André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

As previsões mais recentes do FMI-Fundo Monetário Internacional, revêem o crescimento da economia internacional e europeia em baixa em 2022, e consequentemente também para a economia portuguesa. Assim, o crescimento mundial será de 3,6%, menos 0,8 pontos percentuais do que as previsões anteriores, enquanto que na UE o crescimento será de 2,8%, menos 1,1 pontos percentuais, e a economia portuguesa crescerá 4%, quando na estimativa anterior era de 5%.

É o resultado de um quadro internacional complexo que se alterou significativamente, penalizando a economia europeia, sobretudo em razão da invasão da Ucrânia pela Rússia, quando as economias ainda se estavam a refazer das consequências da Covid 19 e dos estrangulamentos de muitas cadeias de abastecimento, cujos efeitos sobre a inflação já se vinham a fazer sentir.

A pressão sobre os custos energéticos e alguns produtos alimentares, muito particularmente os cereais, cuja dependência da Rússia e da Ucrânia é enorme, está a fazer-se sentir com grande intensidade. Existe o receio fundado de uma espiral de preços e salários, algo com que as economias não convivem bem, e esse seria o maior fator de pressão sobre o Orçamento do Estado para 2022.

A Ucrânia tem as suas exportações bloqueadas nos portos do Sul, por força da invasão, ao mesmo tempo que as condições de produção estão comprometidas. Se considerarmos o facto de muitos países africanos dependerem, a nivel alimentar, das importações de cereais da Ucrânia, a situação torna-se explosiva, pela escassez e forte aumento dos custos. E, mais grave, a guerra na Ucrânia poderá arrastar-se por bastante tempo. A Rússia continua a não ter ganhos de causa que possa justificar internamente a invasão, pelo que não se vislumbra tão cedo uma saída diplomática para cessar o conflito.

Assim sendo, o aumento dos preços da energia e de muitos bens alimentares continuará a fazer-se sentir, afetando o consumo das famílias, enquanto que a incerteza económica afeta o investimento privado. Num quadro em que as sanções da UE possam equacionar o corte das importações de gás da Rússia, a Alemanha, a principal locomotiva da economia europeia, poderia sofrer uma retração no seu crescimento da ordem dos 2 por cento do seu PIB. Não seriam boas notícias.

Mas, também é verdade que é nos momentos difíceis que muitas vezes se tomam as medidas mais difíceis e com maior alcance estratégico. A aceleração da transição energética e o investimento em novos vetores energéticos e a redução drástica da dependência de países menos confiáveis em matéria de segurança energética, como é o caso da Rússia, fazem parte desta equação difícil.