O acesso à habitação está a agravar-se em Portugal, sobretudo, desde 2019. São precisos cada vez mais anos de salários para comprar casa no nosso país, num momento em que os preços das habitações não param de crescer e os rendimentos, contudo, não sobem ao mesmo ritmo e estão pressionados pela alta inflação. Em 2022, passaram a ser precisos 9,6 anos de rendimento disponível per capita para comprar uma casa de 100 metros quadrados (m2), mais quase um ano que em 2021 e cerca de mais dois anos face a 2019.
No nosso país, os preços das casas para comprar continuaram a subir apesar da pandemia e da guerra na Ucrânia. "Na última década, em Portugal, os preços das casas duplicaram em termos nominais, tendo nos últimos três anos, 2020 a 2022, registado um aumento de 34%", observou a Comissão Europeia (CE) no relatório mais recente sobre Portugal. Só em 2022, "os preços subiram cerca de 13%", apontam.
Mas os rendimentos das famílias não acompanharam esta evolução a pique – e até foram pressionados pela alta inflação que se fez sentir. E, em resultado, o acesso à habitação agravou-se – e muito. É isso que mostram os dados da CE citados pelo Jornal de Negócios: para adquirir uma habitação de 100 m2 em 2022 uma família passou a ter de despender de 9,6 anos de rendimento disponível, mais quase um ano do que em 2021.É desde 2019 – altura em que os preços das casas já estavam em alta – que a acessibilidade da habitação em Portugal mais se tem agravado. As famílias precisavam de 7,5 anos de salários disponíveis para comprar uma casa de 100 m2 em 2019. E com o passar do tempo foram precisando acumular mais dois anos de rendimento disponível per capita para adquirir a mesma habitação, mostra a mesma publicação.
Indo mais longe, nas duas últimas décadas nunca foram precisos tantos anos de salários disponíveis para comprar uma casa de 100 m2 como em 2022. Os 9,6 anos de salários necessários para fazê-lo durante o ano passado contrastam com a média de 6,6 anos registada entre 2008 e 2012 (+3 anos). E ainda com a média de 7,1 anos de rendimentos disponíveis apurada para o período de 2003 e 2007 (+2,5 anos), mostram os mesmos dados.
E poderá a acessibilidade da habitação em Portugal agravar-se ainda mais? Ao que tudo indica, há essa possibilidade. Os preços das casas para comprar continuam a crescer em 2023, embora a um ritmo mais lento dado o arrefecimento da procura por via da subida dos juros nos créditos habitação. E “é improvável uma redução acentuada dos preços da habitação” num futuro próximo, aponta a CE.
Isto porque “continuarão a existir restrições à oferta que reduzem a margem para uma redução substancial dos preços", nomeadamente "num contexto de forte procura de imóveis por parte de investidores estrangeiros", destacou ainda a CE no documento.
Por: Idealista