por Rui Cristina | ruicristina19@gmail.com

A Assembleia da República, que é por definição a casa da democracia, foi o palco de uma sessão em que foram espezinhados os superiores interesses do país e em que o voto dos portugueses, expresso a 4 de outubro, foi ignorado pelas bancadas da esquerda, que se uniram numa coligação negativa.

Para ‘chumbar’ o programa de Governo da Coligação “Portugal à Frente”, partidos que durante os 40 anos da democracia portuguesa nunca se entenderam e, mais do que isso, sempre se digladiaram, descobriram de repente um inusitado interesse comum.

Esta nova aliança negativa, impensável até há algumas semanas devido às manifestas diferenças partidárias, que contudo permanecem, pois o PS viu-se obrigado a assinar três acordos, um por cada partido da esquerda mais radical, abre agora um precedente perigoso.

Afinal, o derrube do Governo de Passos Coelho abre a porta a um novo panorama político, em que não governa quem tem mais votos. Este cenário pode ser matematicamente aceitável e até constitucionalmente possível. Mas falta-lhe a legitimidade do voto dos portugueses que deu, sem sombra de dúvida a vitória nas urnas à coligação Portugal à Frente (PSD/CDS).

Impõe-se a pergunta: Como é possível, num regime democrático, que não governe o partido mais votado?

Como bem referiu o líder social-democrata na sessão da Assembleia da República destinada a discutir o programa de governo apresentado pela coligação PaF “se não me deixam lutar por Portugal à frente do governo, como quiseram os eleitores, lutarei no parlamento” (como líder da oposição).

Esta garantia demonstra o sentido de Estado do Dr. Passos Coelho, que coloca acima de tudo os interesses de Portugal, cujo futuro próximo será certamente instável.

De fato, não se sabe se haverá um governo socialista que, de forma imediata, romperá os acordos com Bruxelas e os credores internacionais, como se ignora onde irá o governo PS e os seus aliados da esquerda radical buscar dinheiro para cumprir as promessas feitas, quando a esquerda quer gastar mais e travar privatizações.

O PS aspira pôr fim à política de rigor orçamental posta em prática depois de 2011 e que permitiu ao país sair da banca rota, situação da qual os socialistas foram responsáveis, e ganhar a credibilidade internacional necessária para poder desenvolver a sua economia de forma sustentada.  

O pacto anti austeridade será aparentemente simpático, mas acarreta um futuro de incerteza e leva Portugal a recuar para era de instabilidade, colocando em risco o sacrifício de todos os portugueses, o qual permitiu ao país voltar aos mercados com confiança.

Na ocasião em que escrevo este texto o futuro do governo português está nas mãos do Presidente da República, que tem de decidir se o atual primeiro ministro permanece no cargo até novas eleições ou se indigita o líder do PS para o cargo.

Aguardemos com serenidade que o Dr. Aníbal Cavaco Silva, cumprindo as suas funções institucionais, faça a melhor escolha para o futuro do país.

 

Por: Rui Cristina | PSD Loulé