Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos” (Jl 3, 1). Os cristãos vivem o tempo e a sua passagem inexorável, não só na sua dimensão quantitativa, mas também qualitativa. Para lá dos ciclos solares com os seus ritmos, celebram a cada momento a verdade da “plenitude dos tempos”, ou seja, o momento culminante da história do Universo e do género humano quando o Filho de Deus nasceu no mundo. Afirmam que o Eterno é Senhor do tempo. Ele dá sentido a todo o tempo e à nossa vida no tempo. Ele é a verdade e a beleza da profecia a proclamar, o fogo de todos os sonhos a reacender. Foi por Maria, a Virgem Mãe, que a Terra deu os seus frutos, chegou para nós a fonte e a plenitude da vida, o Senhor do Tempo. Ele fez-se como nós, para nos fazer como Ele: filhos no Filho, homens livres da lei do mal e da morte, herdeiros da Vida. Que belo iniciar-se um novo ciclo, um novo ano, com a proteção desta Mulher, que nos oferece o Caminho, a Verdade e a Vida e abre para nós os horizontes da Esperança. É este acontecimento, não nos envergonhemos disso, que preenche o Tempo e a história de valor e de significado. Vivemos há mais de dois mil anos deste acontecimento, que não podemos nem devemos ignorar e a História jamais pode apagar, pois não pode condicionar as opções de Deus. E Ele vem preencher o tempo a partir de dentro, tornando-se pequenina semente para conduzir toda a humanidade à sua plena maturidade. Ele vem dar profundidade e amplitude a todos os nossos sonhos e profecias de paz e de amor com que nos saudamos e acolhemos no principiar de cada ano.  Coloquemos as mais diferenciadas vicissitudes da nossa vida, importantes ou pequenas, simples ou indecifráveis, jubilosas ou tristes, sob o sinal deste Senhor da vida e respondamos decididamente e livres à chamada que Ele nos dirige para nos levar rumo a uma meta que se encontra para além do próprio tempo: a eternidade, onde todos os sonhos ganham plenitude. Como sabe bem revisitar as palavras orantes do poeta José Tolentino de Mendonça: «Dá-nos Senhor, a coragem dos recomeços. / Mesmo nos dias quebrados / faz-nos descobrir limiares límpidos. /Não nos deixes acomodar ao saber daquilo que foi:/ dá-nos largueza de coração para abraçar aquilo que é. /Afasta-nos do repetido/ do juízo mecânico que banaliza a história,/ pois a desventra de qualquer surpresa e esperança./ Torna-nos atónitos como os seres que florescem./ Torna-nos inacabados como quem precisa/ e deseja e antecipa um amanhã./ Torna-nos confiantes/ como os que se atrevem a olhar tudo,/ e a si mesmos,/ com o encanto e a disponibilidade/ de uma primeira vez.» Neste tempo ainda marcado por incertezas e preocupações pelo futuro, experimentemos a presença viva e surpreendente de Deus, abertos à Esperança e à Paz. Façamos que sejam narradas profecias e refloresçam sonhos!