É ENTERNECEDORA a conhecida afirmação de alguém com imensas responsabilidades políticas até 2011 de que resistiu o mais que pôde até a realidade se impor…

Lá dizia o outro: «eu, se mandasse, a realidade não se impunha»…

O problema é que a realidade, em regra, acaba por impor-se – e em 2016, ao contrário do que se anunciava em discursos e promessas, a realidade, para o Algarve, não foi grande espingarda…

Vejamos:

2016 foi o ano em que o Governo deixou cair (em definitivo?) o projecto de ligação da ferrovia ao aeroporto de Faro – não obstante, em tempos bem mais difíceis, ter sido considerada uma obra prioritária para a Região e, como tal, incluída no Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas aprovado em Agosto de 2015.

2016 foi o ano em que se protelaram os prazos previstos para a conclusão da obra de electrificação da Linha do Algarve – não se considerando agora, nos termos do Plano «FERROVIA», que a sua conclusão ocorra antes de 2020…

2016 foi o ano dos sucessivos atrasos e adiamentos na requalificação da EN 125…

2016 foi o ano em que, ao contrário do que prometiam Bloco de Esquerda e Partido Comunista na campanha eleitoral para as eleições de Outubro de 2015, as portagens da Via do Infante não foram abolidas.

2016 foi o ano em que, ao contrário do que prometia o Partido Socialista (que agora é Governo…), o valor das portagens da Via do Infante não foi reduzido em 30 ou 50% -- mas apenas em 15%.

2016 foi o ano em que, já depois do Natal, se acaba de anunciar que as portagens da Via do Infante – em vez da abolição proposta por quem dá suporte parlamentar ao Governo PS, e ao contrário da redução de 30 ou 50% anunciada pelo próprio PS –, afinal, e conforme as respectivas Classes, terão em 2017 um aumento de 15 ou 20 cêntimos, o que corresponderá ao maior aumento de portagens a nível nacional...

2016 foi o ano em que o Orçamento de Estado não considerou um cêntimo de investimento na melhoria das condições de acessibilidade e operacionalidade do porto de Cruzeiros de Portimão.

2016 foi o ano em que a Rede de Rega da Várzea de Odeleite deixou de constar dos planos do Governo para o Regadio Público.

2016 foi o ano em que o Hospital Central do Algarve ficou de fora quando se decidiu sobre a construção de três novos hospitais no País – não obstante, nos termos dos estudos técnicos elaborados em 2006, ter sido considerado como a segunda prioridade a nível nacional.

2016 foi um ano de penalização fiscal para o Alojamento Local – e em que o Orçamento de Estado previu um adicional do IMI que prejudica o turismo residencial e a aquisição de segunda habitação.

2016 foi o ano em que a discussão sobre a descentralização menorizou sempre o Algarve – avaliando-se, no essencial, a existência ou não de condições para avançar com uma Regionalização encapotada em que as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto (e só aí…) teriam a legitimação democrática do voto directo…

2017, portanto, não poderá deixar de ser, por maioria de razão (e em favor dos interesses – de facto – do Algarve), um ano de escrutínio permanente do Governo.

 

NOTA: o autor escreve de acordo com a antiga ortografia.