “Quisemos demonstrar que é imperioso falar de paz hoje. Não apenas na paz que significa ausência de guerra, mas naquela que, destruindo barreiras, nos abre o coração”, afirmou, acrescentando que a sociedade precisa de se abrir às “necessidades do outro” e de se empenhar na “construção do bem comum, que vença a indiferença e conquiste a paz”.

Aquele dirigente, que destacou a mensagem do papa para o Dia Mundial da Paz, sublinhou que a construção da paz faz-se “abrindo o coração para com aqueles que, nos últimos tempos, têm vindo a sofrer as dificuldades que o desemprego acarreta e que dificulta a vida familiar”. Carlos Oliveira lembrou ainda “as mulheres vítimas de violência doméstica e que são forçadas a calar o seu sofrimento”, “as crianças vítimas de maus tratos e abandonadas à sua sorte em qualquer país”, “os jovens que se veem a braços com a sua deslocalização para outros países na busca de um primeiro emprego”, “todos os que se encontram fora do seu país e em campos de refugiados ou que procuram novas paragens na Europa que, muitas vezes com um forte pendor xenófobo e racista, tarda em recebê-los com dignidade”.

O bispo do Algarve destacou o significado da participação naquela manifestação. “Estamos aqui porque acreditamos na paz e, sobretudo, porque queremos empenhar-nos em construir a paz”, começou por salientar D. Manuel Quintas, considerando aquele um gesto “muito simples” mas “muito significativo”, que “tem um alcance muito grande” e que “leva Àquele que é o príncipe da paz: Jesus”.

O prelado valorizou a finalidade da campanha de natal. “O pouco conseguirmos, e que se juntará ao pouco de tanta gente por essa Europa fora, certamente vai fazer muito junto desta gente que está a viver os horrores da guerra. Este pouco, certamente minora esse sofrimento, sobretudo o das crianças”, afirmou D. Manuel Quintas.

A ação, este ano, incide no apoio aos que são assistidos pela Cáritas e também na ajuda à população do Médio Oriente. Carlos Oliveira disse no passado dia 13 deste mês que 35% das receitas conseguidas com a venda de velas serão canalizados para ajuda aos refugiados do Líbano. “Trata-se de uma parceria com a Cáritas do Líbano para ajudar na educação e na saúde milhões de refugiados sírios que se encontram em campos daquele país. Segundo nos informou a Caritas do Líbano, as crianças serão potenciais crianças-soldado se não tiverem a educação adequada”, informou o presidente da Cáritas do Algarve.

Os restantes 65% destinam-se a todos aqueles que, em Portugal, são apoiados pela rede Cáritas. Carlos Oliveira disse que o apoio visa o “apetrechamento do banco de ajudas técnicas (camas articuladas, cadeiras de rodas, canadianas, andarilhos) que serão colocados à disposição gratuita de todas comunidades paroquiais que possam precisar”.

A noite terminou com o concerto do Coro de Câmara da Sé de Faro “Cantate Domino”.

Durante a tarde daquele dia foi ainda plantada no jardim fronteiro à igreja uma oliveira, a “Árvore da Paz”, pelas crianças da catequese e por alguns alunos de escolas locais em colaboração com o Agrupamento 413 de Ferragudo do Corpo Nacional de Escutas, tendo sido ainda feita uma largada de balões com uma mensagem de paz.

A Cáritas convida agora cada português a acender na noite de 24 de dezembro, véspera de Natal, a vela adquirida e a colocá-la à janela de casa. As velas estão à venda nas Cáritas Diocesanas e paróquias e também em estabelecimentos comerciais que se associaram à iniciativa, à imagem do que tem sucedido nos últimos anos, e podem ser adquiridas a um preço unitário de um euro ou quatro euros (pack de quatro velas).

A campanha “Dez Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz” teve origem num gesto de reconciliação em Annecy (França) em 1984, alastrando-se mais tarde a toda a França, a toda a Europa e a todo o mundo.

A operação “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz” é uma iniciativa solidária que nasceu em França e que começou a ser promovida em Portugal em 2001, tendo como principal objetivo incentivar a sociedade civil, os cidadãos, a contribuírem para a melhoria das condições de vida de pessoas e povos desfavorecidos, atingidos por fenómenos como a pobreza, a guerra, as catástrofes naturais, as desigualdades sociais.

 

Por: Folha do Domingo

Fotos: Samuel Mendonça