Historiadores recordaram como decorreu todo o processo em Loulé

Loulé retomou esta quarta-feira a tradição de celebrar a Restauração da Independência e, em resposta ao convite da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, a Autarquia levou a cabo um programa comemorativo através do qual foi possível recordar como se desenrolou este acontecimento histórico na então vila de Loulé. Pela voz dos historiadores Luísa Martins e Ricardo Louro e a partir de dois elementos patrimoniais – a Ata de Vereação de 5 de dezembro de 1640 e a lápide evocativa do “voto de ação de graças” de D. João IV –, partiu-se à descoberta do processo que levou à participação da comunidade local nas Cortes de D. João IV.

Após o momento simbólico do hastear da Bandeira, junto à Muralha do Castelo, ouviu-se o Hino Nacional, mas também o Hino da Restauração, interpretados pela Banda Filarmónica Artistas de Minerva. Já em frente à Ermida de Nossa Senhora da Conceição, o autarca Vítor Aleixo realçou a importância desta data para a identidade portuguesa: “Se não fosse a ação daqueles portugueses, naquela data, toda a história teria sido diferente. Felizmente hoje estamos aqui, um povo orgulhoso das suas tradições, da sua Língua, da sua Cultura, da sua História, livre e independente, e isso é um bem extraordinário”.

Mas se este foi um dia de recordar e homenagear aqueles que, a partir dos Paços da Ribeira, em Lisboa, estiveram à frente do golpe palaciano que pôs fim aos 60 anos de domínio espanhol, foi igualmente um momento de trazer à memória os governantes locais de então, “até porque Loulé soube dar resposta imediata áquilo que era solicitado e às exigências que vinham já de Lisboa”, como deu nota a historiadora Luísa Martins.

Graças à Ata de Vereação datada de 5 de dezembro de 1640 é possível testemunhar como Loulé viveu esses dias uma vez que, como explicou a investigadora, o 1 de dezembro de 1640 em Loulé foi um dia normal “do quotidiano”. “Os acontecimentos decorriam em Lisboa, mas, a pouco a pouco, a notícia vai chegando aos municípios do país, nomeadamente aqui a Loulé”. E é precisamente através dessa Ata que é formalizada neste território a Restauração da Independência, mas é igualmente nesse documento que está registado todo o processo que deu origem à eleição dos representantes locais nas Cortes de Lisboa, que viriam a ser celebradas por D. João IV a 20 de janeiro de 1641 (e nos dias subsequentes).

O historiador Ricardo Louro trouxe a este programa comemorativo outro testemunho desse período da História de Portugal e que constitui “um monumento histórico de uma relevância muito grande”. Trata-se da lápide que se encontra na fachada da Ermida de Nossa Senhora da Conceição e que se baseia numa previsão régia de D. João IV, datada de 25 de março de 1646, que corresponde ao momento em que Nossa Senhora da Conceição, a “Imaculada Conceição”, se torna Padroeira de Portugal. “Este é basicamente o texto que o rei comunica às populações das vilas e das cidades, este voto, esta consagração, esta elevação de Nossa Senhora da Conceição a Padroeira de Portugal. Este é um momento muito importante porque corresponde à afirmação política da nova dinastia e do Rei D. João IV”, enfatizou o historiador.

Apesar de lápides como esta terem sido colocadas nas portas de todas as cidades e vilas portuguesas nessa altura, a grande maioria não resistiu aos tempos e a de Loulé é das poucas que se manteve intacta, sendo ainda visível nela as ameias e o loureiro, símbolos da Autarquia de Loulé, constituindo assim mais um marco histórico importante presente no património histórico de Loulé.

 “Cabe-nos a nós, quase 4 séculos depois, aproveitar, com alguma gratidão, a independência que nos foi legada nessa madrugada de 1640 e que nos permitiu sonhar com a liberdade”, disse o presidente da Câmara de Loulé no dia em que a palavra independência esteve em destaque.